O primeiro dia de treinos, o carro de Amapola voou. A equipe da escuderia é tão competente quanto a da empresa. Resolvo assumir que quero frequentar sua cama no final de semana inteiro e aceito dormir todos os dias com ela. No sábado, dia de classificação, o celular da Amapola toca na hora que ela precisa entrar na pista para aquecer os pneus e os motores.
— Oi, pai. — Ela fica séria.
— Tudo bem, entendi, o doutor Assis já te medicou?
— Amapola, você precisa aquecer o carro. — O chefe da oficina apressa.
— Espere aí, pai. — Ela olha brava. — Porra, Dani, meu pai caiu e se machucou, não vou desligar sem saber a extensão do tombo. — Olha para mim estranha. — Dá a chave para o Guto. Ele vai aquecer os pneus para mim.
O chefe da oficina entrega a chave na minha mão. Eu fico olhando para a batata quente e não tenho para quem passar, ela está absorta na ligação e se afasta, nem ligando para a minha hesitação.
— Você vai, senhor Speranzi? O tempo está correndo. — Engulo seco e pego o macacão que ele me estica. Preciso ajustar o banco porque sou maior que ela. Acelero em direção à pista.
— É só um aquecimento, Guto. Apenas um aquecimento. — Começo a suar frio. É a primeira vez que dirijo em uma pista profissional depois do acidente. A adrenalina vai as alturas. Já corri muitas vezes nesse circuito e o carro dela é leve, obedece aos meus comandos. Só para constar nos relatórios, faço a melhor volta do aquecimento.
Quando entro com o carro nos boxes, de repente não quero mais sair dele. Percebo que a minha vida ficou estacionada ali e que pilotar profissionalmente é uma extensão de mim. Desço do carro enquanto eles ajustam de volta para ela. Quando ela sai da oficina está concentrada, com a luva e a touca, pronta para colocar o capacete. Seus olhos encontram os meus e passo meus dedos no capô do carro dela. Ela pisca para mim e eu ousadamente jogo um beijo. Ela sorri e a colocam na sua posição. Lá vai a Fênix abrilhantar as pistas com a sua sagacidade. Vou para a sala de comando assistir a chefa dominar as pistas.
Faz um tempo espetacular e conquista a primeira fila. Só não ficou com a pole position porque o senhor trapaceador ataca novamente. Quando ela chega de volta a garagem, envolvo-a em meus braços.
— Parabéns, Amapola. Foi um belo tempo.
— Valeu, mas me conhece. Sabe que fico irada com injustiça.
— Amanhã é o que vale. Amanhã você mostra como pilota. E seu pai? Como está?
— Ele caiu no banheiro, mas está bem. Foi apenas o susto e alguns hematomas. Obrigada por aquecer meu carro e desculpe por pedir isso para você.
— Foi bom, no final. Conversamos no hotel.
— Demora um pouco, você sabe. A Fênix precisa circular.
— Quando você vai circular de cara limpa, Amapola?
— Tenho planos para a próxima temporada. Dependendo do meu parceiro, vou correr de cara limpa. Você vai ficar me esperando?
— Sem dúvidas. Também vou circular por aí. — Antes de ela entrar em sua sala, me questiona.
— Só não gostei de uma coisa.
— Do quê?
— Você fez um tempo com meu carro melhor do que eu mesma. Isso não está certo.
— Foi sorte de principiante.
— Está mais para excesso de talento desperdiçado. Até mais tarde.
Ao caminhar pelos boxes das equipes, observando todo o dinamismo que antecede as provas, vejo que perdi tempo e desperdicei talento mesmo. É como se uma venda tivesse sido arrancada dos meus olhos, assim me permitindo enxergar novamente. Tudo que vejo está enraizado em mim. O ronco dos motores, a velocidade, os números das voltas, tudo é bom demais.
Só não gostei de ver Amapola sendo abraçada pelo Hills. Chego bem na hora de ouvi-la falar.
— Não prometo nada, Hills. Vai depender do resultado da corrida. Te mando mensagem.
— Fala aí, Hills. — Ele me olha surpreso.
— Você aqui, Guto?
— É, eu fui convidado pela Amapola. Estou acompanhando a movimentação dos bastidores. E você, perdido aqui? — Amapola se controla para não rir.
— Estou com uns camaradas. Vim assistir a Fênix arrasar nas pistas. Quem sabe posso pilotar o Black ao lado dela.
— Shiuu... Hills. Ninguém sabe disso ainda. Pedi discrição para você.
— Foi mal, morena. Até amanhã. — Beija Amapola, acena para mim e vai embora.
— Abusadinho o cara.
— Está com ciúmes de novo, piloto?
— Você gosta de provocar, chefa. Depois vai pedir leite. — Quando chegamos ao hotel, revezamos o banheiro, pedimos comida no quarto e assistimos um filme de luta. Sempre quis testar a teoria que sexo antes da corrida ajuda a dormir melhor. Estar do outro lado da equação é estranho. Nem sempre respeitei as corridas. Muitas delas bebi e trepei até na minha saleta antes da largada. Talvez o acidente tenha vindo para amadurecer meus atos e minhas atitudes.
— Algum problema, Guto? Está sério.
— Só lembrando de coisas erradas que fiz quando pilotava profissionalmente.
— Todo mundo erra. É normal. Ninguém é perfeito. Ninguém nasce pronto. Vai evoluindo ao longo da vida. — Fico ali olhando para o nada, digerindo as palavras dela.
— Não vai escovar os dentes? Preciso dormir cedo.
— Ahh, vou sim. — Quando volto para o quarto, Amapola está deitada do seu lado na cama na posição lateral. Sento-me na cama e ela não me olha. Tiro toda a minha roupa, apago a luz e ela me atrai como um ímã. Colo meu corpo nela e a abraço.
— Você toma anticoncepcional, Amapola?
— Tomo sim. Não quero um filho sem planejamento.
— E você confia em mim?
— Não estaria na minha cama se não confiasse. Por que a pergunta?
— Vou fazer com você o que sempre quis que alguém fizesse para mim, antes de uma corrida.
— Tá bom. — Enfio a mão por baixo do seu pijama e acaricio os seus seios. Eles ficam arrepiados porque o meu toque é bem suave. Seu peito sobe e desce mais rápido. Abaixo o cós do seu shortinho e ela não usa calcinha. Beijo o seu pescoço e mordisco sua orelha. Meu corpo está totalmente ligado nela. Ergo um pouco sua perna e testo a sua umidade. Meu coração dispara e nem acredito que ela fica muda.
Encaixo-me dentro dela e faço movimentos lentos e fundo. Vou assim até onde posso me controlar. Acaricio seu clitóris com pressão e precisão. Acho o ponto que lhe dá mais prazer.
— Caralho, Guto.
— Geme e goza para mim, Ama. Goza que eu estou no meu limite. — Sinto os espasmos do seu corpo e não consigo mais me segurar. Demora alguns minutos para as nossas respirações voltarem ao normal.
— Você acredita em conexão? — ela me pergunta.
— Acredito. Agora dorme, dorme que o seu dia amanhã vai ser longo. — Levanto-me e vou até o banheiro buscar uma toalha para limpar o meu gozo nela. Foi o tempo de limpá-la e ela apagar. Conectei-me com ela da mesma maneira que me conectei com o Black quando risquei com as mãos os seus traços.
Acho que isso é irreversível.
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PAIXÃO NO RETROVISOR
RomanceNunca imaginei que eu, Augusto Speranzi, bicampeão de Fórmula 3, apreciaria ser comandado por uma mulher no meu novo emprego de piloto de testes. Depois de passar três anos sendo pisoteado por uma, as mulheres passaram a ser apenas companhia de uma...