A calmaria antes da tempestade

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Lentamente os olhos da jovem se abriam, e na pouca luz de seu próprio quarto pensou ter visto algo sobre o pouco vapor que ainda saia de sua banheira, a água começava a esfriar, mas jurava que tinha visto um rosto sobre a neblina. Ainda deveria estar sonhando, o cansaço era tão grande que havia dormido dentro da banheira, e lentamente o sonho se desfazia em sua mente, se apagando pouco a pouco. Pegava um pouco da água morna e passava pelo rosto, esfregando o mesmo até que ao voltar seus olhos para a mão percebeu que elas estavam levemente azuladas. Por que suas mãos estavam azuis? Arqueou uma das sobrancelhas enquanto se erguia da água, e percebia que seu corpo estava com uma leve coloração azul onde a água ficará em maior contato com o corpo. Precisou de um segundo para entender o que estava acontecendo, voltando-se para o frasco de óleo, depositando um pouco sobre os dedos. A cor azul escorria como se tivesse vida, entretanto não devia ter aquela cor, o que indicava que alguém tinha mexido em seus óleos e só havia uma pessoa com essa capacidade.

— CORNEEEELLLLL!!!! SEU FILHO DE UMA PORCA IMUNDA! COMO OUSA!! — Esbracejava Alessia enquanto vestia apressadamente suas roupas, colocando um vestido de linho branco com um pequeno broche que o prendia próximo aos ombros. Nem se quer havia se dado ao trabalho de secar os longos cabelos negros que pingavam a agua de cor azul pelo piso de pedra quando abandonou seu quarto ainda gritando pelo irmão pelos corredores.

Serghei estava sentado sobre o grande salão, comendo um punhado de pão e queijo, as pernas estendidas em cima da mesa quando escutou os gritos de fúria de Alessia. Faer, Gruth e o velho caolha, Draell estavam discutindo sobre as provisões das tropas quando pararam para ver uma mulher azul em fúria.

— Parece que Cornnell aprontou de novo... — Disse Faer baixo o suficiente para que Alessia não o ouvisse, mas alto o bastante para aqueles que estavam na mesa. E ainda sim, era como se nesses momentos Alessia detinha o sentido da audição de um lobo, ela se voltou para eles e imediatamente se dirigiu para a mesa, as mãos espalmadas batiam com força contra a mesa, fazendo com que Faer e Gruth se encolhessem no mesmo instante.

— Onde está aquele cão imundo? Eu vou castrá-lo e deixá-lo preso nu do lado de fora e usá-lo como saco de pancadas!

— Acho que está na enfermaria depois da surra que levou do Brenneth hoje mais cedo... - Disse Serghei colocando um pedaço de pão sobre a boca sem disfarçar o pequeno riso surgindo sobre o canto da boca.

Ele era o único que não disfarçava a vontade de rir, pois sabia que sua irmã não iria lutar com ele, não agora, apesar de Serghei estar tentado a fazê-lo apenas para irritá-la ainda mais e ver liberar sua fúria sobre o irmão mais novo, era uma pena os pães serem mais atraentes. Alessia olhou para ele com fúria contida e logo em seguida foi em direção ao outro lado do castelo, atrás de Cornnell enquanto agora longe dos ouvidos e olhares da garota, Faer e Gruth se permitiam rir, enquanto o Draell apenas balançava a cabeça negativamente. Havia uma hierarquia silenciosa entre os irmãos, Serghei desconfiava que Alessia a muito havia ultrapassado sua agilidade e destreza no campo de batalha, mas ela era muito afoita, enquanto ele odiava ter que se dar o trabalho de fazer qualquer coisa. Sempre que tinha de lutar com ela preferia acabar logo com aquilo, muitas das vezes desistia por pura preguiça de lutar. Em contrapartida Cornnell era o único que conseguia vencer ambos, por seu poder em batalha? Não. Apenas por ser meramente irritante. Se Alessia o cansava apenas em balançar a espada, só de pensar em lutar contra Cornnell fazia ele pensar que era melhor apanhar para Brenneth.

Não demorou muito para se escutar uma comoção do lado de fora, fazendo todos irem para o pátio, mas Serghei sabia do que se tratava e por isso nem se deu ao trabalho de levantar. Parecia que Cornnell tinha um dom especial para irritar Alessia, e não era a primeira vez que ele fazia uma daquelas com ela, possivelmente ele passaria mais tempo na enfermaria do que pensou. Talvez por destino ou mera sorte, a briga dos irmãos fora interrompida quando cornetas no portão principal anunciavam que o rei estava para chegar, causando um alvoroço ainda maior pela desorganização de todos. Alessia mal tivera tempo de retomar para outro banho, usando feno úmido com óleos para retirar a tintura sobre o corpo, e por fim colocar um de seus melhores vestidos, tingido de cor de ferrugem e um corpete de tom preto sobre a cintura. Trançou os cabelos negros e os enrolou sobre a nuca para que formasse um coque, prendendo-os com fitas.

Vínculos de Sangue - Cronicas dos Filhos das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora