Os caminhos trilhados

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Claro que naquela época eu acreditava que o que eu e Vallerius tínhamos era diferente, eu sabia que não era amor, na verdade imaginava que não, mas uma parceria, com certas regalias. Ele me ensinou quase tudo, e me moldou para que eu me tornasse quase como sua cópia, apesar que em parte nós éramos muito parecidos e hoje consigo ver isso muito bem. Tínhamos quase a mesma personalidade em muitas questões, assim como a ironia. E foi naqueles dez anos que passei como sua pupila que aprendi também que assim como os animais um dia foram para mim, os humanos agora não eram nada além de minha própria caça. A verdade nisso tudo? Ele não estava errado, não completamente, mas não era isso que me levou a fazer o que fiz. Foi a raiva, o ódio de descobrir que o pacto que meu pai fez não apenas me custou a vida de minha mãe, que morreu para defender seus filhos, e em um ato desesperado acabou criando um selo mágico que me custou meu lugar entre o clã. Como também todos aqueles anos que carreguei a culpa por ter rompido o lacre de Vallerius, quando na verdade eu não tinha culpa de nada. Para mim até aquele momento eu havia sido manipulada, primeiro por aquela criatura que estava possivelmente no fim do Abyssus... E depois por meu pai, que nunca me contou a verdade sobre seu pacto. Entretanto eu não sabia que aqueles atos me levariam até a minha prisão eterna e que o caminho que escolhi não afetaria apenas a mim ou a minha família.

Vallerius havia esquematizado tudo, era uma noite tranquila, não havia neve naquela época do ano, apesar do vento continuar sempre frio e cortante ali nas montanhas. Se podia ver as luzes das velas e lareiras vindo das casas e o som acolhedor de uma ou outra taverna naquela região, era um local populoso e com alguns guardas e guerreiros, pela estrada haviam colocado barricadas e armadilhas, certamente esperavam um ataque em breve. Observando agora do alto de uma árvore, ela começava a duvidar do plano de Vallerius, não achava que atacar aquela cidade levaria a alguma coisa, mas ao menos tinha que tentar. Juntos eles saltaram, pousando bem no centro da estrada. O homem usava uma calça de couro curtido escuro, assim como uma camisa do mesmo tom e uma manta que lhe cobria o rosto, enquanto Alessia usava uma calça de couro, junto com botas de cavalgar, um corpete preto onde havia prendido inúmeras facas pequenas na parte de trás e uma blusa branca com um decote sobre os seios, os cabelos longos amarrados por uma fita e um osso na parte de trás de sua cabeça, era carregado pelo vento frio desaparecendo na noite. A muralha que cercava a cidade era feita de pedras e um enorme portão fazia o trabalho de deixar os intrusos do lado de fora, apesar disso podiam ignorar e entrar sem serem percebidos, mas qual seria a graça disso afinal? A noite ia alta e os soldados só perceberam que alguém se aproximava quando estavam na penumbra das tochas.

— Quem são vocês e o que fazem aqui? — A pergunta veio por cima do som do vento, mas ele não obteve resposta. — Respondam ou iremos atacar! Quem são vocês e o que fazem... argh!

Vallerius lançou o primeiro ataque, acertando o guarda com uma faca de caça, que logo em seguida caiu da pequena torre do muro de pedra. Os portões de madeira estavam fechados, e seria até mesmo difícil para um vampiro comum conseguir entrar sem ser visto ou diretamente atacado. Mas ambos não eram vampiros comuns. Enquanto o outro soldado sobre a torre paralela percebia que seu colega fora morto, e se virou para o ataque, a vampira surgiu atrás dele, gravando a faca na lateral de sua armadura, levando a mão até sua boca, abafando qualquer som. Seus dentes eram gravados na garganta do guarda e bebeu de seu sangue, se deliciando com o sabor da adrenalina e do medo que provinha daquela refeição. Mas mesmo quando bebeu daquele homem, não se sentia saciada, nunca se sentia saciada apesar de sempre ter mantido o controle.

Não se demorou na torre, logo em seguida saltando da mesma para o solo, Vallerius fazia o mesmo andando em direção a cidade. Seu intuito ali não era apenas destruir o local, mas fazer um massacre para que pudesse chamar a atenção dos outros vampyrs. Iriam destruir a cidade para chamar a atenção deles para aquele vilarejo, quando os outros vampyrs surgissem para investigar, Alessia teria de exterminá-los enquanto Vallerius iria emboscar aquele que estivesse no comando, para que desse fim ao auxílio que seu tio estivesse tendo.

Vínculos de Sangue - Cronicas dos Filhos das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora