Coragem, Jade!

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Estava tendo uma crise de choro dentro do meu carro, no meio da Avenida Paulista. As lembranças do dia que perdi o meu anjinho tomaram conta de mim e um medo avassalador de perder outro bebê ou de não conseguir engravidar me invadiu de uma forma assustadora. Respirei fundo tentando repor o ar nos meus pulmões – Não acredito que estou parada na frente do consultório da minha médica me deixando ser dominada pelo medo. – Fechei os olhos com força tentando arrancar de alguma forma essa sensação de mim. Quis tanto estar aqui hoje, não vou me acovardar ao ponto de não sair desse carro.


Dei um sobressalto ao ouvir batidas no vidro da janela. Céus! Sentia como se o meu coração pudesse sair pela boca a qualquer momento.


Soltei um suspiro ao ver a minha mãe e destravei a porta.


Minhas pernas estavam bambas. Minha mãe entrou no carro, sua testa enrugou ao ver o meu estado. Ela me envolveu em seus braços, a sensação de alívio foi imediata ao sentir seu toque.


J: "Mamãe." – Pronunciei seu nome entre soluços.

M: "O que tá acontecendo? Porque você tá assim?" – A cabeça dela deveria estar um turbilhão, quando liguei para ela não disse nada além do lugar onde eu estava e a placa do carro. Minha mãe nem mesmo sabia sobre minha consulta ou o motivo desse agendamento. – "Filha, será que pode falar? Eu tô preocupada."

Expliquei para ela o porquê estava ali, o que a deixou levemente mais calma.

J: "Tenho medo de ter outra perda ou de nunca mais conseguir engravidar."

M: "Não precisa ter medo, vai ficar tudo bem." – Ela colocou suas mãos no meu rosto enxugando o rastro que as lágrimas deixaram.

J: "E se eu não nasci para ser mãe?" – Falei com a voz embargada.

M: "Porque Deus te castigaria assim? Filha, para ser mãe basta querer."

J: "Não é tão simples assim." – Resmunguei.

M: "É sim, a gente é que complica. A muitas maneiras de se tornar mãe, principalmente hoje em dia com tanta tecnologia. Você passou por um grande trauma, mas não é porque aconteceu uma vez que isso pode ocorrer de novo."

J: "Essa incerteza é o que me deixa aflita." – Encostei minha cabeça no banco do carro.

M: "Nunca vai saber se não tentar." – Ela abriu a bolsa retirando um lenço de dentro e me entregou. – "Se recompõe pra gente subir." – Peguei ainda receosa. – "Coragem, Jade! Criei uma menina corajosa, não quero te ver assim."

Encarei o meu reflexo no retrovisor interno e meus olhos vermelhos denunciavam o meu choro. Sequei meu rosto e coloquei o lenço no vão em cima do porta-luvas. Respirei fundo.

J: "Obrigada mãe." – Ela sorriu.

Ela pegou na minha mão fazendo com que a encarasse.

M: "Vamos?" – Assenti. – "Meu amor, toda boa mãe tem medo. Não é fácil ter e criar um filho, mas é a experiência mais transformadora da nossa vida." – Soltei um suspiro de alívio ao ouvir isso.

J: "Tô pronta." – Saímos do veículo e entramos no prédio.


Enquanto subíamos pelo elevador fui ficando cada vez mais tranquila.

Predestinados (JADRÉ)Onde histórias criam vida. Descubra agora