CAPÍTULO 21: Eu não sei

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Fiquei surpresa em vê-la ali, fazia meses desde a última vez em que a vi e garanto que não foi o melhor dia da minha vida.

- O que tá fazendo aqui?

- Fui convidada. Sou caridosa, lembra?

Ela me olhou da cabeça aos pés.

- Até que o tempo foi generoso com você, Elle.

Tentei me desviar dela e voltar para dentro, mas ela bloqueou a passagem.

- O que você quer!?

- Apenas conversar.

Mantive minha postura ereta e o queixo elevado, me mantendo superior à ela.

- Deve ser difícil, não é?

- O que?

- Querer e até mesmo ter que se casar com um homem que - ela riu, debochando. - Nunca vai ser realmente seu.

- Eu não teria tanta certeza disso, Leah.

- Nós duas sabemos que Nicolas é bem difícil de lidar quando o assunto é mulher.

Respirei fundo e manti meu olhar fixo ao dela. O que ela queria? Me deixar mal, manipular ou fazer algum tipo de showzinho? Enfim, ela não conseguiria muita coisa.

- Por que me procurou só pra falar algo que eu já sei? Você não vai conseguir nada de um jeito ou de outro. - dei de ombros.

Ela sorriu de um jeito convencido.

- Eu já consegui.

- Então somos duas. - sorri do mesmo jeito. - Não procure por algo que você não vai conseguir vencer, Leah. Eu não sou mais aquela menininha medrosa que conheceu.

Meus olhos ainda estavam fixos aos dela e tive a sensação de que a qualquer momento ela perderia o bom senso e tocaria em mim, era o que eu precisava.

- Estou atrapalhando alguma coisa, senhoritas? - ouvi a voz dele.

Desviei minha atenção e encontrei os olhos dele, Nicolas passou por ela e parou ao meu lado, passando a mão por minha cintura.

- Leah.

- Nicolas.

- Não. - respondi. - Estávamos apenas conversando.

- Bom saber. Se nos dar licença, preciso conversar com a minha noiva.

Noiva?

Leah me deu uma última olhada antes de virar de costas e voltar para a festa. Finalmente relaxei e voltei ao meu estado normal.

- Perdi alguma coisa?

- Eu sei que você ouviu toda a conversa, loirinho.

Ele riu.

- É. E foi bom saber que não é só em mim que você afia suas garras.

Ele entrelaçou nossos dedos e nos afastamos mais um pouco de tudo aquilo.

- Noiva. - murmurei. - Por que disse isso?

- A reação dela seria melhor do que se eu dissesse namorada, não acha?

Afastei minha mão da dele e disse:

- Não vou me casar com você.

Ele suspirou.

- Nós não temos que conversar sobre isso.

- Mas parece que com seu pai esse assunto é bem frequente.

- É diferente, Elle.

- Por que?

- Porque envolve muito mais. E não quero você em perigo.

- O que?

Ele respirou fundo e colocou as mãos nos bolsos, se apoiou no parapeito e me olhou outra vez.

- Eu ja deveria ter falado com você sobre isso.

- Sobre o que?

- Meu pai quer que eu case com você pra conseguir seus bens, mas é óbvio que eu não concordaria e ele.....- o loiro hesitou. - Ameaçou você.

Meu coração simplesmente parou de bater, tudo parecia congelado. Tudo parecia ser uma mentira.

Ele queria me matar pra conseguir tudo o que era meu.

- Por isso se aproximou de mim? - perguntei, ríspida.

- Não.

- Sem mentir, Nicolas.

- Não, já disse.

Foi preciso muito esforço da minha parte pra não deixar minhas pernas vacilar e eu cair ali mesmo, de repente ficou difícil respirar.

- Gabrielle, eu nunca deixaria que encostassem um dedo em você.

Coloquei a mão sobre o meu peito na tentativa de me acalmar e conseguir puxar o ar para os meus pulmões, não conseguia acreditar que a pessoa que me quer morta ou tomar tudo de mim é a mesma em quem comecei a confiar. A mesma por quem ousei me apaixonar.

- Elle!

Ele tentou se aproximar ao me ver passando mal, mas impedi que se aproximasse ou eu seria capaz de fazer alguma loucura.

- Eu confiei em você. - falei, segurando o choro.

- Eu não faria nada disso com você e sabe disso.

- Não! Eu não sei!

Tirei as drogas dos sapatos e por questão de segundos não atirei em sua direção antes de sair correndo dali o mais rápido possível, minha visão agora estava embaçada por conta das lágrimas e a única coisa que queria era desaparecer dali.

Conseguia ouvi-lo me chamar, mas antes que eu fizesse algo pior do que simplesmente jogar meus sapatos nele saí da propriedade, correndo pela rua tranquila.

Uma chuva intensa começou a cair minutos depois que saí, mas sequer me importei com isso, meu coração e neurônios estavam em frangalhos.

Como ele pode fazer isso comigo? Depois de dizer que me amava?

É claro que não amava. Como é fácil manipular a droga desse sentimento e enganar as pessoas!

Um frio absurdo tomava conta de todo o meu ser por conta da chuva e pensei até mesmo que minhas mãos fossem congelar assim como meus pés.

Me sentei na guia e como não havia ninguém por perto me permiti desabar, colocar tudo que estava sentindo pra fora.

Um carro se aproximou e antes que me deparasse com um completo estranho ou até mesmo aquele desgraçado, me levantei e voltei a caminhar.

- Elle. - ouvi a voz do meu irmão. - Vamos pra casa.

Corri até ele e o abracei com todas as minhas forças e voltei a chorar, o calor do corpo dele me fez sentir alívio.

- O que aconteceu? Nicolas me avisou que você saiu correndo.

- Pelo visto ele não contou toda a história.

ConsequênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora