4- AMAPOLA FISCHER

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Dessa vez papai usou uma artilharia pesada para me tirar da empresa. Ele pensa que eu não sei qual é a sua intenção. Vive falando que preciso sair mais, namorar mais, me divertir mais. Ultimamente ele colocou na cabeça que quer herdeiros. Sugeri que ele adote vários deles. Ajudaria a sociedade e ele teria menos tempo para implicar comigo.

— E aí, Guto. Como foi com o velho Robert?

— Gostei do seu pai. Suas ideias são bem interessantes. — Eu sei bem: Amapola fazendo filhos com Enrico. Muito interessante. Dessa vez eu não vou atrapalhar seus planos. Vou deixá-lo pensar que estou caindo nas suas armadilhas.

— Meu pai é um visionário. Chega aí, estamos discutindo sobre os defeitos do carro que testamos. O Mike é o técnico de pista, que você já conheceu. Sander é o engenheiro que comanda os acertos dos carros antes de começarmos os testes nas estradas. — Guto cumprimenta a todos e eu começo a explicar o que senti no carro.

Ao encerrar o dia, saio um pouco mais cedo para encontrar Enrico. Quando estou no meio do caminho para sua casa, o celular toca e eu atendo no bluetooth.

— Oi, amor.

— Ama, vou precisar acudir minha mãe. — De novo, essa mulher atrapalhando nosso encontro. Nem posso reclamar, pois Enrico acha que estou de implicância.

— O que aconteceu dessa vez, Enrico?

— Parece que ela se queimou aquecendo água para o chá. você fica muito brava comigo se eu for lá, Ama? — Bufo, mas finjo que tudo está bem.

— Vai lá. Quem esperou quatro dias espera mais um dia. Depois me avise o que aconteceu.

— Se eu sair de lá rápido, passo na sua casa. — Eu sei que isso não vai acontecer. A sogrinha vai choramingar e ele vai passar a noite com ela.

Desligo o telefone chateada e resolvo parar na minha lanchonete preferida e comer um lanche, já que estou perto. Minha lanchonete favorita parece uma garagem de carros, toda decorada nos anos sessenta. Acho que é por isso que acabo vindo sempre no mesmo lugar. Me sinto praticamente em casa. Quando empurro a porta, Jeffie já me aborda.

— Oi, princesinha. Hoje não é dia de comer hambúrguer. Algum problema? — Dou um abraço de urso nele.

— Levei um toco, Jeffie. Só mesmo um pouco de gordura para me fazer esquecer.

— Que homem idiota te deixou sozinha em uma sexta-feira à noite?

— O mesmo de sempre. Surgiu um imprevisto. Sabe que Enrico tem uma mãe complicada.

— Só que sua mesa tá ocupada, gatinha. Mas o Guto não deve demorar a sair. — Quando Jeffie falou Guto, achei muita coincidência.

— Não vai me dizer que você deu a minha mesa para Guto Speranzi, o piloto.

— Na verdade, vocês revezam essa mesa há algum tempo. Sabe que sexta-feira não é seu dia aqui e Guto vem toda sexta-feira. Então tecnicamente ele é o dono da mesa hoje.

— Estou brincando. Mesmo assim vou até lá perguntar se ele vai demorar. — Caminho até a minha pseudomesa, olhando curiosa. Guto está de costas para a porta de entrada, alheio a minha presença, tomando uma Coca-Cola.

— Com licença, senhor. Poderia me dar um autógrafo? — Ele vira a cabeça e sorri para mim. Sua boca está suja de maionese e eu me controlo para não passar a mão na sua boca e limpar.

— Autógrafo eu não costumo dar, senhorita. Posso te pagar um lanche, se quiser.

— Se eu sentar com você, jura que não vou te atrapalhar? É meio que sagrado sentar aqui. — Ele aponta o sofá e eu sento, ficando frente para ele.

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