35 - AMAPOLA FISCHER

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Início de campeonato é tão emocionante. Todos estão ansiosos sobre o que vai acontecer nas pistas. Esse campeonato para mim é o início de uma nova era.

A primeira mudança, é caminhar de cara limpa sem me esconder atrás de um agasalho e capuz. Posso chegar em cima do meu salto, com meus cabelos penteados e minha imagem de mulher fatal. A segunda mudança, é estar acompanhada por um homem disputadíssimo no mercado automobilístico. Guto Speranzi é o piloto mais assediado da estreia. Quase não chegamos inteiros na garagem. Por todo o caminho, fomos abordados por jornalistas, fãs e mulheres. Nem sei de onde apareceram tantas mulheres. Chego a ficar furiosa com tanta atenção da parte delas.

— Era sempre assim antes de uma corrida? Meu Deus, achei que elas iam rasgar a sua roupa. — Ele se diverte com tudo isso.

— A culpa é sua, Amapola. Inventou de me colocar na televisão, os olhos se voltaram para mim. Viu aquele cara querendo saber sobre a minha lesão? Colocando dúvidas sobre o assunto.

— Você sabe que o marketing é bom para a XFI. O repórter estava apenas fazendo o seu trabalho e ele é bom, porque questionou um assunto pertinente, afinal você está ótimo há um bom tempo.

— Não quero discutir com você.

— Muito menos eu, sabe que preciso de concentração.

— Sei bem do que você precisa antes de uma corrida. — Olho para ele, não acreditando que ele citou algo íntimo, assim do nada.

— Sua tática não vai funcionar, piloto. Estou bem relaxada hoje. — Antes que ele fale alguma besteira e alguém nos ouça, acabo com o assunto. — Vou para a minha saleta. Se cuide, Guto. Antes de mais nada somos parceiros. Começar a temporada em sexto e sétimo lugar é muito bom. Fugir do bolo do fundão ajuda a corrida fluir melhor.

— Boa sorte, Ama. Se cuide também. — Ele parece hesitar, a impressão é que quer dizer mais alguma coisa, mas se cala. Entro na minha sala e tento me desligar do mundo lá fora.

A partir de agora, somos dois pilotos em busca de um objetivo. Meu objetivo nunca foi a vitória, e sim vivenciar a corrida como parte da minha vida. Ela não entrou na minha vida por amor, mas se transformou ao longo do caminho. Hoje não me imagino ficar sem correr. Faz parte da minha vida. Além de tudo, estar ao lado do homem que eu aprendi a amar e respeitar me fortalece. Guto ainda não sabe que meus sentimentos por ele são assim tão grandes, mas espero que ele chegue a essa conclusão o mais rápido possível.

Quem sabe aquele sentimento que nasceu na viagem possa ter amadurecido e ele me queira perto dele. Esqueço disso tudo e me troco. Quando saio da sala, sou a Fênix e sou surpreendida pelo meu pai nos boxes.

— Ora, ora, Robert Fischer veio enfim torcer para sua filha. Ou está aqui por causa do novato? — Ele me abraça carinhosamente, mas o meu corpo fica tenso.

— Sabe que amo ver você nas pistas, Amapola. Só não apareço muito porque não gosto dessas pessoas babando o meu ovo. Vim porque te amo e também por causa do Speranzi, afinal ele trouxe mais visibilidade para a escuderia. — Guto sai nessa hora da sua sala e escuta a minha resposta atravessada.

— Quem sabe agora você não tem o Guto como o filho homem que você sempre sonhou. — Ele me olha intrigado e eu finjo que não vejo isso. Meu pai ignora minha fala, como sempre.

— Agora sim, Guto Speranzi. Está no lugar certo para mostrar todo o seu talento.

— Obrigado, Robert. Confesso que estou um pouco nervoso. Ainda bem que tenho como companheira a sua filha, Amapola. Sua experiência e determinação serão o meu combustível. — Guto é perspicaz e sabe que de alguma forma meu pai me magoou.

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