25- AUGUSTO SPERANZI

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O primeiro dia de treinos, o carro de Amapola voou. A equipe da escuderia é tão competente quanto a da empresa. Resolvo assumir que quero frequentar sua cama no final de semana inteiro e aceito dormir todos os dias com ela. No sábado, dia de classificação, o celular da Amapola toca na hora que ela precisa entrar na pista para aquecer os pneus e os motores.

— Oi, pai. — Ela fica séria.

— Tudo bem, entendi, o doutor Assis já te medicou?

— Amapola, você precisa aquecer o carro. — O chefe da oficina apressa.

— Espere aí, pai. — Ela olha brava. — Porra, Dani, meu pai caiu e se machucou, não vou desligar sem saber a extensão do tombo. — Olha para mim estranha. — Dá a chave para o Guto. Ele vai aquecer os pneus para mim.

O chefe da oficina entrega a chave na minha mão. Eu fico olhando para a batata quente e não tenho para quem passar, ela está absorta na ligação e se afasta, nem ligando para a minha hesitação.

— Você vai, senhor Speranzi? O tempo está correndo. — Engulo seco e pego o macacão que ele me estica. Preciso ajustar o banco porque sou maior que ela. Acelero em direção à pista.

É só um aquecimento, Guto. Apenas um aquecimento. — Começo a suar frio. É a primeira vez que dirijo em uma pista profissional depois do acidente. A adrenalina vai as alturas. Já corri muitas vezes nesse circuito e o carro dela é leve, obedece aos meus comandos. Só para constar nos relatórios, faço a melhor volta do aquecimento.

Quando entro com o carro nos boxes, de repente não quero mais sair dele. Percebo que a minha vida ficou estacionada ali e que pilotar profissionalmente é uma extensão de mim. Desço do carro enquanto eles ajustam de volta para ela. Quando ela sai da oficina está concentrada, com a luva e a touca, pronta para colocar o capacete. Seus olhos encontram os meus e passo meus dedos no capô do carro dela. Ela pisca para mim e eu ousadamente jogo um beijo. Ela sorri e a colocam na sua posição. Lá vai a Fênix abrilhantar as pistas com a sua sagacidade. Vou para a sala de comando assistir a chefa dominar as pistas.

Faz um tempo espetacular e conquista a primeira fila. Só não ficou com a pole position porque o senhor trapaceador ataca novamente. Quando ela chega de volta a garagem, envolvo-a em meus braços.

— Parabéns, Amapola. Foi um belo tempo.

— Valeu, mas me conhece. Sabe que fico irada com injustiça.

— Amanhã é o que vale. Amanhã você mostra como pilota. E seu pai? Como está?

— Ele caiu no banheiro, mas está bem. Foi apenas o susto e alguns hematomas. Obrigada por aquecer meu carro e desculpe por pedir isso para você.

— Foi bom, no final. Conversamos no hotel.

— Demora um pouco, você sabe. A Fênix precisa circular.

— Quando você vai circular de cara limpa, Amapola?

— Tenho planos para a próxima temporada. Dependendo do meu parceiro, vou correr de cara limpa. Você vai ficar me esperando?

— Sem dúvidas. Também vou circular por aí. — Antes de ela entrar em sua sala, me questiona.

— Só não gostei de uma coisa.

— Do quê?

— Você fez um tempo com meu carro melhor do que eu mesma. Isso não está certo.

— Foi sorte de principiante.

— Está mais para excesso de talento desperdiçado. Até mais tarde.

Ao caminhar pelos boxes das equipes, observando todo o dinamismo que antecede as provas, vejo que perdi tempo e desperdicei talento mesmo. É como se uma venda tivesse sido arrancada dos meus olhos, assim me permitindo enxergar novamente. Tudo que vejo está enraizado em mim. O ronco dos motores, a velocidade, os números das voltas, tudo é bom demais.

Só não gostei de ver Amapola sendo abraçada pelo Hills. Chego bem na hora de ouvi-la falar.

— Não prometo nada, Hills. Vai depender do resultado da corrida. Te mando mensagem.

— Fala aí, Hills. — Ele me olha surpreso.

— Você aqui, Guto?

— É, eu fui convidado pela Amapola. Estou acompanhando a movimentação dos bastidores. E você, perdido aqui? — Amapola se controla para não rir.

— Estou com uns camaradas. Vim assistir a Fênix arrasar nas pistas. Quem sabe posso pilotar o Black ao lado dela.

Shiuu... Hills. Ninguém sabe disso ainda. Pedi discrição para você.

— Foi mal, morena. Até amanhã. — Beija Amapola, acena para mim e vai embora.

— Abusadinho o cara.

— Está com ciúmes de novo, piloto?

— Você gosta de provocar, chefa. Depois vai pedir leite. — Quando chegamos ao hotel, revezamos o banheiro, pedimos comida no quarto e assistimos um filme de luta. Sempre quis testar a teoria que sexo antes da corrida ajuda a dormir melhor. Estar do outro lado da equação é estranho. Nem sempre respeitei as corridas. Muitas delas bebi e trepei até na minha saleta antes da largada. Talvez o acidente tenha vindo para amadurecer meus atos e minhas atitudes.

— Algum problema, Guto? Está sério.

— Só lembrando de coisas erradas que fiz quando pilotava profissionalmente.

— Todo mundo erra. É normal. Ninguém é perfeito. Ninguém nasce pronto. Vai evoluindo ao longo da vida. — Fico ali olhando para o nada, digerindo as palavras dela.

— Não vai escovar os dentes? Preciso dormir cedo.

— Ahh, vou sim. — Quando volto para o quarto, Amapola está deitada do seu lado na cama na posição lateral. Sento-me na cama e ela não me olha. Tiro toda a minha roupa, apago a luz e ela me atrai como um ímã. Colo meu corpo nela e a abraço.

— Você toma anticoncepcional, Amapola?

— Tomo sim. Não quero um filho sem planejamento.

— E você confia em mim?

— Não estaria na minha cama se não confiasse. Por que a pergunta?

— Vou fazer com você o que sempre quis que alguém fizesse para mim, antes de uma corrida.

— Tá bom. — Enfio a mão por baixo do seu pijama e acaricio os seus seios. Eles ficam arrepiados porque o meu toque é bem suave. Seu peito sobe e desce mais rápido. Abaixo o cós do seu shortinho e ela não usa calcinha. Beijo o seu pescoço e mordisco sua orelha. Meu corpo está totalmente ligado nela. Ergo um pouco sua perna e testo a sua umidade. Meu coração dispara e nem acredito que ela fica muda.

Encaixo-me dentro dela e faço movimentos lentos e fundo. Vou assim até onde posso me controlar. Acaricio seu clitóris com pressão e precisão. Acho o ponto que lhe dá mais prazer.

— Caralho, Guto.

— Geme e goza para mim, Ama. Goza que eu estou no meu limite. — Sinto os espasmos do seu corpo e não consigo mais me segurar. Demora alguns minutos para as nossas respirações voltarem ao normal.

— Você acredita em conexão? — ela me pergunta.

— Acredito. Agora dorme, dorme que o seu dia amanhã vai ser longo. — Levanto-me e vou até o banheiro buscar uma toalha para limpar o meu gozo nela. Foi o tempo de limpá-la e ela apagar. Conectei-me com ela da mesma maneira que me conectei com o Black quando risquei com as mãos os seus traços.

Acho que isso é irreversível.

PAIXÃO NO RETROVISOROnde histórias criam vida. Descubra agora