20 - AUGUSTO SPERANZI

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— Macari, preciso respirar. Você segura as pontas aí?

— Beleza, Guto. O carro vai demorar ainda. — Pego a pista sentido contrário.

Quando que eu ia pensar que ela estava me usando em Nova Iorque. Usou-me e eu caí de boca no que ela me oferecia. Por que foder uma mulher está me deixando tão estressado? Já peguei dezenas delas e nem sempre eu que as usei. Também já houve momentos que elas me usaram. Por que com Amapola é diferente?

Porque eu não esperava ser usado por ela. Nem quero me importar com o que rolou ou o que ela sofreu ao ver o filho da puta com outra, só que não consigo ser indiferente. Acelero os passos e quando vejo estou correndo na pista. Só paro quando atinjo meu limite. Arranco a camisa e grito com todo ar dos pulmões.

Aí a minha adrenalina vai baixando. Vou até uma árvore e me deito embaixo dela. A grama pinica, mas não me importo. Olhar o céu azul e as poucas nuvens se movimentando me acalma. Escuto o ronco do carro dela acelerando forte na pista.

Sento-me para vê-la passar.

Qual mulher que resolve as suas mazelas na pista?

A minha. Sei que ela não é minha, porém, decido que sou eu que vou cuidar dos seus desejos secretos sem que ela perceba.

Em minutos ela completa outra volta e para na minha frente com um cavalo de pau. Desce do carro e arranca o capacete. Se achei que os seus cabelos estavam presos, errei feio. Estão soltos e desalinhados. Não me movo. Ela caminha graciosamente e coloca as mãos na cintura.

— Não acha que tem muito serviço na oficina para ficar de moleza na sombra?

— Agora você vai mesmo exercer a sua tirania. Só estou tomando um ar, chefa. Senão era capaz de quebrar a cara de um.

— Não seria justo, porque sua raiva tem direção.

— Você disse uma verdade. Se tenho raiva de algo tenho que mirar nesse alvo. — Levanto-me rapidamente, não dando espaço para ela fugir. Ela se desequilibra e cai, e eu a prendo entre o meu corpo e a grama.

— Tá maluco, piloto?

— Estou irado com você, Amapola, e ao invés de se afastar veio me provocar.

— Vim buscar meu empregado. Não gosto de corpo mole. — Agarro sua mão e coloco sobre o meu pênis duro.

— Nesse corpo não tem nada de mole.

— Guto...

— Já está gemendo, Amapola..., mas eu nem comecei. — Beijo sua boca ferozmente e a maldita corresponde agarrando meus cabelos. Aperta o meu pau sem vergonha nenhuma e alisa meu peito, puxando meus pelos com força.

— Caralho, Ama. Isso é covardia, você está de macacão.

— Isso é empecilho para um fodido igual a você? — Ela me encara. Não sei se está me testando ou se quer que eu vá até o fim. Não, não vou cair na pilha dela.

— Eu não trouxe preservativo para o meu passeio.

— Tem medo de fazer um filho em mim? — Amapola me afronta, sem saber que esse é um assunto que mexe muito comigo.

— Não. Tenho medo que você tire esse filho para não estragar sua vidinha regrada. — O silêncio é sepulcral.

Levanto-me do chão e tento me arrumar, vestindo a camisa. Ela também se ajeita sem dizer nada.

— Sinto muito. — Ela levanta os olhos e vejo dor na sua íris verde.

— Eu nunca serei igual a sua ex-mulher, Speranzi. Entre no carro. Quero que você teste meu carro até que ele esteja perfeito. Semana que vem ele ganha a estrada e é você que vai pilotá-lo.

— Vou a pé.

— Você vai no carro. — Ela joga a chave na minha mão e se senta no banco do passageiro. Não tenho outra saída a não ser obedecer. Quando paro o carro na entrada da garagem ela diz:

— Não é porque eu te usei que você tem que foder com a minha cabeça. Vou procurar ficar fora do seu caminho. — Desce e bate à porta, indo para o laboratório. Sander vem em minha direção.

— Brigaram?

— Amapola tem um gênio difícil.

— Estava brava e deu ordens expressas para que mesmo que a noite caísse, ninguém deveria ir buscar vocês. — Então ela foi disposta a se acertar comigo? Talvez transar embaixo da árvore ou mesmo dentro do seu carro.

E agora, as coisas se complicaram mais ainda.

Os últimos dez dias foram terríveis. Parece que ela resolveu descontar toda a sua raiva na pista. Testei mais carros nessa semana do que a vida inteira. Amapola falou comigo somente o estritamente necessário. Eu sabia que ficaria difícil a convivência, mas está quase impraticável trabalhar ao seu lado.

Aliado a isso, ela resolveu exibir partes do seu lindo corpo, vestindo cada dia uma roupa mais reveladora que a outra. Meu mantra era: eu mereço isso.

O que está aguçando a minha curiosidade é as horas que tem passado na sala da engenharia. Sem conseguir me controlar, pergunto para o Mike o que está rolando.

— Estamos proibidos de entrar lá. Ouvi uma conversinha de que estão criando um novo carro.

— De rua?

— Não, parece que é de corrida. Sabe como é, tudo especulação. — Volto para a garagem com a intuição de que eles estão montando o carro preto. Preciso ver isso com meus próprios olhos.


PAIXÃO NO RETROVISOROnde histórias criam vida. Descubra agora