Dessa vez papai usou uma artilharia pesada para me tirar da empresa. Ele pensa que eu não sei qual é a sua intenção. Vive falando que preciso sair mais, namorar mais, me divertir mais. Ultimamente ele colocou na cabeça que quer herdeiros. Sugeri que ele adote vários deles. Ajudaria a sociedade e ele teria menos tempo para implicar comigo.
— E aí, Guto. Como foi com o velho Robert?
— Gostei do seu pai. Suas ideias são bem interessantes. — Eu sei bem: Amapola fazendo filhos com Enrico. Muito interessante. Dessa vez eu não vou atrapalhar seus planos. Vou deixá-lo pensar que estou caindo nas suas armadilhas.
— Meu pai é um visionário. Chega aí, estamos discutindo sobre os defeitos do carro que testamos. O Mike é o técnico de pista, que você já conheceu. Sander é o engenheiro que comanda os acertos dos carros antes de começarmos os testes nas estradas. — Guto cumprimenta a todos e eu começo a explicar o que senti no carro.
Ao encerrar o dia, saio um pouco mais cedo para encontrar Enrico. Quando estou no meio do caminho para sua casa, o celular toca e eu atendo no bluetooth.
— Oi, amor.
— Ama, vou precisar acudir minha mãe. — De novo, essa mulher atrapalhando nosso encontro. Nem posso reclamar, pois Enrico acha que estou de implicância.
— O que aconteceu dessa vez, Enrico?
— Parece que ela se queimou aquecendo água para o chá. você fica muito brava comigo se eu for lá, Ama? — Bufo, mas finjo que tudo está bem.
— Vai lá. Quem esperou quatro dias espera mais um dia. Depois me avise o que aconteceu.
— Se eu sair de lá rápido, passo na sua casa. — Eu sei que isso não vai acontecer. A sogrinha vai choramingar e ele vai passar a noite com ela.
Desligo o telefone chateada e resolvo parar na minha lanchonete preferida e comer um lanche, já que estou perto. Minha lanchonete favorita parece uma garagem de carros, toda decorada nos anos sessenta. Acho que é por isso que acabo vindo sempre no mesmo lugar. Me sinto praticamente em casa. Quando empurro a porta, Jeffie já me aborda.
— Oi, princesinha. Hoje não é dia de comer hambúrguer. Algum problema? — Dou um abraço de urso nele.
— Levei um toco, Jeffie. Só mesmo um pouco de gordura para me fazer esquecer.
— Que homem idiota te deixou sozinha em uma sexta-feira à noite?
— O mesmo de sempre. Surgiu um imprevisto. Sabe que Enrico tem uma mãe complicada.
— Só que sua mesa tá ocupada, gatinha. Mas o Guto não deve demorar a sair. — Quando Jeffie falou Guto, achei muita coincidência.
— Não vai me dizer que você deu a minha mesa para Guto Speranzi, o piloto.
— Na verdade, vocês revezam essa mesa há algum tempo. Sabe que sexta-feira não é seu dia aqui e Guto vem toda sexta-feira. Então tecnicamente ele é o dono da mesa hoje.
— Estou brincando. Mesmo assim vou até lá perguntar se ele vai demorar. — Caminho até a minha pseudomesa, olhando curiosa. Guto está de costas para a porta de entrada, alheio a minha presença, tomando uma Coca-Cola.
— Com licença, senhor. Poderia me dar um autógrafo? — Ele vira a cabeça e sorri para mim. Sua boca está suja de maionese e eu me controlo para não passar a mão na sua boca e limpar.
— Autógrafo eu não costumo dar, senhorita. Posso te pagar um lanche, se quiser.
— Se eu sentar com você, jura que não vou te atrapalhar? É meio que sagrado sentar aqui. — Ele aponta o sofá e eu sento, ficando frente para ele.
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PAIXÃO NO RETROVISOR
RomanceNunca imaginei que eu, Augusto Speranzi, bicampeão de Fórmula 3, apreciaria ser comandado por uma mulher no meu novo emprego de piloto de testes. Depois de passar três anos sendo pisoteado por uma, as mulheres passaram a ser apenas companhia de uma...