Eu não tinha reação alguma. Chorei tanto na noite anterior que era como se toda a água do meu corpo tivesse esgotado. Olhava fixamente para um ponto qualquer da parede do hospital. Sentia como se o meu peito estivesse rasgando por dentro. Dor. Muita dor. Mas essa é ainda pior. Não é uma dor física que um sedativo pode passar, é dor emocional. É na alma. Aquela que palavra ou gesto algum é capaz de pará-la. A culpa contribuía ainda mais. Tantas possibilidades rondavam a minha mente. Eu não o queria. Não o amei o suficiente. Não fiquei feliz. Eu bebi. Fiz treinos pesados. Continuei trabalhando por horas seguidas em pé. Não me esforcei mais pra me alimentar. Como pude ser egoísta ao ponto de querer que todos aqueles sintomas parassem ao invés de me esforçar pra me sentir um pouco melhor.
Senti alguém se aproximar de mim, mas não conseguia desviar meu olhar do ponto que estava encarando.
"Jade? Jade está me ouvindo?" – Reconheci a voz. Era a doutora Carla. Permaneci atônita.
Ela colocou as mãos em meu rosto na vã tentativa de me despertar do meu transe.
Dra.: "Jade, clinicamente esta recebendo alta hoje" – Permaneci estática. – "Ocorreu tudo bem no procedimento..." – Meu corpo sentiu um leve estalo com aquela palavra.
Procedimento.
Imediatamente lembrei da sensação na noite anterior quando o perdi.
Senti meu coração errar as batidas e rasga-se mais um pouco. Uma dor que me arrancou o fôlego por alguns segundos. Fechei os olhos desesperadamente pra escapar da dor. Foi como uma onda de tortura por todo meu corpo. Foi minha culpa.
Ela permanecia a falar. Não mais comigo.
Ouvi outras vozes também.
C: "Tem certeza que podemos levá-la pra casa assim?" – Meu pai perguntou com a voz embargada.
Dra.: "Ocorreu tudo dentro do previsto ontem, não há mais motivos pra mantê-la aqui. O que a Jade vai precisar agora é de apoio emocional, terapia, mas clinicamente não há nada mais que possa ser feito."
PA: "Você tem algum especialista pra indicar?" - Ele questionou quase sussurrando.
Dra.: "Conheço um terapeuta especialista nesse caso, mas ela precisa estar aberta pra isso. Não adianta levá-la contra o seu consentimento, isso pode piorar."
Eles continuaram conversando por um tempo, mas minha mente não conseguia mais absorver absolutamente nada do que eles estavam falando. Eu só percebi que ainda estava no hospital quando Nina se aproximou de mim e com muito esforço me sentou na cama pra trocar a minha roupa.
Ela retirou delicadamente aquela bata e colocou um vestido em mim. O mesmo que eu havia ido pra lá. Seu olhar era de tristeza.
Sempre digo que as coisas me atravessam, mas não me derrubam. Mas como não sentir isso? Como não sofrer com o impacto terrível que causa? Como reagir? Eu não tinha forças pra levantar. Eu não tinha coragem de encarar ninguém nos olhos. Eu não conseguia. Me sentia culpada.
Eles me levaram dali.
Se me perguntassem como cheguei ao meu apartamento eu não saberia dizer. Não sei como eles me colocaram no carro, nem mesmo o caminho que seguiram até lá e nem como me conduziram do térreo até o meu quarto.
Nina retirou a minha roupa e me deu um banho. Sentia a água quente escorrer por meu corpo, mas não conseguia mover um músculo dentro daquele Box. Ela me ensaboou, enxaguou meus cabelos. Secou o meu corpo e então ajudou a me vestir. Penteou delicadamente os meus fios, desembaraçando-os e me levou até a cama.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Predestinados (JADRÉ)
FanfictionApós o fim da experiência mais louca de suas vidas Jade e PA se reencontram em um pós turbulento, desafiador, intenso e repleto de desejos. A história que começou no lugar mais inesperado se tornaria a maior de suas vidas.