7 - AMAPOLA FISCHER

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Olho no espelho do closet o resultado final da minha produção. Não é que estou gata mesmo? Sei que sou bonita, é claro. Apenas prefiro estar com uma roupa mais confortável, que me deixa trabalhar mais à vontade. Escolhi um vestido preto, cheio de pedrinhas brilhantes, bem leve, justo ao corpo com as costas de fora.

Quando o interfone toca, peço para Enrico subir. Estou nervosa, parece que é meu primeiro encontro com ele. Talvez seja mesmo, porque eu nunca vesti nada tão ousado e sedutor com a intenção de chamar a  sua atenção.

Abro a porta e Enrico me olha admirado. Sinto meu rosto arder.

Uau... quem é essa gata? Onde está a minha noiva? — Ele entra, me gira, apreciando a visão e me abraça.

— Como você está linda, Amapola. Estou morrendo de saudades de você. — Cheira meu pescoço e beija suavemente a minha boca.

— Eu também, amor. Pensei que você voltaria para Nova Iorque e eu não te encontraria mais uma vez.

Ahh... querida. Você quase acertou, eu vou para Nova Iorque amanhã. Temos apenas hoje para namorar. Vamos jantar logo que depois eu quero tirar esse vestido que te deixou muito gostosa. — Pego minha bolsa e saímos para comer fora. Nosso relacionamento sempre foi assim, saímos juntos, jantamos, às vezes em restaurantes, outras na casa do meu pai ou da mãe dele. Depois voltamos para meu apartamento e fazemos amor.

A noite não foi diferente. Assim que entramos no quarto, Enrico me despe, beija meu corpo todo e me faz gozar. Eu retribuo o carinho até sentir que ele está no limite e monto no seu colo. Ele segura na minha cintura e me empurra, subindo e descendo. Fecho os olhos tentando refrear os meus pensamentos. Não posso estar na cama com o meu noivo e pensar em outro homem.

Não, Amapola. Isso é traição e eu não aceito traição

Enrico goza elegantemente e a verdade é que eu agradeço por ter acabado. Não que tenha sido ruim, pelo contrário, sempre gostei de fazer amor com ele, mas é que minha cabeça está confusa. Esperava algo mais, até um ataque antes do jantar quando ele me viu.

Enrico me coloca do seu lado, joga o preservativo e me abraça.

— Ama, precisamos conversar. — Fala sério, beijando os meus cabelos.

— Também acho que precisamos conversar. Vem, vamos tomar um banho antes. — Assim que nos recompomos, sentamos a mesa da cozinha para tomar um suco. Ele começa a falar.

— Eu nem sei como dizer, mas nós nunca tivemos segredos entre nós. Isso está me consumindo porque eu não acho correto o que eu fiz, Ama. Você sabe que eu te amo, amo demais. Mas, em uma noite em Nova Iorque eu bebi demais depois de uma reunião de confraternização e não me lembro como, acordei com uma funcionária na cama comigo. Eu juro que estava bêbado, nem sei se transei com ela, ela diz que sim e eu nem sei se é verdade. — A cada palavra proferida meu choque aumenta. O meu noivo, um cara certinho que nunca sai da linha, fodendo com uma qualquer?

— Quando foi isso, Enrico?

— Foi há vinte dias. Estou tão envergonhado, eu nunca perdi o controle assim.

— Vocês trabalham juntos lá?

— Ela é a minha secretária no escritório de Nova Iorque.

— Você está querendo me dizer que fodeu com a sua secretária e foi sem querer, que não teve a intenção?

— Eu estava bêbado, querida. Só quando acordei é que a vi no meu quarto. — Levanto da cadeira e coloco o copo na pia, ponderando todas as novas informações. Nem percebo que lágrimas caem dos meus olhos. De tudo nessa vida, a traição não faz parte do meu vocabulário. Ele vem por trás e me abraça.

— Eu não quero perder você por uma bobagem dessa. — Eu saio do seu abraço e volto a sentar na mesa.

— Eu vou precisar de um tempo, Enrico. Aliás, eu já estava com esse pensamento. Nosso relacionamento anda um pouco morno. Não sei se são as suas ausências ou talvez você esteja mesmo com tesão em outra pessoa. — Ele se ajoelha na minha frente.

— Não fala isso, Ama. Eu te amo, foi apenas um deslize. Mas eu entendo que você precise de um tempo, e eu te darei. Estarei em Nova Iorque por alguns dias e depois voltamos a conversar.

— Você despediu a moça? — Ele levanta e finge levar o copo a pia, colocando água.

— Eu não tive como fazer isso, mas ela não está mais trabalhando diretamente para mim. Mudei-a de setor. O culpado da história sou eu.

— Vai embora, Enrico. Acho que ambos precisamos pensar o que queremos para o futuro. Confiança em uma relação é algo que conquistamos e quando nos é tirado, abala a relação. — Ele beija minha testa.

— Tudo bem, Ama. Você está certa. Eu errei feio e admito o meu erro. Só não demore para me perdoar. Eu não quero ficar longe de você. — Sai e me deixa ali, cheia de raiva e também de culpa, porque até na cama eu pensei em Guto Speranzi.

Também estou me sentindo suja. Sei que essa história de "acordou na cama" com a secretária é tudo balela. Fodeu com quem te dava tesão, essa é a verdade. Achei que estava apenas com um problema e agora tenho dois.

Para nossa relação continuar eu tenho que perdoar Enrico e também me perdoar. Ele já cometeu o pecado. Eu estou muito tentada a conferir se vale a pena pecar.

Pelo menos por algum tempo, eu sou uma mulher livre. Amo Enrico, ele é o homem que escolhi ficar junto, mas eu nunca tive esse lance de pele que sinto quando Guto chega perto.

E o meu pai, para ajudar, pressionando para ter netos. Agora ficou um tanto quanto difícil fazer um.

PAIXÃO NO RETROVISOROnde histórias criam vida. Descubra agora