Conversa franca

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Sentei em silêncio encarando a mulher com os olhos marejados a minha frente. Essa não era a maneira que havia imaginado que seria a minha noite, mas senti que precisávamos esclarecer algumas coisas de uma vez por todas. Olhei para o lado e observei o PA mover-se deliberadamente pela sala, provavelmente pensando se deveria mesmo nos deixar sozinhas ali. Seu olhar encontrou o meu, ele soltou um longo suspiro.

PA: "Vou pro quarto ver como estar o meu filho." – Disse atravessando lentamente o cômodo até enfim nos deixar a sós.

Voltei minha atenção para ela que estava claramente tão desconfortável quanto eu.

Respirei fundo.

J: "Vamos esclarecer logo as coisas de uma vez por todas, porque realmente você veio até aqui?"

T: "Já disse inúmeras vezes que vim pegar o meu filho." – Respondeu evitando contato visual, desviando seus olhos rapidamente dos meus. – "Não quero que ele cresça perto de você."

J: "Da última vez que nos encontramos lembro claramente quando disse que pra você tudo bem minha relação com o PA, não tô entendendo essa mudança repentina."

T: "Em nenhum momento eu disse que pra mim tudo bem meu filho fazer parte disso."

J: "Ah, mais é claro! Porque não pensei nisso antes? Com certeza consigo estar com ele sem que a pessoa mais importante da vida dele esteja presente." – Até tentei, mas a ironia nas minhas palavras saíram mais rápido sem que conseguisse as conter. – "O que aconteceu com o seu relacionamento? Por acaso está tentando punir o PA só porque o seu não deu certo?"

T: "Não vou ficar aqui ouvindo seus desaforos." – Disse se levantando.

Num impulso me coloquei de pé, coloquei minhas mãos delicadamente em seus ombros e pedi pra que sentasse novamente.

T: "Não!" – Revidou.

J: "Será que podemos ter uma conversa civilizada?" – Revirei os olhos. – "Não somos amigas, isso sempre foi muito claro entre nós duas, mas eu amo o Paulo André e o Peazinho faz parte da vida dele e aquela criança doce, meiga e inteligente que tá no quarto ao lado não merece passar por um desgaste emocional vivenciando briga entre os pais e já que você veio até aqui por ele, preciso dizer que eu vou sempre desejar o bem dele tanto quanto vocês. Então, por favor, senta e vamos nos resolver logo de uma vez."

Seu corpo mesmo ainda tenso cedeu ao meu pedido. Suas mãos apertavam com força o estofado do sofá.

T: "Eu... eu... é..." – Ela instintivamente tocava seu rosto e pescoço. – "Tentei de todas as formas fazer meu relacionamento dar certo, até mesmo acabei me afastando um pouco do meu filho no processo e me arrependo disso, mas... é que não tem... não tem como... é impossível se não gosto da pessoa que estou, pelo menos não da forma que eu deveria."

Fechei os olhos ao escutá-la confessar o que eu temia.

T: "Eu sei que se amam, sei que não tenho chance alguma, mas não quero perder o meu filho também."

Olhei para ela novamente sem entender.

J: "Como assim?"

T: "Tenho medo do meu filho acabar amando mais você do que a mim, assim como ele."

J: "É com isso que tá preocupada?" – Suspirei. – "Isso não vai acontecer."

T: "Não é só isso, também me preocupo com o bem estar dele. Você já foi embora uma vez, se o meu filho se apegar demais pode acabar sofrendo também caso decida terminar o relacionamento mais uma vez."

Predestinados (JADRÉ)Onde histórias criam vida. Descubra agora