27 - AMAPOLA FISCHER

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Quando caminho em direção à garagem, querendo minha cama e minha recompensa, me surpreendo com Guto rindo, bem à vontade, com uma loira boazuda. Sei bem quem ela é. Busquei Nataly Morgano nas redes sociais. É... o piloto tem bom gosto, não posso negar. Ela é bonita, tem um corpo maravilhoso e ele está parecendo bem animado ao lado dela.

Quanto do coração dele ela ainda tem? Sinto um aperto no meu, mas jogo para debaixo do tapete. Depois eu me resolvo com essa dor. Antes de abordá-los, tiro a minha máscara.

— Olá. — Ele assusta e o sorriso some do seu rosto. A loira me mede de cima a baixo.

— Então Amapola Fischer é a sua chefa, Guto? — Rio do nome carinhoso que meus funcionários me deram.

— É isso aí, eu que mando nesse homem agora. — Estico a mão. — Prazer em conhecê-la, Nataly Morgano. — Ela aperta a minha mão. Encara-me e eu a encaro de volta.

— Desculpe atrapalhar, vi que vocês estavam se divertindo, mas estou muito cansada, a corrida foi puxada. Guto, estou indo embora, vai ficar mais um pouco?

— Não, Amapola. Eu vou com você. Ainda preciso arrumar minhas coisas porque o voo é cedo. — Ele olha para ela. — Espero que tudo dê certo para você, Nataly. — Ela alisa o braço dele e beija seu rosto. Fico ali no meio, até a vadia se tocar e resolver sair.

— Pense no que eu te falei. Prazer em conhecê-la, Fênix. Você pilota muito melhor que muitos homens por aí.

— Agradeço o elogio. — Seguro a onda para não ofendê-la de volta. Viro-me e deixo os dois à vontade. Não adianta tentar interferir em algo que não tenho controle. Ele não é meu, talvez nunca seja de verdade. Vejo ainda uma fascinação em seus olhos. Ele entra rapidamente.

— Desculpe por isso. Ela me viu no gradil e puxou papo.

— Você não tem que se justificar. A vida é sua, o passado é seu. Podemos ir agora?

— E nosso brinde?

— Estou com dor de cabeça. — A volta é silenciosa. Ambos perdidos em pensamentos.

Entro no quarto e vou direto para o banheiro. Arranco a roupa e entro no chuveiro. Ele falou para eu não me apegar, mas não tem como não gostar de um cara tão compassivo e humano.

— Não vamos brigar por causa de um acaso do destino, não é? — Ele invade meu banho.

— Eu não chamaria uma ex-mulher de acaso. E não, não estou brigando com você. Só me distanciei para que você pense em tudo o que aconteceu hoje. Você me contou o que rolou no passado. Sei da importância dela em sua vida, Guto. Não sou uma mulher insensível, mesmo querendo arrancar aquele sorrisinho da cara dela.

— Então se eu entrar aí com você, tudo bem?

— Tudo bem. — Ele tira a roupa e entra no boxe comigo.

— Posso te lavar? Deve estar exausta.

— Hoje foi intenso. — Ele passa o sabonete na bucha e esfrega o meu corpo. Fico ali, olhando seus gestos, agradecendo sua atenção. O que joguei para debaixo do tapete chega sem avisar e sei que a volta dela em sua vida pode atrapalhar nossa conexão. Ele tira a espuma do meu corpo. Depois me prende na parede, ergue uma das minhas pernas, me penetra e fica parado por alguns segundos. Segura minhas mãos na cabeça e vai se movimentando enquanto beija meus seios e brinca com meus mamilos. Entro naquele estado de êxtase que antecede o orgasmo. Guto está dentro de mim mais uma vez sem proteção e eu deixo para pensar nisso depois. Ele me leva para a cama, seca os meus cabelos e me cobre.

— Descansa. Amanhã acordamos cedo.

— Eu não gosto de deixar coisas para depois, Guto.

— De onde saiu esse gênio foda, hein? Você não escuta ninguém?

— Escuto o meu pai. Você é ele, por acaso?

— Se eu fosse o seu pai, Amapola, agora daria uns tapas na sua bunda. — Viro-me na cama, mostrando minha nudez.

— Lembro-me que tapa não era um limite rígido. — Ele sorri.

— Acha que aguenta uma sessão de sado, Ama?

— Nem fodendo. Estou morta. Acho que a pista estava um pouco ondulada. Tenho dores no corpo.

— Está com fome? — Não consigo pensar em comida e nem mesmo dormir se não fizer a pergunta que martela minha cabeça.

— Você ainda a ama? — Ele fica mudo. Eu cobro.

— Sim ou não, a resposta é simples.

— Não é simples. Nada é simples quando se trata da Nataly. Acho que amor, no sentido da palavra não, eu não a amo. Mas ela me dominou por muitos anos e ela sabe meus pontos fracos. Você, sem me conhecer muito, descobriu um deles, imagina ela que usou todos eles o tempo todo.

— Você parecia estar se divertindo conversando com ela.

— Ficou com ciúmes?

— É claro que sim. Você acha que eu transaria sem preservativo com um homem que não fosse importante para mim.

— Sou importante para você?

— Você é importante para mim. Me tirou da minha zona de conforto, me mostrou que uma relação de homem e mulher precisa ter cumplicidade e também tesão. Que eu estava acomodada e que provavelmente casaria com um homem que me faria infeliz.

— Você também é importante para mim, Amapola. Me mostrou que posso ser uma pessoa melhor, só tenho que ter coragem para isso.

— Só para finalizar, amanhã eu volto a ser sua chefa. Sem argumentação.

— Puta merda...

— O que falei? Sem argumentação. Se for pedir muito, arruma algo para eu comer. Vou descansar um pouco, mas tenho certeza de que a fome vai bater na madrugada.

— Pode dormir, eu deixo algo no jeito.

— Valeu. — Ajeito-me na cama e fecho os olhos. As lágrimas escorrem sem controle. Apago sem saber por quanto tempo chorei.

PAIXÃO NO RETROVISOROnde histórias criam vida. Descubra agora