38 - AUGUSTO SPERANZI

101 22 0
                                    


Amapola vem se comportando estranhamente nos últimos dias. Está quieta, não quer fazer os testes da pista que sempre foi sua atribuição e anda correndo para sua sala do nada.

Alguma coisa está acontecendo e ela está se escondendo de mim. Vou descobrir.

Os treinos começam no Ceará embaixo de muito calor. O Black está perfeito, fazendo voltas cada vez mais rápidas e acredito que eu peguei o jeito do carro.

Ao contrário de mim, o carro de Amapola está lento e os mecânicos não descobrem qual é o real problema. Parece ser na caixa de câmbio. Abordo-a.

— Já descobriram o defeito?

— Sei não, Guto. Estou achando que minha corrida está comprometida essa rodada. — Ela fala isso com uma tranquilidade que não é inerente a ela.

— Vamos combinar que faz alguns dias que você anda diferente, distante. Ainda é sobre a última corrida? Eu já pedi milhões de desculpas, Ama. Não quero que o lance atrapalhe nossa amizade. — Ela coloca a mão no meu ombro.

— Aquilo ficou para trás, Guto. Não tinha o direito de gritar com você na frente dos outros. Algo mudou em mim, mas não quero falar sobre isso agora. Precisamos focar na corrida. — Coloco minha mão sobre a sua.

— Eu preciso conversar com você, Amapola. É sério. Acho que devemos uma conversa para nós. — Ela fica surpresa.

— Tá, tudo bem. Também tenho algo para contar. Depois da corrida. Agora não quero discutir com você.

— Você é encrenqueira, chefa. Já, já está brigando comigo. — Quando seu rosto ilumina com um sorriso, minha vida ganha cores. Amapola é linda demais e sorrindo me desarma. Estou apaixonado por ela e estou achando que o que ela tem a falar me afastará.

— Talvez não. Ando cansada, meio aérea.

— Estranha, quieta. Nunca vi você tão paciente.

— Vamos trabalhar? Paciência na pista ajuda só o concorrente. — Fico a observar Amapola tranquila demais com o defeito do seu carro, questionando, mas sem a urgência de sempre.

Apesar de o seu carro ainda estar com problemas, Amapola fica em nono lugar no grid. A dupla Black e Guto chegam na melhor marca e conquistam a pole position. Voltando para os boxes sinto que a corrida será para nós, Black e eu.

Não esperava uma recepção tão calorosa na entrada dos boxes.

Nataly se joga em meus braços assim que desço do carro e arranco o capacete.

— Que tempo maravilhoso, querido. Parabéns pela pole. — Beija efusivamente meu rosto. Amapola está encostada no seu carro, já dentro da garagem só observando. Seu rosto é uma incógnita. Não consigo decifrá-la. Afasto Nataly de mim.

— Obrigado, Nataly. Se importa de me esperar, preciso mesmo conversar com você. Podemos tomar aquele café, o que acha?

— Claro, campeão. Vou ficar te esperando. — Entro nos boxes para me trocar.

— Parabéns, piloto. Foi incrível seu tempo. Está atraindo a mulherada de novo. — Roço meus dedos em seu rosto.

— Só quero uma mulher agora. — Seu peito infla, sua boca abre. Sinais que está por um fio. Pisca duas vezes e se recompõe.

— Então não demore, que ela está te esperando lá fora. — Entra em sua sala e fecha a porta. Meu verdadeiro desejo é entrar lá e enchê-la de porra. Contenho-me. Antes preciso deixar algumas coisas bem claras para a minha ex-mulher.

PAIXÃO NO RETROVISOROnde histórias criam vida. Descubra agora