Amapola vem se comportando estranhamente nos últimos dias. Está quieta, não quer fazer os testes da pista que sempre foi sua atribuição e anda correndo para sua sala do nada.
Alguma coisa está acontecendo e ela está se escondendo de mim. Vou descobrir.
Os treinos começam no Ceará embaixo de muito calor. O Black está perfeito, fazendo voltas cada vez mais rápidas e acredito que eu peguei o jeito do carro.
Ao contrário de mim, o carro de Amapola está lento e os mecânicos não descobrem qual é o real problema. Parece ser na caixa de câmbio. Abordo-a.
— Já descobriram o defeito?
— Sei não, Guto. Estou achando que minha corrida está comprometida essa rodada. — Ela fala isso com uma tranquilidade que não é inerente a ela.
— Vamos combinar que faz alguns dias que você anda diferente, distante. Ainda é sobre a última corrida? Eu já pedi milhões de desculpas, Ama. Não quero que o lance atrapalhe nossa amizade. — Ela coloca a mão no meu ombro.
— Aquilo ficou para trás, Guto. Não tinha o direito de gritar com você na frente dos outros. Algo mudou em mim, mas não quero falar sobre isso agora. Precisamos focar na corrida. — Coloco minha mão sobre a sua.
— Eu preciso conversar com você, Amapola. É sério. Acho que devemos uma conversa para nós. — Ela fica surpresa.
— Tá, tudo bem. Também tenho algo para contar. Depois da corrida. Agora não quero discutir com você.
— Você é encrenqueira, chefa. Já, já está brigando comigo. — Quando seu rosto ilumina com um sorriso, minha vida ganha cores. Amapola é linda demais e sorrindo me desarma. Estou apaixonado por ela e estou achando que o que ela tem a falar me afastará.
— Talvez não. Ando cansada, meio aérea.
— Estranha, quieta. Nunca vi você tão paciente.
— Vamos trabalhar? Paciência na pista ajuda só o concorrente. — Fico a observar Amapola tranquila demais com o defeito do seu carro, questionando, mas sem a urgência de sempre.
Apesar de o seu carro ainda estar com problemas, Amapola fica em nono lugar no grid. A dupla Black e Guto chegam na melhor marca e conquistam a pole position. Voltando para os boxes sinto que a corrida será para nós, Black e eu.
Não esperava uma recepção tão calorosa na entrada dos boxes.
Nataly se joga em meus braços assim que desço do carro e arranco o capacete.
— Que tempo maravilhoso, querido. Parabéns pela pole. — Beija efusivamente meu rosto. Amapola está encostada no seu carro, já dentro da garagem só observando. Seu rosto é uma incógnita. Não consigo decifrá-la. Afasto Nataly de mim.
— Obrigado, Nataly. Se importa de me esperar, preciso mesmo conversar com você. Podemos tomar aquele café, o que acha?
— Claro, campeão. Vou ficar te esperando. — Entro nos boxes para me trocar.
— Parabéns, piloto. Foi incrível seu tempo. Está atraindo a mulherada de novo. — Roço meus dedos em seu rosto.
— Só quero uma mulher agora. — Seu peito infla, sua boca abre. Sinais que está por um fio. Pisca duas vezes e se recompõe.
— Então não demore, que ela está te esperando lá fora. — Entra em sua sala e fecha a porta. Meu verdadeiro desejo é entrar lá e enchê-la de porra. Contenho-me. Antes preciso deixar algumas coisas bem claras para a minha ex-mulher.
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PAIXÃO NO RETROVISOR
RomanceNunca imaginei que eu, Augusto Speranzi, bicampeão de Fórmula 3, apreciaria ser comandado por uma mulher no meu novo emprego de piloto de testes. Depois de passar três anos sendo pisoteado por uma, as mulheres passaram a ser apenas companhia de uma...