Fiquei surpresa em vê-la ali, fazia meses desde a última vez em que a vi e garanto que não foi o melhor dia da minha vida.
- O que tá fazendo aqui?
- Fui convidada. Sou caridosa, lembra?
Ela me olhou da cabeça aos pés.
- Até que o tempo foi generoso com você, Elle.
Tentei me desviar dela e voltar para dentro, mas ela bloqueou a passagem.
- O que você quer!?
- Apenas conversar.
Mantive minha postura ereta e o queixo elevado, me mantendo superior à ela.
- Deve ser difícil, não é?
- O que?
- Querer e até mesmo ter que se casar com um homem que - ela riu, debochando. - Nunca vai ser realmente seu.
- Eu não teria tanta certeza disso, Leah.
- Nós duas sabemos que Nicolas é bem difícil de lidar quando o assunto é mulher.
Respirei fundo e manti meu olhar fixo ao dela. O que ela queria? Me deixar mal, manipular ou fazer algum tipo de showzinho? Enfim, ela não conseguiria muita coisa.
- Por que me procurou só pra falar algo que eu já sei? Você não vai conseguir nada de um jeito ou de outro. - dei de ombros.
Ela sorriu de um jeito convencido.
- Eu já consegui.
- Então somos duas. - sorri do mesmo jeito. - Não procure por algo que você não vai conseguir vencer, Leah. Eu não sou mais aquela menininha medrosa que conheceu.
Meus olhos ainda estavam fixos aos dela e tive a sensação de que a qualquer momento ela perderia o bom senso e tocaria em mim, era o que eu precisava.
- Estou atrapalhando alguma coisa, senhoritas? - ouvi a voz dele.
Desviei minha atenção e encontrei os olhos dele, Nicolas passou por ela e parou ao meu lado, passando a mão por minha cintura.
- Leah.
- Nicolas.
- Não. - respondi. - Estávamos apenas conversando.
- Bom saber. Se nos dar licença, preciso conversar com a minha noiva.
Noiva?
Leah me deu uma última olhada antes de virar de costas e voltar para a festa. Finalmente relaxei e voltei ao meu estado normal.
- Perdi alguma coisa?
- Eu sei que você ouviu toda a conversa, loirinho.
Ele riu.
- É. E foi bom saber que não é só em mim que você afia suas garras.
Ele entrelaçou nossos dedos e nos afastamos mais um pouco de tudo aquilo.
- Noiva. - murmurei. - Por que disse isso?
- A reação dela seria melhor do que se eu dissesse namorada, não acha?
Afastei minha mão da dele e disse:
- Não vou me casar com você.
Ele suspirou.
- Nós não temos que conversar sobre isso.
- Mas parece que com seu pai esse assunto é bem frequente.
- É diferente, Elle.
- Por que?
- Porque envolve muito mais. E não quero você em perigo.
- O que?
Ele respirou fundo e colocou as mãos nos bolsos, se apoiou no parapeito e me olhou outra vez.
- Eu ja deveria ter falado com você sobre isso.
- Sobre o que?
- Meu pai quer que eu case com você pra conseguir seus bens, mas é óbvio que eu não concordaria e ele.....- o loiro hesitou. - Ameaçou você.
Meu coração simplesmente parou de bater, tudo parecia congelado. Tudo parecia ser uma mentira.
Ele queria me matar pra conseguir tudo o que era meu.
- Por isso se aproximou de mim? - perguntei, ríspida.
- Não.
- Sem mentir, Nicolas.
- Não, já disse.
Foi preciso muito esforço da minha parte pra não deixar minhas pernas vacilar e eu cair ali mesmo, de repente ficou difícil respirar.
- Gabrielle, eu nunca deixaria que encostassem um dedo em você.
Coloquei a mão sobre o meu peito na tentativa de me acalmar e conseguir puxar o ar para os meus pulmões, não conseguia acreditar que a pessoa que me quer morta ou tomar tudo de mim é a mesma em quem comecei a confiar. A mesma por quem ousei me apaixonar.
- Elle!
Ele tentou se aproximar ao me ver passando mal, mas impedi que se aproximasse ou eu seria capaz de fazer alguma loucura.
- Eu confiei em você. - falei, segurando o choro.
- Eu não faria nada disso com você e sabe disso.
- Não! Eu não sei!
Tirei as drogas dos sapatos e por questão de segundos não atirei em sua direção antes de sair correndo dali o mais rápido possível, minha visão agora estava embaçada por conta das lágrimas e a única coisa que queria era desaparecer dali.
Conseguia ouvi-lo me chamar, mas antes que eu fizesse algo pior do que simplesmente jogar meus sapatos nele saí da propriedade, correndo pela rua tranquila.
Uma chuva intensa começou a cair minutos depois que saí, mas sequer me importei com isso, meu coração e neurônios estavam em frangalhos.
Como ele pode fazer isso comigo? Depois de dizer que me amava?
É claro que não amava. Como é fácil manipular a droga desse sentimento e enganar as pessoas!
Um frio absurdo tomava conta de todo o meu ser por conta da chuva e pensei até mesmo que minhas mãos fossem congelar assim como meus pés.
Me sentei na guia e como não havia ninguém por perto me permiti desabar, colocar tudo que estava sentindo pra fora.
Um carro se aproximou e antes que me deparasse com um completo estranho ou até mesmo aquele desgraçado, me levantei e voltei a caminhar.
- Elle. - ouvi a voz do meu irmão. - Vamos pra casa.
Corri até ele e o abracei com todas as minhas forças e voltei a chorar, o calor do corpo dele me fez sentir alívio.
- O que aconteceu? Nicolas me avisou que você saiu correndo.
- Pelo visto ele não contou toda a história.
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Consequência
Teen Fiction⚠️+16|| © 2022 Gabrielle e Nicolas se conhecem desde crianças, mas com o passar do tempo eles criaram um ódio mútuo tão intenso que permanecer por muito tempo no mesmo ambiente sem brigar é um sacrifício. Os dois tem um acordo pré-estabelecido gra...