Aquela última frase dele ecoava por minha mente. Eu estava paralisada, me fechei completamente ao ouvir aquilo.
Me senti mal, de repente o ambiente ficou pequeno.
Engoli seco antes de perguntar.
J: "Você se arrepende de ter ficado comigo?"PA: "Não Deja, não vai brisar pra esse lado. De forma alguma eu me arrependo de ter tido algo com você." - Ele colocou as mãos no meu rosto e ergueu minha cabeça para olhá-lo. - "É sério Deja, não me arrependo de ter ficado contigo. De verdade. De coração." - Dei um leve sorriso de canto. Senti alívio por saber que ele não se arrepende. - Mas é complicado. Eu vi um pouco do que ela passou e sei que ela tem razão em dizer que precisamos nos fortalecer nesse momento pra que nada disso possa respingar no nosso filho. Só que ela me propôs algo que ainda não sei o que vou decidir. Eu tô numa confusão louca."
J: "O que ela propôs?"
Ele ficou em completo silêncio. Conhecia ele o suficiente pra saber que estava com medo da minha reação.
PA: "Ela... ela.. é... é que... ela pediu, pediu... pra ficarmos juntos."
Então era isso.
Eu sabia que isso poderia acontecer. Eu sabia, tinha certeza de que era uma possibilidade e por isso me fechei tanto. Eu sempre soube que por ter tantas coisas envolvidas isso poderia me machucar, por isso decidi blindar o meu coração. Pra não sofrer.
PA: "Eu não decidi nada. Como disse, ainda tô confuso. Acabei de sair. Tá uma loucura e eu não sei o que fazer. Ela é uma grande amiga e tivemos um filho, mas nunca nos vi como uma família. Ela quer que a gente tente e eu estou pensando. Me desculpa por falar tudo isso pra você dessa forma, mas quero que saiba que é alguém muito especial pra mim. Você é importante pra mim Deja e eu não quero de forma alguma não ser claro com você, não posso fazer isso."
J: "Eu sempre soube que isso poderia acontecer, PA. Por isso sempre fui muito cuidadosa com a nossa relação. Principalmente pra não criar expectativas que pudessem ser frustradas. Antes de qualquer coisa e mais do que qualquer coisa nós somos grandes amigos, criamos uma relação foda, forte. E é isso que quero que prevaleça. Quero que seja sempre sincero comigo como eu serei com você."
PA: "É que é complicado, sabe."
J: "Sim, eu sei. É impossível ficar com uma pessoa, viver com ela e não sentir nada. Eu sinto e sei que você senti também, mas não dá pra pensar só na gente."
PA: "Eu não sei se vou ficar com ela, se vou dar uma chance de tentarmos ser uma família. Não sei se isso é o melhor pro Pazinho."
Eu sei exatamente o que é ter pais separados. Eu sei o quanto isso me afetou, o quanto me machucou, como foi difícil pra mim.
J: "Posso te dar um conselho?" - Ele acenou que sim. - "Meus pais se separaram quando eu tinha 8 anos e esse foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. Você sabe que tenho boa memória e as lembranças que tenho dessa época me fizeram mal por muito tempo. Eu lembro de cada briga, dos gritos, das discussões. Eu lembro o quanto chorava porque tinha medo e aquilo me machucava. Sei que a sua situação não é igual porque sempre teve uma boa relação com a mãe do seu filho, mas também sei como é difícil pra uma criança ter pais separados."
PA: "Sinto muito por você ter passado por isso." - Ele lamentou e apertou minha mão fazendo um carinho com o dedo polegar.
J: "Vocês nunca tentaram, mas se decidir que sim, tente de todo coração, dê o seu melhor. Não permita machucá-lo dentro do seu próprio lar, não faça isso com ele. Vocês têm que está na mesma sintonia e dispostos juntos pra que dê certo. E eu não quero de forma alguma ficar entre vocês nesse processo. Não posso fazer isso."
PA: "Como assim Deja? Quer dizer que não podemos ser nem amigos?"
J: "Podemos ser amigos. Mas mesmo que ainda não tenha decidido, nós não podemos ficar. Não é certo. Isso pode interferir nas suas escolhas, na sua relação com ela e principalmente na nossa amizade."
Meu pai traiu a minha mãe e eu a vi despedaçada, ela sofreu muito e eu sofri ainda mais porque estava no meio de toda essa confusão. Sempre tive uma boa relação com o meu pai e foi confuso pra mim ter que lidar com o erro dele e ao mesmo tempo não conseguir ter raiva porque eu o amo mais que tudo. Senti como se tivesse machucando minha mãe com isso. Eu não poderia estar entre uma família, isso é o que eu mais falei a minha vida toda. Que não me permitiria isso.
Eu tinha esperança de que pudéssemos ter essa troca aqui fora, de ser mais que amigos, mas jamais aceitaria sobre essas circunstâncias. Sabendo que a mãe do filho dele ainda tem esperanças de que podem ser uma família. Não seria justo.
PA: "Jade, minha relação com a Thays é diferente. O Pazinho nunca nos teve juntos de fato, sempre foi cada um no seu canto e dividindo as responsabilidades. Então não se sinta nesse lugar, você nunca esteve entre nós até porque não existiu um nós."
J: "Eu sei disso. Mas também sei que já passou pela sua cabeça a possibilidade de vocês serem uma família. Não é verdade!?" - Ele respirou fundo e concordou que sim. - "Então... Como vai saber se daria certo se nunca tentou?"
Foi difícil pra mim dizer isso, mas eu não posso ser egoísta e dizer pra deixar as coisas como estão e seguir em frente. Não é certo. Não é justo principalmente com o Pazinho. Como ele se sentiria sabendo que eles nunca tentaram, nem mesmo por ele.
PA: "Eu vou pensar. É uma decisão séria. Se os dois não estiverem cem por cento disposto a tentar, não tem como dar certo e pode acabar sendo pior do que não tentar." - Concordei com ele. - "Mas não vejo o porquê de não poder ficar com você. Eu e a Thays não temos nada no momento."
J: "Não tem agora, mas tenho medo de ficar envolvida no meio de tudo quando você decidir."
PA: "Relaxa! Vamos só curtir o momento."
É claro que eu queria beijá-lo. Queria continuar o que começamos dentro do programa, mas ficar com ele sabendo que tem a possibilidade dele voltar com ela é como dar um tiro no pé. É saber que posso me machucar nesse processo e não queria isso.
Mas, ao mesmo tempo, estava tentando não pensar de forma tão racional e só curtir aquele nosso tempo juntos. Ele estava ali. Ao meu lado. Lindo como sempre e sua presença me fazia muito bem, quase de maneira inexplicável.
Ele colocou a mão no meu rosto e acariciou minha bochecha. Ele estava tão perto que conseguia sentir sua respiração.
PA: "Eu senti tanta saudade sua Deja. Você deixou um vazio tão grande" - Ele esfregou seu nariz no meu delicadamente. Senti o meu corpo todo se arrepiar com esse gesto de carinho.
Fiquei o encarando por alguns minutos. Seus olhos cor de chocolate estavam dilatados, brilhando como nunca. Suas mãos passeavam pelo meu rosto fazendo um carinho gostoso. Seus dedos tocaram meus lábios e no mesmo instante fechei meus olhos. Eu amava quando ele fazia isso, me deixava ainda mais sedenta. E ele sabe disso, sabe o que fazer pra me deixar louca de desejo por ele. Meu coração estava acelerado e meu corpo arrepiou novamente quando suas mãos chegaram na minha nuca. Ele se aproximou lentamente dos meus lábios. Eu conseguia sentir sua boca encostando na minha. Fechei meus olhos me deixando dominar pelo desejo de sentir seus beijos novamente. Ele apertou minha nuca e me puxou para um beijo quente.
Fazia tanto tempo desde a última vez que nos tocamos daquela forma. Dava pra sentir a saudade só naquele beijo repleto de desejo. Coloquei minhas mãos na sua cabeça puxando-o para mais próximo de mim. Não se ouvia nada no meu apartamento além do estalar entre um beijo e outro e nossa respiração ofegante. Ele me deitou no sofá e se encaixou em cima de mim me enchendo de beijos pelo rosto e pescoço. Eu estava louca de tesão por ele. Eu estava o desejando tanto. Mas estava indo contra tudo que eu acabei de falar pra ele. Não posso fazer isso. Não posso continuar. Não posso me deixar consumir pelos meus desejos e pela vontade por essa vontade imensa.NÃO.
NÃO.
NÃO.
Seja forte Jade.
Reaja.
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Predestinados (JADRÉ)
Hayran KurguApós o fim da experiência mais louca de suas vidas Jade e PA se reencontram em um pós turbulento, desafiador, intenso e repleto de desejos. A história que começou no lugar mais inesperado se tornaria a maior de suas vidas.