Predestinados (JADRÉ)

Nosso anjinho

Depois de muito esforço e contar várias histórias, finalmente havia conseguido colocar o meu filho para dormir. O moleque deu trabalho, ele esta numa fase em que a energia parece inesgotável. Fechei delicadamente a porta do seu quarto e fui pra minha suíte tomar um banho. Meus músculos estavam tensos, coloquei a água numa temperatura mais quente para relaxar. Demorei bastante no chuveiro. Quando abri as portas de vidro o espelho estava todo embaçado e as paredes suadas devido a umidade excessiva.

Escuto o meu telefone tocar.

Sequei o meu corpo, vesti rapidamente minha bermuda, e sai do banheiro para pegar o aparelho que havia deixado em cima da cama. Sorri ao ver o nome da Jade na tela.

PA: "Oi amor." – Atendo estranhando ela ligar esse horário, em Bangkok deve estar amanhecendo.

Sinto que a algo acontecendo somente pelo som da sua respiração que parecia ofegante.

J: "Amor..." – Diz com a voz embargada, deixando-me em estado de alerta e preocupado. – "Você vai achar que estou ficando louca, mas encontrei a nossa filha." – Ela fala e sinto um nó se formar na minha cabeça.

PA: "O quê?" – Filha? Enrugo minha testa sem entender o que ela quis dizer. – "Você sonhou com algo? É isso?"

J: "Não, não foi um sonho. É real." – Sento na cama atordoado. Jade estava emocionada, eu conseguia perceber sua respiração irregular e sentir sua comoção mesmo estando longe. – "Eu não sei o que você vai achar disso, mas eu tive um reencontro com a minha filha, nem sei explicar, só consigo dizer que foi algo que eu nunca senti antes, foi muito forte." – Ela chorava em meio às palavras. Esperei pacientemente ela se acalmar, a única coisa que eu queria era continuar ouvindo o que a Jade tinha pra dizer. – "Estávamos retornando para o hotel, eu ouvi um resmungo tão baixinho, ninguém conseguia ouvir, somente eu, mas agora eu sei que foi um anjo da guarda que me levou até ela, porque era impossível escutá-la do lugar onde estávamos. Fui me aproximando cada vez mais até que a encontrei. Na verdade a reencontrei porque eu tenho certeza que fomos mãe e filha numa vida passada." – Sinto uma sensação desconhecida invadir o meu peito com o que ela acabara de dizer, não sei bem o que é, mas é um sentimento bom e sinto meus olhos marejando enquanto a escuto. Ela solta um soluço e suspira antes de continuar a falar. – "Ela tão pequeninha, tão perfeita, mesmo pálida, com os lábios e dedinhos roxinhos, e tão fraquinha, ainda assim ela estava tão linda. Quando a coloquei no meu colo, eu senti uma vontade tão forte de protegê-la, eu queria colocá-la dentro de mim só para que ela ficasse bem e segura, assim como uma mãe deseja fazer quando quer resguardar seu filho de todo mal. Nunca tive esse sentimento antes. Eu... eu... só sei que preciso da minha filha comigo, não posso mais viver sem ela."

PA: "Nossa filha." – A corrigi e ela soltou um riso em meio ao choro. – "Eu vou arrumar a mala, comprar a minha passagem e embarcar pra aí, meu amor."

Eu ainda nem a conhecia, mas ouvir o relato da Jade mexeu comigo de uma forma inexplicável.

J: "Vida" – Ela faz uma pausa soltando um longo suspiro de alívio. – "Obrigada por não me achar uma louca."