Do linho ao fio

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Nos dias que se passaram, Alessia constatou que preferia estudar como administrar o reino e estratégia de campo do que etiqueta e linho que Lucyn ensinava. Odiava as aulas de danças, comportamento, costumes e formas de se portar. Não que gostasse das aulas de política que eram ensinadas por velhos irritados, para ela era tudo balela, nunca gostara daquilo. Chegava exausta de suas aulas, no início mal tinha tempo para pensar, sua cabeça girava em planos elaborados, como deveria agir com um nobre de outro clã, qual tipo de batalha deveria ser feita contra as tribos do sul. Ou deveria ser a luta contra o clã do norte, talvez a melhor saída fosse cortar a cabeça de todos... Aqueles pensamentos inundavam sua mente, até onde eram delas, até onde eram lembranças das aulas ou aquela sombra que vivia escondida em sua mente?

Dois tortuosos anos haviam se passado, Alessia ainda estudava com afinco o que podia, mas a cada dia que passava se encontrava mais e mais impaciente. Havia tocado no assunto de seu treino quando completará dez invernos, assim como os estudos que havia feito em segredo sobre a marca que ainda habitava sua perna. O símbolo consiste de um círculo arcano com algo que parecia ser uma rosa em seu centro, algo como uma corrente que parecia brilhar cruzando sobre o círculo criando um pentagrama como se prendesse a flor em seu interior. Era óbvio que era uma magia de contenção, mas não havia lugar algum em que aquele feitiço aparecia e não fazia ideia de onde sua mãe havia aprendido aquela magia. Mas mesmo pontuando sobre aqueles pequenos detalhes seu pai apenas rejeitou seu pedido, fazendo um pequeno gesto com a mão de maneira a dispensá-la. Seu pai nem ao menos havia lhe direcionado os olhos, estava concentrado sobre os papéis que estava assinando e outros que estava lendo.

Não estava em seus melhores dias, e já fazia mais de uma semana que observava seu irmão, Serghei preguiçosamente treinando com alguns novatos. Seu irmão era um exímio lutador, já havia visto-o lutar mais sério, e muitos dos soldados antigos afirmavam que ele era ainda mais excepcional. Mas ele sempre parecia fazer as coisas de maneira desleixada, sem vontade e isso a irritava mais que tudo. Estavam almoçando naquele dia juntos, fazia alguns poucos dias que seu pai havia voltado de uma nova ronda de reconhecimento para o castelo destruído. Pelo que ouvira de seus professores fazia alguns meses que seu pai tentava retomar o castelo para tentar reconstruí-lo, mas ocasionalmente havia tido ataques durante as noites a seus soldados. Mas não conheciam os seus inimigos e por isso se tornava extremamente difícil, não sabiam por que, mas aquela altura sabia que eles atacavam apenas durante a noite, e por algum motivo queriam mantê-los longe.

Alessia escutava calada, ajudando seu irmão mais novo, Cornnell a comer enquanto Serghei parecia entediado com a conversa entre seu pai e o general Crowels. Ela precisou respirar fundo dando um olhar enfurecido para o irmão e logo depois para o pai, sua paciência estava se esgotando. Era uma menina de dez anos, mas havia absorvido conteúdo e maturidade além de sua idade, assim como aprenderá a escutar a conversa dos adultos sem aparentar interesse.

— Deveríamos invadir a noite, cercá-los quando acharmos que não estamos lá e então os atacar... poderíamos deixar nossos homens escondidos nas árvores durante o dia, esperarmos por eles a noite senhor e então destruirmos essas criaturas com toda a nossa força.

— Se fizermos isso iremos deslocar um número muito grande de nossos homens para as montanhas, isso pode dar uma brecha para que Darius nos ataque enquanto estivermos ocupados com esses monstros... Temos que achar um jeito de eliminá-los sem nos tirar mais homens. Temos que arrumar uma emboscada...

— Não dará certo! — Disse Alessia se erguendo em um sobressalto fazendo com que a atenção de todos se voltasse para ela. Talvez tivesse dito aquilo alto demais, acabando por corar sutilmente. Pensou em se retrair, mas o momento de silêncio era o que ela precisava. — Papa... Meu rei... desculpe interromper mas... eu me lembro bem daquela noite... eles me viram, de alguma forma eles sabiam que eu estava ali junto com meu irmão. Não é apenas com relação ao cheiro, você precisa mandar alguém que eles não reconheçam.. e foi isso que minha mãe fez. Faça sua melhor guerreira, me deixe treinar pai, me deixe recuperar nosso reino e vingar minha mãe!

Vínculos de Sangue - Cronicas dos Filhos das TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora