Desespero

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Nina e eu decidimos maratonar a série Emily em Paris e depois assistimos o filme Cruella. Tive várias inspirações para as próximas coleções e debatemos muito sobre isso enquanto assistíamos. Fizemos até alguns esboços nos papéis. Cabeça de empreendedor vai a mil em qualquer oportunidade. Pegamos referências em tudo a nossa volta. Ela esta ali comigo me fez muito bem. Consegui distrair a minha mente e também trabalhar um pouco e tudo isso dentro das recomendações médicas.

Acabei dormindo após nossa maratona. Mas não foi um sono pesado. Era daqueles que acordamos com uma sensação terrível e com palpitações como se estivéssemos caindo de um prédio. Abri os olhos assustada e levou um tempo até entender onde estava. Respirei fundo tentando me acalmar. Nina estava ao meu lado dormindo tranquilamente. Senti o meu corpo quente. Coloquei minha mão no meu rosto e depois no braço e percebi que estava fervendo. Provavelmente com febre. Me mexi um pouco na cama e só então percebi um líquido quente escorrendo por minhas pernas. Afastei imediatamente o lençol de mim e arregalei os olhos ao ver uma poça de sangue.

J: "NINA!" – Gritei tão alto que ela deu um salto desesperado da cama.

Ela olhou para mim e depois olhou para as minhas pernas e seus olhos ficaram tão arregalados quanto os meus.

N: "Pelo amor de Deus!" – Ela disse colocando as mãos na cabeça.

J: "Vamos pra emergência!" – Ela me ajudou a levantar e a me limpar. Coloquei um vestido qualquer e dois absorventes pra tentar conter o sangue ali.

Ligava desesperadamente pra minha obstetra enquanto descíamos no elevador. Quando ela enfim atendeu disse o que estava acontecendo e ela pediu para que eu fosse imediatamente para maternidade que ela trabalha. Nina avisou o PA que estava indo direto do trabalho pra lá. Enquanto estávamos a caminho no carro, senti mais sangue descendo e lágrimas começaram a escorrer por meu rosto. Liguei pro meu pai em prantos pedindo pra ele ir pra lá comigo. Estava com muito medo. Nina tentava me acalmar, mas não havia nada que ela pudesse me dizer naquele momento que pudesse trazer paz ao meu coração.

Assim que cheguei a Dra. Carla já estava me aguardando na área de emergência da maternidade. Imediatamente ela solicitou da enfermeira um ultrassom portátil. Ela me examinou e seu olhar não era bom.

J: "Doutora, o que tá acontecendo?" – Questionei aflita.

Ela pediu para que eu deitasse e apertou minha mão. Ela tentava transmitir calma através da sua expressão corporal, mas seu olhar era impenetrável. Parecia que estava escondendo algo.

Dra.: "Jade, preciso que se acalme. Vou avaliar melhor com o ultrassom, mas preciso que respire fundo e tente relaxar um pouco." – Sua voz era doce e suave, mas seu olhar só me deixava ainda mais nervosa.

Tentei relaxar um pouco enquanto ela colocava o gel na minha barriga, mas eu estava com muito medo. Nina segurava a minha mão e conseguia ver o quanto ela estava se esforçando pra não chorar ao meu lado.

Quando enfim ela colocou aquele pequeno aparelho na minha barriga, pela primeira vez eu não ouvi som algum. Imediatamente senti como se o meu coração tivesse parado por alguns segundos. Era como se o ar tivesse sido arrancado dos meus pulmões e minha garganta se fechado. Olhei para o monitor e ele estava ligado.

J: "Porque não consigo ouvir o coraçãozinho dele bater?" – Perguntei com a voz trêmula.

Senti ela fazer um grande esforço pra me responder. Ela parecia estar pensando o que falar.

Dra.: "Sinto muito, Jade!" – Respondeu cabisbaixa.

Minha cabeça girou e minha visão ficou completamente turva. Senti minha pressão baixar e como se algo puxasse meu corpo para baixo. De repente senti um peso tão grande em minha nuca que minha cabeça inclinou pra trás sem força de mantê-la em outra posição a não ser encostada ao travesseiro. Havia uma forte pressão em minhas têmporas e tinha até mesmo dificuldade pra respirar. Senti minhas mãos e lábios gelarem e uma dor tão profunda no peito que queria poder arrancá-lo de mim naquele momento. Com muito esforço consegui olhar pra ela.

Predestinados (JADRÉ)Onde histórias criam vida. Descubra agora