— Macari, preciso respirar. Você segura as pontas aí?
— Beleza, Guto. O carro vai demorar ainda. — Pego a pista sentido contrário.
Quando que eu ia pensar que ela estava me usando em Nova Iorque. Usou-me e eu caí de boca no que ela me oferecia. Por que foder uma mulher está me deixando tão estressado? Já peguei dezenas delas e nem sempre eu que as usei. Também já houve momentos que elas me usaram. Por que com Amapola é diferente?
Porque eu não esperava ser usado por ela. Nem quero me importar com o que rolou ou o que ela sofreu ao ver o filho da puta com outra, só que não consigo ser indiferente. Acelero os passos e quando vejo estou correndo na pista. Só paro quando atinjo meu limite. Arranco a camisa e grito com todo ar dos pulmões.
Aí a minha adrenalina vai baixando. Vou até uma árvore e me deito embaixo dela. A grama pinica, mas não me importo. Olhar o céu azul e as poucas nuvens se movimentando me acalma. Escuto o ronco do carro dela acelerando forte na pista.
Sento-me para vê-la passar.
Qual mulher que resolve as suas mazelas na pista?
A minha. Sei que ela não é minha, porém, decido que sou eu que vou cuidar dos seus desejos secretos sem que ela perceba.
Em minutos ela completa outra volta e para na minha frente com um cavalo de pau. Desce do carro e arranca o capacete. Se achei que os seus cabelos estavam presos, errei feio. Estão soltos e desalinhados. Não me movo. Ela caminha graciosamente e coloca as mãos na cintura.
— Não acha que tem muito serviço na oficina para ficar de moleza na sombra?
— Agora você vai mesmo exercer a sua tirania. Só estou tomando um ar, chefa. Senão era capaz de quebrar a cara de um.
— Não seria justo, porque sua raiva tem direção.
— Você disse uma verdade. Se tenho raiva de algo tenho que mirar nesse alvo. — Levanto-me rapidamente, não dando espaço para ela fugir. Ela se desequilibra e cai, e eu a prendo entre o meu corpo e a grama.
— Tá maluco, piloto?
— Estou irado com você, Amapola, e ao invés de se afastar veio me provocar.
— Vim buscar meu empregado. Não gosto de corpo mole. — Agarro sua mão e coloco sobre o meu pênis duro.
— Nesse corpo não tem nada de mole.
— Guto...
— Já está gemendo, Amapola..., mas eu nem comecei. — Beijo sua boca ferozmente e a maldita corresponde agarrando meus cabelos. Aperta o meu pau sem vergonha nenhuma e alisa meu peito, puxando meus pelos com força.
— Caralho, Ama. Isso é covardia, você está de macacão.
— Isso é empecilho para um fodido igual a você? — Ela me encara. Não sei se está me testando ou se quer que eu vá até o fim. Não, não vou cair na pilha dela.
— Eu não trouxe preservativo para o meu passeio.
— Tem medo de fazer um filho em mim? — Amapola me afronta, sem saber que esse é um assunto que mexe muito comigo.
— Não. Tenho medo que você tire esse filho para não estragar sua vidinha regrada. — O silêncio é sepulcral.
Levanto-me do chão e tento me arrumar, vestindo a camisa. Ela também se ajeita sem dizer nada.
— Sinto muito. — Ela levanta os olhos e vejo dor na sua íris verde.
— Eu nunca serei igual a sua ex-mulher, Speranzi. Entre no carro. Quero que você teste meu carro até que ele esteja perfeito. Semana que vem ele ganha a estrada e é você que vai pilotá-lo.
— Vou a pé.
— Você vai no carro. — Ela joga a chave na minha mão e se senta no banco do passageiro. Não tenho outra saída a não ser obedecer. Quando paro o carro na entrada da garagem ela diz:
— Não é porque eu te usei que você tem que foder com a minha cabeça. Vou procurar ficar fora do seu caminho. — Desce e bate à porta, indo para o laboratório. Sander vem em minha direção.
— Brigaram?
— Amapola tem um gênio difícil.
— Estava brava e deu ordens expressas para que mesmo que a noite caísse, ninguém deveria ir buscar vocês. — Então ela foi disposta a se acertar comigo? Talvez transar embaixo da árvore ou mesmo dentro do seu carro.
E agora, as coisas se complicaram mais ainda.
Os últimos dez dias foram terríveis. Parece que ela resolveu descontar toda a sua raiva na pista. Testei mais carros nessa semana do que a vida inteira. Amapola falou comigo somente o estritamente necessário. Eu sabia que ficaria difícil a convivência, mas está quase impraticável trabalhar ao seu lado.
Aliado a isso, ela resolveu exibir partes do seu lindo corpo, vestindo cada dia uma roupa mais reveladora que a outra. Meu mantra era: eu mereço isso.
O que está aguçando a minha curiosidade é as horas que tem passado na sala da engenharia. Sem conseguir me controlar, pergunto para o Mike o que está rolando.
— Estamos proibidos de entrar lá. Ouvi uma conversinha de que estão criando um novo carro.
— De rua?
— Não, parece que é de corrida. Sabe como é, tudo especulação. — Volto para a garagem com a intuição de que eles estão montando o carro preto. Preciso ver isso com meus próprios olhos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
PAIXÃO NO RETROVISOR
RomantizmNunca imaginei que eu, Augusto Speranzi, bicampeão de Fórmula 3, apreciaria ser comandado por uma mulher no meu novo emprego de piloto de testes. Depois de passar três anos sendo pisoteado por uma, as mulheres passaram a ser apenas companhia de uma...