Jogo o fósforo aceso para queimar qualquer evidência. Sempre uso equipamentos que não deixam digitais ou fios de cabelo, no entanto, é sempre mais seguro queimar as roupas.
Não perco tempo assistindo as chamas apagarem mais um de meus crimes. Retiro a placa temporária que uso somente para meus serviços e dirijo a BMW que também uso apenas para o trabalho.
A caminho de casa, fico lembrando do político desta noite de sexta-feira. Ele implorou de joelhos para que eu não o matasse. Achei engraçado, porque sei que o governador só se ajoelhava nas raras vezes que ia à missa, para manter as aparências ao público. Não se ajoelhava nem para chupar a própria esposa, tenho certeza.
Entro na minha cobertura e acaricio meu gato Tori antes de me direcionar ao banheiro da minha suíte para tomar banho. Tenho uma boate a comparecer, pois quero observar um de meus próximos alvos: a filha do deputado que assassinou minha mãe.
Como não estou a fim de dançar agora, me sento no banco do balcão e peço um drinque ao barman. A música da balada não está tão alta daqui, então consigo bater um papo com uma mulher bonita um ano mais velha que eu, quando meus olhos notam que o cara atrás dela põe alguma droga na bebida de uma jovem que virou o rosto para falar com uma amiga.
Uma fúria súbita me faz levantar e ir até eles. Sem pensar duas vezes, pego a bebida com a droga e explodo na cara do homem. Ele se levanta abruptamente, em choque. Empurro o cara, que tropeça no banco, quase caindo no chão. Estou gritando sobre ele ter drogado a bebida, a raiva afetando meu cérebro mais que o álcool.
A maioria da boate está me assistindo, mas foda-se, foda-se, foda-se! O cara está enxugando o rosto com um pano e me chamando de maluca. A vontade é de amassar seu rosto, deixar uma mancha roxa na sua pele pálida.
"Estuprador!" grito, empurrando o cara novamente.
Ele vai se afastando, ainda me xingando, e as pessoas vão voltando a seus entretenimentos, não fazendo nada para deter o predador.
A jovem que seria estuprada vem até mim timidamente e me agradece baixinho antes de se retirar com as amigas que vieram ficar com ela.
Preciso de um ar. Vou para um canto isolado na área externa da boate e acendo um cigarro.
Tomo um susto quando percebo que fui seguida.
Pele um pouco bronzeada de sol como a minha, olhos castanhos com delineador e sombra, cabelos castanhos escuros ondulados, barbeado, tatuagens nos braços e no peitoral depilado, múltiplos acessórios caros, roupa estilosa pra cacete... Impossível não saber quem é.
"Te achei uma heroína," Ettore D'Angelo me elogia, sorriso cativante.
Não estou cativada.
Assisto de longe a explosão de Magdala, com um sorrisinho que não consigo segurar. Eu nunca a vi estourar assim. Em breve, milhões de pessoas verão também. Termino de gravar o vídeo e guardo meu celular. O universo conspirou ao meu favor hoje.
Apesar de eu sempre ter evitado sua presença por saber que é filha do deputado Tiberius, não é fácil ficar sem notícias da socialite quando se ela está em todos os lugares: eventos, festas, redes sociais, canais de TV, revistas, nossa faculdade... Preciso me aproximar mais do que sua figura pública permite. Seu pai está trabalhando para conseguir a presidência e me incomoda tremendamente que o assassino da minha mãe esteja subindo no poder sem sofrer qualquer perda. O deputado é difícil de matar como um presidente é. Já sua filha, a vejo todos os dias, seja na universidade ou devido ao estilo de vida que levamos. Alvo simples. Conquisto sua confiança, ficamos sozinhos em algum lugar sem câmeras e tiro sua vida, ou melhor, tiro algo valioso do pai dela.
"Te achei uma heroína," me aproximo do alvo, pele clara um pouco rosada devido ao frio ou raiva.
Magdala estreita os olhos castanhos, "Desde quando você fala comigo?"
Desde quando eu passei a querer matá-la. "Nos vemos tantas vezes, até em finais de semana, e nunca nos falamos propriamente. Triste, não?"
"Se vai dar em cima de mim, saiba que tenho namorado," ela avisa, e dá uma tragada no cigarro.
Sei. O playboy do Luigi Ferrari. 23 anos. Filho de políticos. Rapaz desprezível.
"Presunçosa," respondo, para obter mais sua atenção. E também porque suponho que ela seja presunçosa mesmo.
"Oi?" a socialite se irrita, e apaga o cigarro no piso com o salto alto.
"Só quis vir elogiar o que fez minutos atrás. Sou fofoqueiro. Me julgue."
"O que iria acontecer com aquela garota não seria uma fofoca; seria crime. E não sou presunçosa. Apenas cautelosa."
Olho discretamente para suas gargantilhas de diamante que descem pelo decote V profundo do vestido curto.
"E por que você teria que ter cuidado comigo?" provoco. "O Ferrari é ciumento?"
"Cara, eu não te conheço," ela dribla a pergunta.
Sei de sua existência desde os 11 anos de idade. Ela possivelmente só sabe da minha há dois anos, quando tínhamos 18.
"Passei de um limite. Entendido," dou um passo pra trás.
Magdala parece surpresa com a atitude, como se não estivesse esperando respeito vindo de mim. Ótimo. Existe uma possibilidade de mudar sua falta de confiança na minha pessoa. Mas é bom que ela não espere muito, pois meu respeito durará pouco.
"Adorei seus brincos," elogio os brincos de cachoeira dela antes de ir embora da boate para arruinar sua reputação.
Instagram: rebookys
VOCÊ ESTÁ LENDO
MAGMA
RomanceSerial killer de políticos sujos e corruptos, o maior desejo de Ettore D'Angelo é eliminar a filha do magnata que assassinou sua mãe. Magdala Delacorte é a peça essencial para desestabilizar seu inimigo neste jogo mortal de vingança. Mas quanto mais...