17- AMAPOLA FISCHER

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A viagem a Nova Iorque só não começou perfeita porque tenho receio de como será a reação dele quando souber o que viemos fazer aqui.

Vamos para o hotel em que ficaremos hospedados e alego uma dor de cabeça para não descer para o jantar. Combino de encontrá-lo às oito horas para um pequeno desjejum e depois irmos para a reunião.

Somente no táxi é que começo a dar pistas do que nos espera.

— Conhece Frederic Hans? — Começo a especular seus conhecimentos.

— Não pessoalmente, mas sou fã dos seus designs de carros de corrida — ele responde de pronto e não percebe o que isso implica. O táxi para em frente ao prédio onde ocorrerá a reunião. Descemos.

— Eu também não o conheço pessoalmente. Vamos conhecê-lo juntos.

— Ele mudou de área? Está desenhando carros de rua agora? — Entregamos nossos documentos na recepção para o cadastro de entrada. Assim que nos liberam, pegamos o elevador.

— Não, Guto. Ele continua desenhando carros de corrida.

— Não está satisfeita com o seu? — Agora sim, a resposta derradeira. Nessa hora já estamos na sala da recepção dele.

— Amo meu carro. Uma hora até te conto a história dele. Vou comprar mais um carro de corrida. Não quero ser mais sozinha na equipe. Quero alguém correndo comigo. — A porta da sala se abre no mesmo instante que ele me fuzila com o olhar.

Não há tempo para questionamentos, Frederic nos convida a entrar. A sua sala é maravilhosa, cheia de fotos de carros dos mais variados estilos. Eu me apaixono por ele imediatamente. É um homem sensível, encantador e apesar de estar com um homem furioso ao meu lado, relaxo quando vejo os seus desenhos.

Ele passa os slides, explicando cada design desenhado por ele. Até Guto parece interessado na explanação. Quando ele coloca um carro preto, imponente, com linhas marcantes, eu já sei que ele é o meu carro. Frederic continua explicando detalhes e meus olhos encontram os dele na penumbra. Estão vivos, brilhantes e mesmo tenso eu sei que ele se conectou a máquina. Frederic foi até o fim, apenas porque podia aparecer outro modelo tão interessante quanto o outro.

Não houve. Não aconteceu com nenhum outro. Frederic levanta e diz:

— Vou deixá-los à vontade. Volto em dez minutos. Nada de roubar a minha ideia, senhorita Fischer. — Quando ele fecha a porta, Guto explode.

— Porra, Amapola. Que merda está acontecendo aqui?

— Estou escolhendo um carro novo para a minha equipe. Você é meu piloto de testes e está aqui para me ajudar. Algum problema? — Parece um bicho enjaulado.

— Eu te conheço, Amapola Fischer. Não vou cair no seu joguinho. Eu não vou ser o seu companheiro de equipe, pode esquecer. Perdeu o seu tempo.

— Augusto Speranzi, eu sou a chefa aqui. Eu vim para comprar um design porque quero o carro pronto para a nova temporada. Está aqui como o meu piloto de testes e vai testar esse carro até ele ficar perfeito. Não estou te chamando para pilotá-lo profissionalmente. Preciso ser mais clara que isso? — Ele me olha assustado. Nunca falei tão ríspida com ele.

— Não, você foi bastante clara.

— Eu vou ficar com o preto, alguma objeção? Ele tem algo que o desabone? — Seu peito enche de ar e ele expira, está nervoso, cheio de raiva.

— O preto é perfeito, chefa. — Frisa bem a palavra chefa.

— Ótimo, está dispensado. Vá esfriar a cabeça enquanto finalizo os detalhes. Depois conversamos. — Frederic volta a sala.

— Com licença, senhorita. — Guto faz uma reverência e sai pisando duro da sala.

— Guto Speranzi não mudou de gênio mesmo fora das pistas.

— Vou ficar com o design do carro preto, Frederic. Podemos acertar os detalhes?

— Vou mandar providenciar o contrato. Fez uma ótima escolha. — Quando saio do escritório de Frederic já são quatro horas da tarde. Chamo um táxi e peço para me levar ao endereço do Enrico. Talvez eu tenha uma noite mais agradável do que a tensa manhã que vivi.

Chego ao escritório de Enrico, dou sorte de encontrar um amigo em comum que também trabalha com ele no Brasil. Ele me autoriza a subir. A sala do Enrico fica no segundo andar. Quando acho a sala, não encontro ninguém na mesa da secretária. É... parece que ter mudado a secretária de setor é mesmo verdade. Bato de leve e abro a porta sem imaginar que o que eu veria seria uma cena de filme pornográfico.

Uma mulher, que deduzo ser a secretária da noite da bebedeira está nua em cima da mesa, sobre os papéis que nem foram atirados ao chão. Ela está com as pernas arreganhadas enquanto meu noivo enfia o pau com força dentro dela, segurando os seus seios enormes.

Ele nunca fodeu assim comigo, com tanto tesão, tanto desejo. Isso que faz as minhas lágrimas rolarem. Não foi o sexo em si, foi a entrega do homem copulando que só agora vê que foi pego.

— Amapola? — Apavorado tira o pau de dentro dela que jorra esperma por todos os lados. Sem proteção.

— Está surpreso, querido? — Saio dali correndo e nem espero o elevador. Uso as escadas.

Na rua aceno para o primeiro táxi que vejo. Informo o nome do hotel e vou tentando me acalmar durante o caminho. Como ele dizia me amar, se nunca fez sexo comigo dessa maneira? Enrico sempre foi comedido, respeitador, até pudico demais e eu achei que isso era por amor. Isso era por não sentir tesão por mim. Estava ao meu lado, mas não me dava tudo de si. Tenho uma parcela de culpa por também não ter dado tudo de mim. Só que dói, dói saber de algo assim dessa maneira. Quando eu pedi um tempo, Enrico seguiu sua vida e eu? Eu fiquei amarrada a essa relação falida, escondendo um desejo forte e verdadeiro por um homem honrado.

Será que o problema é comigo? Será que eu sou uma pessoa fria e sem emoções?

Chego ao hotel cheia de dúvidas e pego o elevador, preciso ir para o meu quarto pensar em tudo que presenciei.

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