A Sede embota completamente a visão, os princípios e quanto mais a força dela, mais cego ficam. Caso estivesse diante de seu próprio irmão, este teria morrido para saciar-lhe a Sede. E então, enquanto ainda se prendia a sua vítima, presa ao saciar desesperador da sede e o horror do que causava sentiu o toque de Vallerius sobre seu ombro, fazendo com que pela primeira vez Alessia estivesse consciente do que estava a sua volta. Ainda estava no salão principal, a garota a sua frente ainda se encontrava quente, podia sentir e ouvir seu coração bater ainda, apesar de estar fraco. O lugar parecia claro, muito mais claro do que quando havia chego, será que era dia? Se perguntou ao voltar os olhos para a janela, mas não tinha certeza, piscou algumas vezes e então voltou seu olhar para o salão e o próprio vampiro. O gosto em sua boca era doce, como se fosse o mais doce dos vinhos, apesar de ainda sentir o gosto metálico. Podia ver do ambiente coisas que não havia reparado antes, como também ao voltar os olhos para o mais velho percebeu notar nele também algumas veias, quase a instigando a beber dele também, uma vontade insaciável de experimentar qual era o sabor do sangue dele agora. Como se lesse seus pensamentos ele lhe direcionou um tapa no rosto, mas a dor disso não surgiu, como ela imaginava.
— Controle a sede Alessia... antes que ela controle você... se não conseguir controlar ela nesse primeiro momento... não apenas irá matar essa garota como também terei que matá-la.
As palavras dele foram ásperas, duras, mas era o que ela precisava naquele momento e seus olhos se voltavam para a garota sobre seus braços. O primeiro horror desapareceu e naquele momento estava cogitando beber até o último gole de sua vítima, era apenas seu alimento, como o seu próprio cavalo o qual teve que usar sua carne para comer. Sangue é vida, é tudo que ela precisava, era o poder que ela precisava. Aqueles pensamentos a invadiam, era quase como se tornara apenas um animal querendo se alimentar, mas continuou olhando para a garota, poderia ter sido ela, havia sido sua mãe. Sua mãe... quem era mesmo? Leah... Leah Galatti. O nome de sua mãe a tirou do torpor, fazendo com que ela soltasse a garota com repulsa, fazendo com que o corpo enfraquecido caísse sobre o chão. Vallerius sorriu para ela, satisfeito por ela ter se saído bem e então pegou o corpo da criança do chão, a carregando consigo.
— Você logo se acostuma com sua visão... venha, a partir de agora começa a treino de verdade... e começaremos a colocar meus planos em prática. — Disse desaparecendo nos corredores, e certamente aquela doce menina jamais veria a luz do sol novamente, se transformando apenas na refeição do vampiro. Não que a jovem Alessia tivesse um destino diferente, agora ela já não fazia parte do mundo dos vivos. Se ela fosse se arrepender disso ou não, só saberia anos depois.
Era estranho para Alessia, a primeiro momento sentia dificuldade em se mover, era como se todo o seu corpo fosse diferente apesar de ser o mesmo. E coisas que antes eram comuns e passavam despercebidos sobre si agora pareciam incomodá-la como a ausência da batida de seu coração, ou o mover e som de sua respiração. Coisas que seu corpo antes era obrigado a fazer, agora nem sequer via necessidade para tal. Mas o maior incômodo era aquela sensação estranha no fundo de seu estômago, um vazio assolador capaz de consumir seu ser se permitisse, queimando suas entranhas a partir de sua garganta. Então, essa era a Sede que Vallerius havia dito, o maior pecado de Caim, o primeiro ao beber do sangue de seu irmão Abel. Agora as histórias que havia escutado o Vampyr contar faziam sentido, sem poder morrer assolado por aquela sensação, certamente teria enlouquecido qualquer um.
Não poderia ficar ali sentada para sempre, dessa forma Alessia se ergueu indo em direção às escadas que a levariam até as sombras, agora o lugar ao qual pertencia. Mas conforme andava pelos corredores percebeu que a luz que conseguia distinguir com clareza era na verdade a lua, e que agora como um deles sua visão havia se tornado muito melhor a noite. Algo que se confirmou quando chegou a escada íngreme e circular que levava até a dimensão do Abismo, podia ver claramente as escadas, e mesmo enquanto descia para cada vez mais dentro do escuro, mais ela conseguia ver. Quando seus pés atingiram o patamar mais baixo, sustentado pelas largas pilastras ao qual agora podia ver bem o caminho que elas seguiam, ainda não conseguiu delimitar o fim das bordas daquele lugar. Aquilo lhe causou um calafrio, e uma certeza ao qual nunca passou por sua mente era que, ao se perder naquele lugar, viveria vagando pelas trevas para sempre, sem jamais encontrar o fim.
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Vínculos de Sangue - Cronicas dos Filhos das Trevas
VampirosVocê já se perguntou por que o mundo possui monstros?Por que existem as trevas? Você já escutou o chamado dela? Alessia Galahti foi uma das poucas que escutou o chamado das trevas, e graças a um pacto feito por seu pai, ela é conduzida até uma anti...