Era meados de inverno, estavam caçando enquanto um grupo mais distante de seu irmão fazia a ronda pelas terras. Alessia usava uma lança enquanto se espreitava na mata, devido a seu tamanho, tinha facilidade em andar na vegetação e se esconder, evitando ser vista. Caçavam servos, raposas, ou o que surgissem que pudesse derrubar, as tempestades de neve começavam a se tornar frequentes, então sabiam que logo não teriam alimentos frescos naquela região. Estavam emboscando um cervo quando um estalo forte no flanco esquerdo soou, e logo em seguida avistaram Dylan, um dos mais novos, sendo arremessado até acertar uma árvore.
— ESTAMOS SOB ATAQUE! — O aviso veio a noroeste, provavelmente era Argun que acompanhava Dylan. Novamente um forte estrondo de algo se jogando sobre uma árvore era ouvido e então bem a frente de Alessia surgia um enorme lupino. Não, aquele não era um lobo comum, ela podia distinguir pelo tamanho, mesmo nas quatro patas que aquele era um lobisomem.
Já havia visto alguns, Faer havia atingido a maioridade no verão passado, assim como alguns outros dos seus, e apesar de não conseguir ainda controlar, podiam se tornar criaturas parecidas com aquela. Não estavam preparados para um ataque daquele tipo, mas Alessia não iria recuar, ainda mais que precisava retirar os novatos da caçada.
— Faer! Eu lhe dou cobertura! — gritou Alessia para o rapaz que estava a alguns metros à sua frente, apesar de caçarem em grupo, dividiam a área de caça por pares, formando um triângulo e assim pudessem isolar os animais no fundo, onde Alessia estaria. Por ser a menor e menos perceptível, sempre ficava no fundo, matando as presas com facilidade. Não era ideia deles vencer um Lobisomem daqueles, pela estatura e cicatrizes visíveis sobre a pelagem espessa era um desgarrado, provavelmente um rebelde, ou até mesmo um mercenário, mas poderia ser também aqueles que chamavam Feral, o qual a forma de lobisomem predominou sobre o homem. O animal se firmou em suas duas patas, se preparando para o ataque de Faer, não daria tempo para ele mudar sua forma, visto que como uma criança sem treino, não sabia ainda como invoca-lo.
Ele avançou para atacá-lo, enquanto Alessia vinha atrás do mesmo, usando a lança para acertar um golpe próximo as patas traseiras do animal, de forma a impedir que se concentrasse apenas em Faer. A verdade é que pouco treinaram tática daquele tipo, então um combate real com um inimigo se tornava algo extremamente perigoso. Mas não tinham tempo para duvidarem de si mesmo, a única coisa que podiam fazer era atacar, e foi isso que fizeram. Habilmente o intruso havia conseguido se esquivar do ataque de Alessia e se defender do ataque de Faer. A criatura rosnou para eles e com as garras tentou acertar suas pernas, Faer desviou do ataque com facilidade, mas Alessia acabou tendo o braço rasgado por uma de suas garras. O sangue vertia da ferida, manchando sua pele clara, a dor parecia irradiar por todo seu braço, mas isso apenas lhe dava mais adrenalina em seu corpo.
Alessia tomou um pouco mais de distância, tentando se manter oculta da visão do inimigo, enquanto Faer assumia a dianteira. Era uma tática arriscada com apenas dois, mas era a única que podiam fazer naquele momento, Faer tinha mais experiência para escapar dos ataques, enquanto que Alessia era rápida para dar os golpes. A garota focava nas patas traseiras, se conseguisse ferir um de seus joelhos iria dificultar a movimentação dele, mas quando finalmente viu uma abertura para atacar, o animal saltará para se distanciar dela, indo em direção a Faer em um ataque feroz. Ele era rapido, para um animal daquele tamanho era rapido demais, e por pouco o garoto não teve o pescoço dilacerado pelas mandíbulas ensandecidas do animal. Mas ele não escapou completamente ileso, sentiu os caninos enormes se firmarem em seu ombro, gravando em ambos os lados e perfurando sua carne.
Alessia escutou o grito de dor de Faer, mas foi o vermelho do sangue que a deixou alarmada, seus olhos podiam ver claramente o enorme animal sobre as quatro patas, o corpo completamente por cima de Faer. Não era a primeira vez que sentia aquele poder fluir, aquela onda de raiva invadindo seu corpo, mas havia sido a primeira vez que ela havia surgido com tanta força. Não teve um intermediário, não sentiu aquele ponto em que podia controlar a seu favor, ou que tinha consciência do seu corpo. Naquele momento tudo que conseguia ver era o sangue, o vermelho e a escuridão tomando conta, aquela onda de raiva subindo como bile. Até mesmo naquele momento não consegue se lembrar visualmente do que havia feito, mas lembrava do que lhe fora contato depois.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vínculos de Sangue - Cronicas dos Filhos das Trevas
VampiroVocê já se perguntou por que o mundo possui monstros?Por que existem as trevas? Você já escutou o chamado dela? Alessia Galahti foi uma das poucas que escutou o chamado das trevas, e graças a um pacto feito por seu pai, ela é conduzida até uma anti...