11 - AMAPOLA FISCHER

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Sabia que não devia provocar um homem imprudente. Depois que ele sai, subo para o meu quarto antigo e me jogo na cama. Desde que o conheci, sinto que ele tem algo que me atrai, que mexe comigo. Talvez o sex appeal, o jeito bruto, esse olhar intenso que enxerga o meu interior, a mesma paixão pelo automobilismo. Enrico nunca provocou esse tsunami em mim apenas com as mãos. As mãos e a língua, porque não posso esquecer que sua língua na minha boca se movimentou em sincronia com os seus dedos e me deu o orgasmo mais gostoso dos meus vinte e nove anos.

Mandei-o embora, porque queria mais, queria tudo, queria-o dentro de mim de outras maneiras. Agora sim, a confusão está feita.

Trabalhar junto, sentindo o seu cheiro amadeirado, tendo ainda um relacionamento que está em stand by para administrar.

A segunda-feira começa estranha, até eu me achar nessa nova condição. Porque os testes com o defeito do carro nos fez mais próximos. Encontro seus olhares quando estou na mesa dos projetos, na oficina, quando tiro meu capacete e meus cabelos teimam em sair do coque. Guto sabe o que está provocando em mim. Não me toca, em nenhum momento faz contato físico e nem precisa. Eu sei que ele está ali.

Eu não lembro de ter o meu corpo em alerta e desejoso dessa maneira. Isso mostra que meu noivado era apenas para me manter livre das especulações do meu pai. Eu não tenho certeza de nada, estou confusa. Pode ser que Guto ativou meus desejos sexuais que Enrico ultimamente não tem dado tanta importância.

— Algum problema, chefa? — Guto está parado na minha porta. É muita testosterona em um homem só...

— Apenas divagando. Entra aí. — Ele caminha elegantemente e se senta à minha frente, me perscrutando com os olhos.

— Eu quero pedir desculpas sobre sexta-feira. Eu não sabia que você estaria lá, nem o seu... noivo. Seu pai disse que tinha uma proposta para me fazer e eu fui ingênuo em acreditar nele.

— Então o velho usou esse truque em você? Faz com todos, fique tranquilo. Ele gosta de trabalhar com homens interessados em crescer profissionalmente. Eu só não entendi ainda por qual motivo ele me colocou nessa jogada. Nem eu e muito menos Enrico participamos desses encontros. Ele te disse mais alguma coisa quando te contratou e você não contou? — Apoio os braços na mesa, intimidando-o.

— Apenas o que você já sabe. Ajudar você a trabalhar menos, para que sobrasse tempo para os prazeres da carne e consequentemente ele teria o tão sonhado neto.

— Já falou para ele que essa sequência não vai mais rolar? Que o provável vencedor do campeonato foi para a última fila e possivelmente vai largar dos boxes?

— Acho que cabe a você notificar o todo-poderoso. — Ele se levanta da cadeira. — Informa também que quem assumiu a ponta pode suprir a ausência do último, até com mais probabilidade de chegar até o objetivo final.

— Augusto Speranzi! — Ele sai e fecha a porta.

Puta merda... puta merda. Eu não devia ter falado que estava dando um tempo com Enrico. Dei munição para ele usar isso a seu favor. Será que ele veio até a minha sala me provocar ou tinha algo a dizer, que acabou não falando? Olho o relógio e resolvo almoçar antes de questioná-lo sobre a visita. Não vou para o refeitório. Saio para comer em um restaurante próximo do laboratório e tiro um tempo para pensar. Encontro Franciele, a secretária do papai e conversamos enquanto almoçamos.

Acabo descobrindo que sinto falta de uma conversa feminina. Quando volto para a empresa, vou em busca de respostas.

— Macari, sabe onde está o piloto?

— Assim que almoçou, foi em direção à área de descanso.

— Valeu. — Vou em direção a área em que usamos para respirar um ar puro quando estamos estressados. Pelo menos é assim que esse lugar funciona para mim.

Ele está lá, deitado em um banco, com um boné no rosto. Aproveito a oportunidade para observar melhor o seu corpo. Ele combina com seus trinta e um anos. Pernas longas e musculosas em um corpo bem sarado, visível na camisa justa. O volume dentro da calça faz o meu coração acelerar. Parece enorme.

Amapola, você está olhando o pau do homem assim descaradamente? É isso aí, ele não sabe.

— Guto? — Ele se assusta e o boné cai no chão. Agacho-me ao seu lado e apanho para ele.

— Desculpe, não quis te acordar e nem te assustar. — Ele se senta e eu me sento ao seu lado.

— Não é que eu cochilei mesmo. Precisa de alguma coisa? — Ahh... sim, preciso saber o tamanho exato do seu pau, se ele cabe em alguns lugares que tenho em mente.

— Você foi a minha sala para falar algo. Não era importante?

— Na verdade, eu queria fazer um pedido.

— Pode fazer.

— Sei que esse fim de semana tem corrida e eu gostaria de saber se posso te acompanhar como funcionário mesmo, se for o caso. Faz algum tempo que não entro nos boxes. — Ele me surpreende com esse pedido. Não é algo que eu esperava.

— É que para isso eu terei que faltar por dois dias e como é minha chefa, não posso errar de novo, sendo um inconsequente.

— Eu não sou uma pessoa agradável nas pistas. Se você quiser ir tudo bem, mas por lá nada de XFI. Muitas pessoas nem sabem quem eu sou.

— Prometo não atrapalhar. Só mesmo para ver a dinâmica, sentir a adrenalina das pistas.

— Você não sente falta de correr?

— Como o ar que eu respiro.

— Sua lesão foi tão grave assim? Porque sinceramente, eu te vejo pilotando e não há nada de errado com você. Você é piloto de ponta. É um campeão nato.

— Eu não quero falar disso, Ama. É algo que não me faz bem e estou feliz aqui, trabalhando com você. Só pedi isso porque vi uma oportunidade de sentir a vibe das pistas profissionais.

— Se uma hora quiser se abrir comigo, estarei disponível. Também libero você do trabalho para me acompanhar nas pistas. Acho que só tenho a ganhar com isso. Suas impressões podem ser valiosas.

— Eu não vou te atrapalhar, chefa. Só fiquei com vontade de reviver o meu passado. — Fico ali olhando nos seus olhos, tentando entender o que aconteceu no passado para que ele tenha se tornado um simples piloto de testes.

PAIXÃO NO RETROVISOROnde histórias criam vida. Descubra agora