19 - AMAPOLA FISCHER

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Sempre ouvi falar que a raiva é má conselheira. Comprovei de uma maneira errada, porém, deliciosamente prazerosa.

Só a pressão que ele está exercendo há dois dias que está difícil de controlar. Depois que voltamos de Nova Iorque eu me fechei totalmente. Não sei o que falar e nem como agir. Não sei o que somos ou mesmo o que seremos. Minha mente está confusa demais porque Augusto Speranzi me mostrou que posso sentir prazer, um que eu nem sabia que existia em mim e que era possível de acontecer.

Estou sonhando acordada, quando vejo meu pai invadir a minha sala.

— Você pode me explicar o que está acontecendo, Amapola? Faz três dias que Enrico tenta falar com você e você não atende as suas ligações.

— Nosso noivado acabou, papai. Eu não quero falar com ele e nem discutir com você na empresa sobre esse assunto.

— Posso saber por que estou sendo o último a ser comunicado?

— Engano seu. A não ser o Guto, ninguém sabe sobre isso.

— Ahh...., o piloto sabe e seu pai não. Muito interessante isso. — Robert sai da minha sala como um furacão e grita no corredor.

— Mandem o Guto subir na minha sala agora. Mande parar o que estiver fazendo e subir imediatamente. — Vejo Alex correndo pelo corredor atrás dele.

Em cinco minutos, Guto passa andando apressado em direção ao elevador. Deixo-o subir e vou na mesma direção. Ninguém vai falar de mim pelas costas. Aperto o botão várias vezes, nervosa com o rumo da conversa. Guto não fechou a porta e ouço o que eles falam antes de entrar.

— Eu mandei você ajudar a Amapola a ficar com mais tempo livre e ela termina o noivado com Enrico. Ainda diz na minha cara que você é o único que sabia disso. Tem algo que vocês estão esquecendo de me contar? Odeio fazer papel de idiota.

— Robert, eu só sei que ela pediu um tempo para ele. Estava confusa, apenas isso. Não converso sobre isso com ela. — Resolvo entrar na sala.

— Eu não falei para o senhor que conversamos em casa mais tarde. Por que tirou o piloto do seu trabalho? Ele sabe o que acabou de te falar, só isso. Ele nem sabe que Enrico é carta fora do baralho. — Guto me encara, com essa informação nova.

— E desde quando ele é carta fora, Amapola? — ele me questiona, seu olhar ávido me incendeia.

— Há alguns dias.

— Quantos dias, quero saber exatamente quantos dias ele tá fora da sua vida?

— O que importa isso? — Seu olhar me assusta. — Desde terça-feira para ser mais precisa. — Ele bufa e meu pai ri gostoso.

— Acho melhor vocês conversarem lá fora. Eu já entendi que Enrico era pouco combustível para seu tanque, querida. Vão, vão, preciso assinar uns documentos importantes. — Saio da sala irada por ter exposto a meu pai que algo está acontecendo entre mim e o piloto.

Entro no elevador e ele entra atrás.

— Você me deve explicações, Amapola.

— Por quê? Fizemos sexo. Você quer conversar com todas que já fodeu?

— Você é diferente. — Meu coração dispara no peito. — Você é minha chefe, porra. — Sinto uma pontinha de decepção por ser diferente nesse quesito. Imaginei que a diferença seria outra. O elevador abre e vou para minha sala, com ele na minha cola. Entro e ele entra atrás, fechando a porta.

— O que quer saber?

— O que aconteceu em Nova Iorque antes de você invadir o meu quarto.

— Fiz uma visita surpresa ao meu noivo. Estava disposta a reatar o noivado. — Ele fica chocado.

— Agora minha cabeça deu um nó. Você está me dizendo que ao invés de reatar com o seu noivo, entrou em meu quarto e me ofereceu o seu corpo? Que se deitou na minha cama cheia de sentimentos por outro?

— Peguei Enrico fodendo com a secretária em cima da sua mesa. — Respiro fundo encarando seu rosto crispado.

— Não acredito que você me usou para não se sentir rejeitada.

— Você está sendo cruel.

— Você foi cruel comigo fazendo isso. O que é, olho por olho, dente por dente?

— Ele nunca transou comigo daquele jeito, porra. Ele nunca me tratou com tanto desejo, tanto tesão. Eu invejei a mulher que estava embaixo dele. Eu queria que alguém me desejasse daquela maneira. Eu só queria que alguém me visse como uma mulher delicada, que precisa de afeto e que precisa de atenção. Eu não sou só uma mulher de negócios, uma mulher que pilota carros em velocidade, eu tenho desejos, tenho vontades.

— Amapola...

— Cale a boca. Você não queria saber? Agora escuta. É isso aí, desde aquele dia na casa do meu pai, onde você me proporcionou o melhor orgasmo da minha vida, eu queria me sentir assim de novo. Quando eu vi Enrico dando para uma qualquer o que eu queria receber, não pensei muito. Fui buscar onde eu sabia que acharia. Agora não sei se fiz correto e não sei bem lidar com isso.

— Desculpe, eu não sabia que tinha tantas coisas na sua cabeça naquele dia. Nem sabia que você queria respostas e me usou para isso. Também não sei lidar com isso. Com licença, chefa. — Ele sai e eu fico ali sem rumo. Acho que um homem não gosta de ouvir que foi usado. Acho que ele não gostou de saber que eu só queria sexo.

Devia ter pensado melhor. O envolvimento com alguém do trabalho não ajuda. Como vamos manter o que aconteceu entre nós do lado de fora? Vou ter que descobrir no dia a dia.

PAIXÃO NO RETROVISOROnde histórias criam vida. Descubra agora