Juramento de Vingança

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Foi com um sobressalto que a garota havia acordado aquela manhã, estava deitada sobre uma cama de campanha, nada mais do que um amontoado de palha e cobertas improvisadas de pelagem de lobo. Preguiçosamente, quando a urgência do sono havia se dissipado e sua respiração normalizada, a jovem garota caminhou para a pequena janela em seu quarto. Eles haviam se mudado para um castelo menor, não passava de um forte de um dos pequenos lordes que seguiam seu pai, havia um pequeno baú com suas coisas, ou o que conseguiram trazer antes de abandonar tudo. O pequeno Cornnell dormia ao lado, parecia cansado sem perceber nada do que havia acontecido à volta deles e o quanto aquilo iria modificar suas vidas. As lembranças invadem a sua mente, o cheiro de sangue e fogo, os gritos ensurdecedores e o último suspiro de sua mãe, assim como a sua própria fraqueza. Se fosse mais forte, se seu poder aflorasse, e aquela imponência parecia um peso que a impedia de respirar. Seus dedos se agarravam à pedra da janela enquanto observava o pátio no andar de baixo, guerreiros treinam de maneira precária pelo acampamento mal feito. Estava tão concentrada que não havia percebido quando haviam adentrado no quarto.

—Princesa Alessia? Como está se sentindo hoje? O rei a aguarda no salão principal, devo levá-la para o desjejum. — Uma garota vestida de roupas simples, de cabelos longos de uma cor acinzentada surgia à porta.

Ela parecia ser uma simples empregada, mas podia ver por seus gestos que ela havia um certo refinamento em seu comportamento e em sua fala, possivelmente teve um treinamento para se comportar, quase como o de uma princesa. Alessia ignorou aquela sensação estranha e acompanhou a garota que a conduzia pelo castelo com certa facilidade, como se o conhecesse bem, provavelmente era filha do lorde que habitava aquele castelo. Alessia voltou sua atenção para o castelo, observando cada fragmento por qual passava e memorizando o que podia em sua mente. Algo que havia aprendido com seu irmão, sempre memorizar por onde passa em lugares desconhecidos, pois assim ao menos saberia como andar ali. Havia descido uma ampla escada circular e cruzado dois corredores menores antes de chegar ao corredor central que levava até o grande salão. Em si aquele salão era bem menor daquele que estava acostumada a ver seu pai, talvez um dos salões menores de reunião que ele poucas vezes usava, mas a presença dele ali não era inferior ao do grande salão. O rei Gregori era um homem opulento, alto e de extrema força bruta, não importava aonde ele estivesse, ou onde estivesse sentado, ele sempre inspirava respeito e medo. Apesar disso ele transpirava uma gentileza incomum, seus olhos aparentavam cansaço, mas ao se voltarem para sua filha se encheu de uma preocupação e carinho que mal parecia ter o tamanho que tinha.

— Vejo que está melhor minha querida, recuperou suas forças? — Perguntou fazendo um gesto para que ela se aproximasse, sentado ao seu lado havia um homem que parecia ter o dobro da idade de seu pai, o rosto aparentava ser muito mais duro e uma dureza fria que parecia reprovar a forma como o homem se dirigia a filha, com tão pouca cortesia. O rei levou as mãos aos cabelos da menina o acariciando como se tivesse medo de que ela se quebrasse.

— Sim papai.... Mas... por que me chamou aqui em vez de me visitar?

— Como sempre, perspicaz Alessia... A batalha nos custou muito, e por mais que queira, ainda não pude sequer dar as devidas honrarias aos homens e a sua mãe... Bem, eu acho que não conhece sua prima não é? Essa é Lucyn, filha de meu irmão Darius... Ela veio até nós a algumas luas a procura de exílio, ela não concorda com o que meu irmão está fazendo e por um tempo está morando com nosso querido Lorde Ugruth. — Apontando a mão gentilmente para a menina que havia trago Alessia até ali, foram as palavras do rei que fizeram um certo interesse despertar em seus olhos azuis.

Lucyn se assemelhava ao pai, ao menos o que lembrava por ver por pinturas, os cabelos eram cinzas, apesar de seu pai ser branco, os olhos azuis eram semelhantes aos seus, mas pareciam mais escuros. Ela devia ter cinco anos a mais que Alessia, e apesar das roupas serem de segunda mão, agora que a analisava podia perceber a postura e a sutileza que utilizava. O rosto esguio, empinado a olhava de cima com um certo orgulho, quando mencionada a jovem fazia uma pequena mesura, de maneira tão elegante e pomposa que Alessia não pode evitar de fazer uma careta.

Vínculos de Sangue - Cronicas dos Filhos das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora