Aqueles que andam a noite

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Tinha se passado uma semana, quando tudo mudou, quando as chamas vieram e os gritos da noite não eram os de Alessia. A jovem acordou no meio da noite, não havia lua no céu e não dava para ver além do pátio do castelo, mas uma luz alaranjada parecia brilhar intensamente além da janela do seu quarto. O som de metal atingindo metal se ouvia ao longe, assim como o rugido de monstros, homens, o rosnar de lobos, o som da luta incessante e gritos que pareciam não ter fim. Apesar de fraca, a adrenalina em seu corpo fez com que a jovem menina corresse pela janela, estava ofegante quando cruzou o quarto, mas pode ver que uma das torres estava em chamas. Glenda entrou logo em seguida pela porta, carregava em um dos braços seu irmão mais novo, Cornnell, ela parecia assustada, e pela forma que resfolegava, ela devia ter subido as escadas correndo com ele.

— Venha rapido princesa... vamos... o castelo está sendo atacado... seu pai e seu irmão estão defendendo o portão, sua mãe pediu para que eu os levasse para a sala do trono... vamos... — Dizia a mulher robusta com pressa, alarmando a menina e a apressando.

Alessia simplesmente se lançou para o corredor, seu coração pulsava enquanto era conduzida por sua ama que apesar de seu corpo grande, parecia correr com maestria e agilidade pelos corredores, evitando de passar pelas áreas onde os soldados corriam, e os empregados desesperados procuravam se esconder. Sempre que possível a garota via por entre as janelas da torre ou dos corredores para além dos muros do castelo para ver quem os estavam atacando. Procurava pelo exército de seu tio, talvez um ataque surpresa, mas não conseguia distinguir mais do que alguns dos seus lutando contra alguma coisa, aqui e acolá dos seus maiores guerreiros os lupinos aqueles que são capazes de invocar os poderes ancestrais da descendência do tirano, transformando seu corpo em um lobisomem.

Glenda a puxou pelo braço no instante seguinte, e logo estavam rumando para o interior do castelo até a sala do trono. Quando chegaram ao local, Alessia reparou que sua mãe já estava lá, parada exatamente no centro do salão, ao contrário de muitos reinos, ali homens e mulheres lutavam de igual dependendo de seus poderes, sua mãe era uma exímia feiticeira, e não precisava exatamente estar no campo de batalha para conseguir lançar seus feitiços. Ela lembrava-se bem daquela cena, sua mãe vestia um longo vestido carmesim, sobre seus ombros havia um manto da mesma cor, e sobre seu peito havia um colar com um rubi. Ela havia lido anos depois sobre aquele colar, uma réplica idêntica estava com seu pai e um enorme rubi que havia na torre central do castelo, uma magia simples mas que era muito eficiente. Ela poderia ver a luta como um todo, não apenas do que acontecia com meu pai usando aquele rubi de catalisador, mas da torre principal que podia ver a luta muito abaixo de si e assim conjurando sua magia para ajudar ou atacar o inimigo. Era uma tática usada por anos, e por isso que o rei sempre deveria se casar com a feiticeira mais poderosa do reino, pois somente alguém com imenso poder poderia fazer aquele tipo de magia funcionar.

Ela segurava em ambas as mãos a frente do corpo o cajado feito de madeira, metal retorcido criando uma base para o cristal, o qual brilhava conforme ela balbuciava algumas palavras, o círculo arcano de magia se formava a sua volta sobre o chão enquanto ela lançava as magias. Seus olhos se abriam logo depois, se voltando para Glenda, o menino e Alessia, por fim voltando o olhar para a primeira, fazendo um pequeno sinal em concordância com ela. A ama correu com o pequeno Cornnell ainda no colo para além do trono, o colocando atrás de maneira a escondê-lo. Alessia ficou olhando de maneira perdida para tudo aquilo até que escutou a voz de sua mãe lhe chamando.

— Alessia minha querida... venha... fique com seu irmão e o proteja... não precisa ter medo, vamos defender esse lugar, vamos destruir nossos inimigos e quando o dia amanhecer estaremos tomando café juntos. — Ela dizia com um sorriso confiante, trazendo um pouco de segurança para a criança, sim, lembrava que ela mesma queria ser uma guerreira, poder estar lado a lado na batalha com seus pais, não deveria mostrar fraquezas agora.

Vínculos de Sangue - Cronicas dos Filhos das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora