POV - PAULO ANDRÉ
Faz seis dias que mudei definitivamente pra São Paulo. O apartamento está uma loucura, parece que um tornado passou por aqui. Eu e Thays estamos organizando tudo aos poucos. Além de ter que desencaixotar tudo ainda estamos em processo de reforma no quarto que será do Pazinho e também no quarto de hóspedes. As arquitetas que a Jade indicou são anjos na terra. Elas entenderam o que quero e desenharam o projeto idêntico ao que imaginei, não precisou fazer nenhuma alteração.
Eu e Thays estávamos tendo dificuldade de adaptação. Sempre tivemos uma ótima relação de amizade, mas nunca moramos juntos. Tem sido um difícil processo e é como se estivéssemos tendo que aprender a ser um casal. Principalmente por conta de estar morando no mesmo prédio que a Jade e somente dois andares acima. Todo dia era uma briga por conta disso, ela cismou que tínhamos que nos mudar. Só se acalmou um pouco quando a Deja viajou para o Coachella.
Ahhh o Coachella. Eu nem imaginava que ficaria tão furioso com essa viagem.
Logo no primeiro dia ela me deixou intrigado ao repostar um storie com outro cara. Aquilo me tirou o sono, fiquei tão maluco por conta daquilo que mandei mensagem no direct e como ela não respondeu mandei mensagem no Whatsapp.
Mas a minha chateação de ontem não se compara com a de hoje. Sabe aquele dia que você acorda poucas ideias? Eu estava dez vezes pior. Minha cabeça tava fritando ao ponto de me deixar louco. Passei a noite rodando de um lado pro outro da sala. Estava irritado. Com raiva dela por não me responder. Chateado por vê-la quase que esfregando na minha cara que está com outro. Não conseguia mais nem abrir o Instagram.Trabalhei tão irritado que nem o meu empresário estava me suportando naquele dia. Não saia da minha mente os comentários deles nas redes sociais. Quem é esse cara? Como ela o conheceu? O que ela viu nele pra está íntima de forma tão abrupta? Não queria nem pensar na possibilidade deles terem feito algo. Aquilo perturbava a minha mente de tal maneira que só de pensar ficava ainda mais irritado.
Zé mandou eu ir pra casa, disse que a minha energia ta tão pesada hoje que estava fazendo mal até a ele.
Tô sentindo raiva dela. Tô irritado pelo fato de estar me ignorando. Mas tô com ainda mais raiva de mim mesmo por está com esse sentimento com relação a ela. Jade deixou claro que é só minha amiga e eu deixei claro que tinha tomado uma decisão, então não tinha porque querer cobrar nada até porque ela é livre pra fazer o que bem entender. Só que esse sentimento esta me consumindo por dentro ao ponto de afetar em tudo que eu precisava fazer. Só de pensar que outra pessoa pode esta beijando sua boca, tocando seu corpo, acariciando seus lábios, me deixa furioso. Aquilo estava me afligindo tanto que eu era capaz de pegar um voo e ir até lá só pra arrancá-la dos braços de quem quer que seja esse cara. Confesso que essa possibilidade passou pela minha cabeça várias vezes, mas eu não tenho esse direito. E como se não pudesse ficar pior, estou me sentindo infeliz na minha própria casa. Parecia que eu e Thays não conseguíamos encaixar em nada. Eu estava tentando de verdade. Mas nada parecia ser suficiente. Tudo irritava ela. Tudo ela reclamava. Tudo colocava defeito. Se eu arrumava algo, ela se irritava porque não tá do jeito que ela quer. Se eu deixava jogado, era preguiçoso. Se cozinhasse, ela não gostava ou arrumava um jeito de encontrar algum defeito pra falar. Se não cozinhasse, é porque sou mimado. Fora o fato de estar me sufocando querendo saber tudo que faço no meu dia e caso eu atrase cinco minutos do horário combinado ela só falta surtar. Tudo aquilo estava me esgotando e ainda não faz nem uma semana que nos mudamos. Deus me livre pensar que passaria a vida assim.
A única pessoa que era capaz de me acalmar é o Pazinho. Ele era o meu refúgio nesse momento. Vê-lo sorrindo, brincando e aprendendo algo novo todos os dias é a maior benção do mundo. Agradecia a Deus todos os dias por meu filho está bem, com saúde e por me dar a oportunidade de proporcionar tantas coisas boas a ele. Assim que consegui fazê-lo dormir, coloquei ele em seu bercinho improvisado no nosso quarto e coloquei sua naninha em seus bracinhos. Ele ama dormir agarradinho com isso. Dei um beijo em sua cabecinha, deixei só a luz do abajur acesa e sair do quarto.
Fiz uma tapioca pra jantar. Estava com muita fome e queria fazer algo rápido pra comer.
Thays levantou do sofá e foi até o fogão.
T: "PA, olha o que você fez com a frigideira!" - Ela virou pra mim pra mostrar. Tinha arranhado sem querer com a colher. Pedi desculpa. - "Você destrói tudo. Não consegue fazer nada direito sem eu supervisionar. Tem que crescer, já tá me deixando sem paciência o fato de você não fazer nada direito dentro de casa."
PA: "Você reclama de tudo." - Falei baixinho.
T: "O que você disse?"
PA: "Que reclama de tudo, cê é louco."
T: "Eu reclamo?" - Questionou rindo e eu confirmei. - "Você deixa tudo jogado pela casa como seu eu fosse sua empregada. As roupas, sapatos, toalha, seus equipamentos de trabalho. Deixa tudo espalhado e eu vou atrás pegando e guardando tudo."
PA: "Eu guardo no lugar sim. Só que do meu jeito. Se eu coloco a toalha pendurada no box, você tira e coloca na varanda. Se coloco o sapato na sapateira, você tira e coloca no closet. Coloco meus equipamentos em cima da mesa, você tira e coloca na escrivaninha da sala. Até a forma como dobro a roupa você reclama. Já tô sem paciência. A única coisa que sabe fazer todo dia é reclamar e mais nada. Fala do nosso apartamento, das arquitetas que escolhi, dos contratos que eu fecho, com quem devo ou não falar. Parece até uma prisão." - Ela sentou na cadeira que estava na minha frente e começou a chorar.
T: "Você acha que só você tá se sentindo sufocado? Eu também tô, poxa. Mudei pra outro estado onde não conheço ninguém, numa casa que eu não escolhi, em um prédio que eu não queria está, com arquitetas que eu não escolhi e ainda não estou trabalhando e fico presa o dia todo aqui. Você poderia deixar de ser tão insensível e tentar entender que o fato de talvez eu está tentando organizar as coisas aqui dentro e da minha forma, seja apenas uma maneira de tentar me sentir no controle de pelo menos alguma coisa." - As últimas palavras ela disse gritando. Estava furiosa. Eu tentei acalmá-la, mas ela se irritou mais e me empurrou. - "Como acha que eu me sinto sabendo que o fato de você está tão irritado é porque tá apaixonado por outra e que está comigo só porque ela deu um chute em você... Hein, como acha que eu me sinto?" - Ela esbravejou tudo em cima de mim e bateu na mesa com tamanha força que suas mãos ficaram vermelhas. - "Eu me sinto a pessoa mais idiota do mundo por tentar fazer com que isso aqui dê certo. Não vai dar. Não fomos uma família nem quando éramos só nós três, quem dirá agora que tem mais uma pessoa." - Ela respirou fundo e tentou secar o seu rosto, mas foi em vão porque as lágrimas não paravam de escorrer por seu rosto. - "Eu me sinto mal por ter raiva dela. Quando vocês se conheceram nós dois já não estávamos ficando há meses, já tínhamos nos separado. Jade não tem culpa de nada. Até dói colocar pra fora, mas a verdade é que a outra sou eu. Fui eu que fiquei no meio de vocês dois tentando fazer dar certo o que nunca deu e nem vai dar porque não nos amamos de verdade. Não como um casal. Apenas como amigos."
Ouvir ela dizer tudo aquilo me deixou muito mal. Eu estava pensando tanto só em mim que em nenhum momento tentei entender o lado dela. Estava me sentindo um canalha por ter a tratado tão mal ao longo desses dias. Por ter sido frio com ela, até grosso em alguns momentos. Eu não era assim. Nunca tratei mal as pessoas, nunca fui de desrespeitar ninguém.
Peguei uma de suas mãos e pedi pra que olhasse pra mim.
PA: "Thays, eu quero pedir perdão pela forma que tratei você, pelas grosserias, por não tentar me colocar no seu lugar e buscar entender o que você estava sentindo. Acho que nós dois nos perdemos de nós mesmo ao tentar fazer algo que não era pra gente e acabamos nos magoando. Não precisamos ficar juntos pro nosso filho ser feliz. Nós sempre conseguimos cuidar dele e dar tudo que ele precisava sem sermos um casal. Você dava o seu melhor e eu o meu. O que vai fazer mal pra ele é nós mesmos se continuarmos assim. Um ambiente desses não é saudável nem pra gente, imagina pra uma criança. Eu amo você e sempre terá um lugar na minha vida, mas esse lugar é apenas como amiga... Eu quero que seja feliz, quero que seja realizada no seu trabalho, tenha a casa do jeito que deseja, que realize os seus sonhos e que um dia encontre alguém que ame você do jeito que merece e te faça ainda mais feliz. Mas essa pessoa não sou eu. Errei em tomar uma decisão sem pensar de forma racional nas consequências."Aos poucos ela foi se acalmando e parando de chorar. Levantei e peguei um copo com água pra oferecê-la. Tomou e respirou fundo tentado se recompor.
T: "Eu também preciso pedir perdão. Você não é o único errado nessa história, eu também tenho muita culpa nisso. Por não ser mais tolerante. Por não saber me expressar e descarregar algo pesado em cima de você e principalmente por ter pedido algo tão sério e importante no momento que você tinha acabado de sair de um lugar no qual ficou confinado por quase quatro meses. Aquele não era o momento pra ter falado sobre isso. Você mal havia dormido naquela semana, tinha milhares de informações sendo jogadas em cima de ti. Sua cabeça estava uma confusão e eu falei no momento errado. Talvez se eu tivesse esperado mais, deixar passar uns meses, pensaríamos com mais clareza e não teríamos nos machucando."
Essa deve ter sido a conversa mais sincera que tivemos entre nós desde que sair do programa. Isso era nós dois. Uma relação de respeito e amizade e não o que estávamos sendo um pro outro nas últimas semanas.
PA: "Eu posso deixar você aqui nesse apartamento com o Pazinho e procurar um outro lugar pra mim. Posso ver um hotel pra ficar até resolver isso."
T: "De jeito nenhum. Eu não quero esse apê, quero o meu próprio espaço. Eu mesma quero escolher tudo." - Insisti, mas ela disse e reafirmou várias vezes que ia fazer tudo por conta própria. - "Eu queria mesmo é voltar pra Espírito Santo, mas sei que tenho muito mais oportunidades aqui, então vou juntar minhas economias e procurar um lugar que eu mesma possa bancar."
Sei o quanto é importante pra ela ter o seu próprio dinheiro, fruto do seu trabalho. Então ia fazer de tudo pra ajudá-la a começar a vida aqui em SP.
PA: "Fica aqui enquanto procura o seu próprio espaço. Você dorme no quarto com o Pazinho e eu durmo aqui no sofá. E nem adianta teimar comigo porque não vou ceder. E amanhã mesmo vou falar com o Zé pra enviar seu currículo pras empresas que ele conhece."
Ela sorriu pra mim e agradeceu. Pedimos perdão mais uma vez pelas nossas atitudes e nos abraçamos. Independente de qualquer coisa quero que ela seja feliz porque além de ser a mãe do meu filho, também é uma grande amiga.Pela primeira vez em semanas sinto que tomei a decisão certa. Tudo estava confuso na minha vida pessoal e isso estava me desgastando e afetando as pessoas que mais amo ao meu redor. Não quero mais ter essas atitudes impulsivas e sem pensar em todas as consequências dessa escolha. Preciso retomar minha vida e colocá-la nos trilhos novamente.
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Predestinados (JADRÉ)
FanfictionApós o fim da experiência mais louca de suas vidas Jade e PA se reencontram em um pós turbulento, desafiador, intenso e repleto de desejos. A história que começou no lugar mais inesperado se tornaria a maior de suas vidas.