26 - AUGUSTO SPERANZI

108 21 0
                                    


— Vai ficar me olhando assim?

— É que você parece um anjo dormindo. Não, mentira, você foi realmente o meu anjo essa noite. Meu sono foi restaurado e acordei cheia de energia. Acho que agreguei outra atividade no seu contrato.

— Vou ser o seu fodedor oficial.

— Você consegue acabar com qualquer bom humor, Speranzi. Bora sair da cama. — Seguro o braço dela.

— Sabe que estou te provocando. Gostei pra caralho de passar esses dias com você, dentro de você.

— Foi bom mesmo. Quer ficar aqui?

— Você largaria a corrida para ficar aqui comigo, Amapola?

— Se isso fosse algo decisivo, sim, eu ficaria. Posso usar o banheiro primeiro?

— Vai lá.

Sempre que algo vai bem é porque tem algo ruim para acontecer. Encontrar Nataly no autódromo não estava na minha lista de desejos. Muito menos ao lado do otário da vez.

— Guto Speranzi, é você mesmo?

— Tudo bem, Nataly? — Ela se joga nos meus braços como se nada de ruim tivesse acontecido entre nós. Beija o meu rosto, deixando sua marca de batom.

— Estou ótima, Guto. E você também parece bem. Aliás, nem parece que saiu de ambulância daquele acidente terrível.

— Tive sorte, meus médicos eram excelentes. Estou curado. É seu marido? — Ela nem se lembra que está acompanhada.

— Não, não, o Vitor é um amigo. Eu não estou casada no momento. E você?

— Não, não estou casado. Aliás, preciso correr, minha chefa precisa de mim.

— Sua chefa? Engraçado.

— É, agora é uma mulher que manda em mim profissionalmente. Engraçado, não é mesmo? Foi... legal te ver. — Vou em direção à garagem da Amapola. Tantas pessoas que poderia encontrar aqui, encontro a única que não estava esperando. Apesar de tudo o que rolou entre nós, não pude deixar de notar que os anos trouxeram mais beleza para ela. Vestida de grife com os cabelos ainda mais loiros, Nataly é uma bela mulher e por muito tempo fui apaixonado por ela. Quando entro na garagem, encontro a morena se concentrando. Já está com a touca e vestindo as luvas. Olha-me de um jeito desconcertante.

— Achou uma fã mais afoita por aí? — Aponta o meu rosto e olho no espelho. — Humm... batom vermelho, quer impressionar.

— Nataly Morgano é a fã ardorosa. — Amapola me fuzila com o olhar. Balança a cabeça em negação e diz bem baixo.

— Na saleta, piloto. — Não entendo, mas obedeço. Ela fecha a porta, retira a touca e as luvas, e quase arranca meus cabelos. Usa sua boca para me punir. Aceito a punição porque Amapola irritada, caralho, deixa a minha pele e outras partes em êxtase. Grudo em seu cabelo e fixo em seus olhos.

— Não sabia desse seu lado possessivo.

— Confesso que nem eu sabia, aliás, eu nunca agi assim com tanta impulsividade. Saí da concentração que preciso, droga.

— Ei, mocinha. Vai dar tudo certo. Vire-se que vou te ajudar a se arrumar. — Antes de prender novamente seus longos cabelos, dou um puxão forte.

— Foco, Amapola. Agora é a sua hora de brilhar. Depois das pistas, você vai comemorar na minha pica, esquece saidinha com o Hills. — Ela ri deliciada.

— Parece que não estou sozinha no quesito possessividade.

E ela brilhou. A cada volta, a cada ultrapassagem, a cada segundo nos boxes. Amapola Fischer é foda e atravessa a linha de chegada com a bandeira quadriculada mais uma vez. Sua potência me contamina e vibro com a equipe.

Quando ela traz o carro para os boxes e a vejo comemorando com a equipe, me orgulho de trabalhar ao seu lado e entendo perfeitamente quando Robert Fischer me disse que eu iria descobrir porque ela chegou ao topo da XFI. Eu diria extremamente competente. Tenho até medo de atrapalhar sua vida tão equilibrada. Não tenho a sua força e nem a sua coragem. Quando ela entra, nem sei como agir. Se a beijo, se estico a mão ou se a fodo sobre o capô do carro.

Ela se mantém distante. Também vive um dilema. Não pode aceitar uma relação baseada em sexo, por mais que queira. Entra em sua sala e volta fantasiada de Fênix.

— A comemoração ainda está de pé? — Mordo os lábios para me controlar.

— Está super de pé. Parabéns. — Ela abaixa o olhar maliciosamente para conferir. Sinto uma fisgada me atingir.

— Me espere, Guto.

— Vá tranquila. — Ela sai, rodeada de sua equipe. Encosto-me no gradil e espero tudo acabar. Algo novo começa a tomar forma dentro de mim.

Sorrio sozinho.

PAIXÃO NO RETROVISOROnde histórias criam vida. Descubra agora