41 - AMAPOLA FISCHER

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— Pai, você sabe que não pode exagerar. O que você faz? Exagera. Come demais, bebe em excesso. Uma hora a conta chega.

— Eu sei, Amapola. Eu descobri que uma hora a conta chega. Quero falar com você.

— Agora não, pai. Você precisa descansar. — Mais uma vez eu tento fugir de uma conversa séria.

— Agora sim, essa conversa já demorou tempo demais.

— Estamos em um hospital, não é hora de levantar um problema.

— Agora é a hora certa, minha filha. Eu vi a sua mágoa antes da corrida de Curitiba. Quero entender a sua revolta. Sei que não sou perfeito, errei muito, mas achei que você era feliz.

— Eu sou feliz, pai. Que bobeira é essa?

— Chegou a hora da verdade, Amapola. Eu quero a verdade, sem rodeios. — Vendo que não terei outra alternativa, abro meu coração e conto tudo desde o dia em que ouvi a conversa atrás da porta. Ele chora e eu também choro.

— Talvez eu tenha sido esse monstro, Amapola. A morte da sua mãe foi bem difícil para mim, nem mesmo tinha coragem de levantar da cama. Negligenciei você sem saber que sofreria com a minha ausência. E depois cobrei você como se fosse um homem. Eu me orgulho dessa mulher que você se transformou. Sempre me orgulhei. Não vou mentir que ficaria muito feliz com um filho, mas eu tenho certeza de que eu te amo, pequena. Prometo ser uma pessoa melhor daqui para frente. Sem cobranças, eu prometo.

— É que eu não vou mais correr nessa temporada, pai.

— Por que isso agora, filha?

— Eu estou grávida. — Ele me olha assustado e fico com medo de que tenha um treco.

— Como assim, grávida? Você terminou com o Enrico. Quem é o pai? — Engulo seco sem saber como contar, quando alguém bate à porta e entra.

— Atrapalho? — Ambos olhamos para ele. Isso foi providencial.

— Não, Guto. Entre aí, chegou na hora certa. — Meu pai se liga na hora.

— Não acredito, Augusto Speranzi. Te confiei a minha filha e você faz um filho nela. — A cara de assustado do Guto é impagável.

— Eu só acho que o senhor não conhece direito a sua filha. — Meu pai começa a rir e não para mais. Eu fico entre preocupada e sem entender o que acontece com ele. Quando ele acalma o riso, explica tudo.

— Eu sabia que vocês iam se entender. Quando ouvi Guto contar sobre sua paixão pelo automobilismo, percebi que ele era o cara certo para estar ao seu lado, filha. Ofereci o dobro do que ganhava na concorrência para não correr o risco de você não aceitar.

— Eu tinha um noivo, pai!

— Seu relacionamento era mais frio que o Polo Norte. Se você continuasse com ele, eu nunca teria netos.

— Mais uma vez você manipulou a minha vida.

— Você não pode me acusar disso, Amapola. Eu não obriguei você a nada, aliás, coloquei o Guto para te ajudar a ter vida social. Isso nem importa agora. Quero saber se vocês se gostam, o que tem realmente entre vocês. — Guto toma à frente.

— Eu amo a sua filha, Robert. Não sei ainda o que vamos fazer, mas eu estarei ao lado dela o tempo todo. Além disso, você sabe que ela é a minha chefa, então não tenho escapatória. — Olho para ele e sinto uma emoção enorme. Ouvi-lo falando em amor, em proteção é tão encantador. Um homem bruto que chegou cheio de marra, arrebatou meu coração e de quebra fez um filho em mim.

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