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Hela estava nervosa, iria até a tenda do pai para tentar encontrar o pequeno baú onde pediu que Forkas guardasse o colar, um baú com uma trança mágica que apenas ela poderia abrir já que só abria com uma gota de seu sangue, então, nem Cantius e muito menos Sabira oosehyiruam abrir o objeto, não conseguiriam ter acesso ao colar que estava dentro dele, o colar com o feitiço de pó de estrela de podia atravessar mundos e levaria Hela e sua família para Velaris, para a casa que ela fora obrigada a abandonar.

Com Essie amarrada em seu colo com o auxílio das faixas, Hela fora até a tenda do pai e da madrasta e assim que entrou viu Sabira na cozinha improvisada, de costas enquanto parecia preparar algo. Hela se aproximou vagasoamente, como um leão da montanha se aproximando da presa desavisada, os olhos cinza esverdeados da fêmea eram de um assassino, ela estava pronta para pegar Sabira por tras, colocar a lâmina de uma de suas adagas na garganta da karjaal e obriga-la a dizer onde estava o baú com o colar. Mas então Sabira se virou pegando Hela de surpresa.

— Ah! Aí está você! — disse a fêmea felina sorrindo e então curvou o corpo para frente ficando já altura de Essie no peito de Hela. — Como está a nossa princesa?

— Está... Está bem— repsondeu Hela com as mãos nas costas da bebê adormecida.

— Quando Arón chegou com ela e seu pai sentiu seu cheiro nela... Nunca vi Cantius tão irado — disse Sabira voltando a postura. — Mesmo Arón dizendo que pegando a bebê fosse trazer você até nós não adiantou com a raiva que seu pai sentiu... Foi realmente uma coisa horrível — a karjaal deu as costas novamente a Hela voltando a atenção ao que estava preparando.

— Seu cheiro é realmente muito forte nela, parece até que ela veio de você — continuou Sabira.

— Eu amamento ela — respondeu Hela fazendo a madrasta parar e olha-la por cima do ombro.

— E ela não corre risco com isso?

— Por que ela correria riscos?

— Não se esqueça o que tem no seu sangue — continuou Sabira voltando a atividade. — Talvez seja possível que o seu leite transmita partículas do soro negro a ela.

— Se fosse algo que a fizesse mal já teria feito, eu penso — disse Hela repsirsndo fundo e um cheiro delicioso e delicado preencheu seu olfato, calmomila, erva-doce, louro, leite, mel... Algo que ela nunca sentiu antes. — O que está fazendo?

— Sais de banho para ela — disse Sabira sorrindo. — Coloque isso na banheira de água morninha e ela ficará totalmente relaxada. E também mais saudável... Peguei essas receitas quando engravidei de seu pai, mas infelizmente nossos bebês nunca vingaram... Nossas morfologias são muito distintas, então, nossas crias nunca chegaram a três meses no meu ventre.

A karjaal colocava os saia em potes de vidro com tampa de madeira de cedro.

— E como vocês agora vão ficar eu estou fazendo vários, com vários cheiros — havia um sorriso doce e um brilho cheio de amor dos olhos daquela fêmea.

Hela então olhou para Essie que movimentava a boca enquanto sonhava assim como os dedinhos das mãos. Hela não teve mãe, a mãe biológica a vendeu para o calabouço quando tinha apenas quatro anos de idade, a vida toda ela não teve uma figura materna presente, tudo o que teve próximo de um pai fora o antigo líder da rebelião, um humano que havia morrido em seus braços após uma batalha sangrenta e então há cinquenta anos depois que fora resgatada do Jogo dos Sete, Hela conheceu Sabira que a cuidou como uma verdadeira mãe, que curava suas feridas, que a acalentava quando tinha pesadelos, que escutava a palavras vindas de seu coração partido por ter deixado Nyx.

Sabira fora a única mãe que Hela teve em toda sua vida e por cinquenta anos.

A mestiça então engoliu em seco e mordeu o lábio inferior escorrendo os dentes e sem olhar para a madrasta disse:

— Não vamos ficar — falou baixinho fazendo Sabira parar por um instante enquanto colocava os saia nos potes. — Queremos partir, hoje a noite.

A karjaal soltou a colher de pau que usava e respirou fundo fazendo seus ombros subir e descer.

— Eu sei que não quer isso, sei que acham que meu lugar é aqui, mas eu não sinto isso e agora que tenho a Essie... Não quero que ela cresça num mundo onde a guerra não vai terminar tão cedo, podemos acabar com os Maiorais, mas eu sei que tudo isso está longe de acabar, haverão mais guerras por quem irá liderar, mais sangue, mais morte e eu não quero isso para ela... Prythian é o melhor lugar para Essie crescer bem e...

— Eu sei — respondeu Sabira com a voz firme, mas era notável que seus ombros tremiam. — Fomos uma família por cinquenta anos, Hela, eu sei o que é melhor para você...

— Mas naquela hora com o meu pai...

— Acha que ele iria me perdoar se eu ficasse do seu lado? — a karjaal disse voltou para a enteada. — Você é fruto do maior amor que ele sentiu, da humana que ele até mesmo iria deixar a imortalidade, por mais que ela não valesse uma moeda de cobre, ele a amava de verdade e quando te viu e soube que era fruto daquele sentimento que um dia ele sentiu... Ele te vê como a melhor coisa que ele já fez na vida e não quer perde-la, como perdeu a sua mãe.

— Então irá tentar me impedir?

— Não — os olhos de Sabira estavam cheios de lágrimas e então ela se aproximou de Hela, levando as mãos aos braços da entrada e os afagando. — Eu sei que quero a sua felicidade e se ela está com aquele macho e em outro mundo... Eu não vou te impedir de ser feliz. Eu amo você, como se você fosse minha — os olhos felinos desceram para Essie e Hela respirou fundo prendendo as lágrimas nos olhos, mas não hesitou em abraçar Sabira que desabou em choro. Assim como Sabira fora como uma mãe que Hela nunca teve, a mestiça fora como uma filha que ela nunca conseguiu ter.

Corte de Asas Perdidas. CONCLUÍDO. Onde histórias criam vida. Descubra agora