Incertezas

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Havia um turbilhão de pensamentos vagando pela minha mente. Passei a noite em claro conversando com a Nina pensando em todas as mudanças que aconteceriam a partir de agora. Desabafei com ela o quanto eu não me sinto preparada pra viver essa experiência nesse momento. Eu não queria e sentia muito medo. De não conseguir lidar. De como afetaria o meu trabalho e não só o meu, mas como o do PA. Também sentia angústia pela reação dele. Com certeza ele não gostaria de ter mais um filho agora. Eu quero ser mãe, porém não queria antes de concretizar alguns objetivos. Talvez sejam os hormônios, mas ao mesmo tempo que tento assimilar tudo, também sinto culpa por não querer um filho na minha vida agora. Como posso ser assim? Como posso não querer um dos bens mais preciosos da vida? Eram tantas questões que rondava a minha cabeça que sentia como se ela fosse explodir a qualquer momento.

Estávamos sentadas na sala de espera do laboratório aguardando o resultado do exame. A enfermeira nos informou que ficaria pronto em cerca de uma hora e meia no máximo. Meu corpo estava suando frio. Meus olhos lubrificados querendo a todo instante chorar. Meus pés balançavam inquietos. Sentia uma aflição enorme do peito. Uma mistura de medo, angústia, inseguranças. Estava sentindo dificuldade até pra respirar, uma sensação sufocante.

Quando finalmente a recepcionista chamou pelo meu nome, levantei tão rapidamente e quase que corri na direção do balcão, que até senti uma leve tontura. Peguei aquele envelope e abri com pressa. Nele confirmava. Sim, estou grávida. Aquelas palavras eram quase que um sussurro repetido por minha mente. Escorei minha cabeça no ombro de Nina e soltei um longo suspiro.

Nina tentava me animar de todas as formas enquanto íamos até o consultório da Dra. Carla. Mas nada que ela pudesse dizer naquele momento seria possível aliviar apreensão que estou sentindo. É uma sensação inexplicável. Sempre tive tanta coragem pra enfrentar tudo e mesmo nos momentos de medo, encarava de frente. Mas nesse caso é diferente. Não é algo passageiro. É uma responsabilidade pra vida toda e que vai mudar tudo daqui pra frente. Chegamos no prédio do consultório e subi quase que automaticamente até a sala da Doutora.

Enquanto aguardava ser chamada, Nina continuava tentando de alguma forma me acalmar.

Quando entramos no consultório, a Dra. Carla soltou um suspiro já sabendo qual era o resultado só pela minha expressão. Entreguei o exame a ela, que o analisou.

Dra.: "O teste confirma a gravidez de cinco semanas. Queria lhe parabenizar, mas pela sua reação acredito que não foi planejado." - Ela estendeu seu braço e pegou na minha mão depositando um carinho ali com os seus dedos.

J: "Não, Doutora. Não foi planejado. Longe disso." - Senti uma lágrima teimosa escorrer por meu rosto.

Dra.: "Jade, quero que saiba que esperada ou não, a notícia de uma gestação é sempre um choque pra qualquer mulher. Ainda mais na sua idade. De uma hora pra outra você descobre que não só o seu corpo, mas seus planos, rotina e toda sua vida vai mudar completamente. Quer me contar um pouco do que está sentindo?" - Ela me olhava com ternura e conforme ia falando mais lágrimas eram derramadas por mim.

J: "Não sei explicar. É um sentimento de medo e culpa. De não saber como vai ser e como vai me afetar na carreira e até na vida pessoal. E uma culpa profunda por pensar nisso tudo ao invés de estar transbordando de felicidade." - Desabafei e ela me entregou um lenço pra secar as lágrimas. Nina colocou suas mãos em meu ombro tentando me confortar.

Dra: "É compreensível os seus sentimentos. É normal esses pensamentos. E sinto lhe dizer, mas a maternidade vem carregada de culpa. Toda mãe passa por isso e não importa a idade. Jade, eu conheço você desde criança, sempre cuidei de ti. Lembro daquela menininha entrando no meu consultório para os exames de rotina, sempre sorridente e sapeca. Dava um trabalho pra sua mãe." - Ela deu um sorriso. - "Mesmo sendo jovem, você já construiu tantas coisas, já realizou tantos sonhos e sei que ainda tem muito mais pra realizar, mas garanto a você que se aconteceu nesse momento de ficar grávida é porque tem um propósito diante de tudo isso. Logo você que é tão criteriosa e certinha com tudo ao seu redor. Esquecer isso. A única coisa que passa pela minha mente é que era pra ser, mesmo que você não entenda agora. Certeza que o que passa pela sua cabeça nesse momento é: como vai dar conta, como vai ficar seu trabalho, como vai cuidar de tudo. Estou certa?" - Ela questionou e confirmei que sim. - "Isso é uma das maiores características da mulher moderna. O querer ter controle de tudo. E quando isso foge das nossas mãos, ficamos cheias de anseios."

Suas palavras por algum motivo foram me acalmando e aliviando um pouco do que estava sentindo.

J: "Acredito muito nisso de que as coisas acontecem exatamente como devem acontecer e estou tentando me apegar ainda mais a isso desde ontem, mas ainda tô assimilando tudo." - Peguei mais um lenço de papel e limpei meu rosto.

Dra.: "Eu sei querida, e isso é normal. E quando não é planejada é mais demorado pra processar todas as novas informações." - Ela levantou e pediu pra que eu deitasse na maca. - "Vamos ver como está esse bebezinho."

Abri a minha calça e levantei a blusa. Ela colocou aquele gelzinho gelado na minha barriga e então ouvi pela primeira vez seu coraçãozinho bater. Mesmo ainda assustada com tudo, aquele era o som mais doce que já ouvi na vida. Olhei para a tela ao lado e vi um pequeno grãozinho de arroz ali. Tão pequeninho. Ela disse alguns termos técnicos da fase da gestação que eu estou e disse que está tudo muito bem, dentro do esperado para o tempo da gravidez. Nina estava emocionada ao meu lado. Nunca imaginei que ouvir o coração ia mexer tanto comigo.

J: "Doutora, eu bebi um pouco nesse último mês e também fiz exercícios físicos pesados... Isso pode fazer algum mal?" - Perguntei preocupada.

Dra.: "Tem mulheres que não sabem que estão grávida e consome bebidas alcoólicas e prática de exercícios rigorosos até os 3 ou 4 meses, até descobrir e ainda assim não afeta em nada, mas só posso ter certeza daqui há algumas semanas, mas pelo que vejo nessa primeira ultrassom está tudo certo. O ideal é que a partir de agora faça exercícios mais leves, principalmente nesse início." - Ela esclareceu e limpou minha barriga com papel toalha. Ajustei a minha roupa e levantei da maca. - "Jade, também percebi que você está um pouco inchada."

J: "Sim, sempre acontece quando fico sobrecarregada, muito estresse e muito tempo em pé trabalhando. Porquê? Isso é um problema?" - Questionei preocupada.

Dra.: "Não necessariamente. É comum ficar assim durante a gestação, só vamos precisar ficar avaliando." - Ela disse e depois reafirmou que não há problema, é só questão de acompanhamento e que deveria aliviar um pouco a rotina de trabalho.

J: "Obrigada Doutora, estou bem mais calma depois de tudo que a senhora falou." - Agradeci e a abracei.

Dra.: "Vai ser um prazer pra mim ser sua obstetra e ver nascendo o bebê da menina que eu vi crescer." - Ela sorriu e me abraçou novamente. Nos despedimos e então sai do seu consultório.

Eu e Nina decidimos comprar algo pra entregar ao PA pra contar da gravidez. Ele chega amanhã de viagem e já tínhamos combinado de que ele iria ficar com o Pazinho até ele dormir e depois iria para o meu apartamento. Escolhemos algo e disse a ela pra me ajudar a me preparar pra contar isso a ele.

N: "Jade, mesmo que não tenham planejado isso ele vai ficar feliz... Mesmo que demore um pouco mais pra processar assim como você. Ele sempre disse que queria ter mais de um filho e queria ter novo para que os filhos pudessem acompanhar a carreira dele." - Ela disse sentando-se no sofá ao meu lado.

J: "Eu sei, mas esse ano é demais. Porém, já está feito e não tem mais como voltar atrás."

Ela conversou comigo durante toda a tarde e aos poucos fui processando melhor a notícia. Eu estava trabalhando a minha mente pra aceitar e entender que era pra acontecer. Ouvir o coraçãozinho batendo também estava me ajudando a lidar melhor com tudo, mesmo com muito medo. Me esforcei para executar alguns trabalhos com ela e distrair minha mente um pouco.

...

No dia seguinte acordei cedo e decidi ir ao escritório pela manhã fazer algumas reuniões com o Thiago e fazer um pré aquecimento para a tarde de gravações no estúdio. Combinei com a Nina de não contar pra ninguém até falar com o PA. Porém, obvio que o Thi percebeu algo estranho em nós duas. Contornei fazendo ele focar no trabalho até ele parar de perguntar o que estava acontecendo. Às 13h fomos gravar e ficamos quase 6 horas direto filmando. Eu estava exausta e faminta. Meus pés estavam começando a inchar e Nina me pediu pra sentar um pouco e tentar relaxar. Chamei atenção dela pro excesso de cuidado que demonstrou durante toda a tarde. A última coisa que queria nesse momento era a mídia em cima de mim por esse motivo que ainda estou assimilando. Esconderia isso muito bem e o máximo que eu pudesse. Fiz uma pausa de vinte minutos e depois retornei pra terminar os takes daquele dia. Quando finalmente encerramos, suspirei de alívio. Troquei de roupa e pedi a Nina pra me desejar sorte.

PA havia chegado um pouco mais cedo, umas 16hrs e já estava em casa com os seus pais e seu filho. Ele até chegou a pedir pra jantar com eles, mas eu não conseguiria esperar pra contar. Queria dizer assim que o encontrar. Devido ao trabalho tive uma desculpa pra dar a ele, que entendeu e disse que iria me ver assim que o Pazinho dormisse.

Andava de um lado ao outro do meu apartamento nervosa aguardando ele chegar. Parecia que as horas não passavam. Cada segundo me deixava ainda mais ansiosa. Eu queria poder contar logo. Saber sua reação. Como reagiria. Estava enlouquecendo pra falar de vez. Quando ouvi alguém mexendo na porta instantaneamente meu corpo parou e meu coração batia acelerado. Sabia que era ele. PA agora tem a chave do meu apartamento. Ele sorriu ao me ver e tentei disfarçar meu nervosismo pra ele não perceber.

POV - PAULO ANDRÉ

Cheguei de viagem hoje a tarde e retornei com muito ânimo pra dar início aos treinos com o meu pai. Falamos muito sobre isso na viagem e estou ansioso demais pra dar start nesse projeto. Uma das conexões adiantou o voo e chegamos duas horas antes do planejado, o que foi ótimo porque assim pude aproveitar bastante o Pazinho e matar a saudade da minha mãe pra poder passar um tempo com a Deja a noite. Estou com saudade dela. Pedi pra vir jantar conosco, mas ela disse que ia demorar nas gravações de hoje. Fico feliz por vê-la ganhando cada vez mais destaque dentro da emissora. Merecedora demais.

Contamos as novidades pra minha mãe e ela ficou bem feliz em saber que vamos treinar no pique das competições. Ela sabe o quanto isso é importante pro meu pai. Vou dar o sangue por ele. Pazinho brincou um pouco com os presentes que trouxe pra ele e depois ele largou de lado e pegou as embalagens, ficou um bom tempo com elas. Por algum motivo aqueles plásticos e caixas chamaram mais sua atenção do que os brinquedos. Quando anoiteceu, jantamos e logo o coloquei pra dormir. Ele já estava choramingando querendo nanar. Deitei ele em seu berço e dei um beijo de boa noite. Avisei a minha mãe que já iria descer, ela me abraçou e pediu pra levar a Jade de manhã pra tomar café se ela não tivesse compromissos mais cedo.

Rapidamente o elevador chegou no meu andar. Desci já pensando nos lindos olhos verdes que senti falta nesses dias. Abri a porta com a minha chave e a vi em pé na sala. Ela parou assim que abri a porta, parecia tensa.

PA: "Oi Deja!" - Me aproximei dela e dei um beijo. Ela parecia estranha, até o beijo dela demonstrava uma tensão. - "Já estava com saudade de você." - Dei um abraço apertado nela. Senti seu corpo rígido e aquilo me deixou intrigado.

Por alguns segundos passou pela minha mente que talvez ela já soubesse que sair com a Luiza e estava chateada porque não a contei. Mas não foi nada demais, saímos só como amigos. Aquilo não é motivo pra ela estar agindo de forma tão estranha.

J: "Também estava! Como foi a viagem?" - Perguntou. Ela parecia nervosa.

PA: "Foi ótima! Realizei mais um sonho ali, foi muito divertido, aproveitei pra passear um pouco e ainda me empolguei com o meu pai pra voltar a treinar pesado. Vou ter foco total agora nisso." - Respondi e percebi que ela continuava tensa. Suas mãos abriam e fechavam inquietas. - "Tá tudo bem, Jade?"

J: "Sim, sim! Eu só tô um pouco cansada... Esses dias foram puxados no trabalho." - Ela deu um sorriso e me puxou para um beijo. No início ainda parecia um pouco enrijecida, mas aos poucos senti seus beijos mais leves. Ela afastou um pouco seus lábios, me olhou e deu alguns selinhos demorados. Sorriu novamente. - "Vem, tenho uma surpresa pra você."

Ela me puxou até o quarto e sorri para ela. Sentei na beira da cama e ela ficou em pé na minha frente. Colocou suas mãos em meu rosto e trocamos mais um beijo demorado. Coloquei meus braços em volta da sua cintura e a puxei para mais perto. Ela soltou meus lábios novamente e me encarou por alguns segundos. Seus olhos estavam ainda mais lindos. Tão claro, ficando em um tom de azul esverdeado. Amo o seu olhar.

J: "Espera aqui." - Ela se afastou e entrou no closet. Demorou alguns minutos lá e quando retornou veio com uma caixinha cinza. - "Tenho um presente pra você."

Não estava entendo o porquê dessa surpresa inesperada. Ela entregou a caixa para mim e a olhei. Ela disse pra abrir que eu iria entender e então retirei a tampa e fiquei paralisado quando vi o que tinha ali. Dentro da caixa havia várias fotos nossa de Polaroid, um pequeno tênis branco da Nike e um teste positivo de gravidez. Fiquei encarando por alguns minutos e então olhei para ela que estava com os olhos cheios d'água.

J: "Acredite, eu estou tão assustada e surpresa quanto você, ainda não consegui assimilar isso direito, não planejamos, mas aconteceu." - Uma lágrima escorreu por seu rosto.

Olhei novamente para caixa e encarei por alguns segundos aquele teste de gravidez. Levantei e fiquei de frente pra ela.

Sequei a lágrima que escorreu e fiz carinho em sua bochecha. Coloquei minhas mãos em seu rosto, respirei fundo e sorri pra ela.

PA: "Sei que não estava em nossos planos, que não pretendíamos ter um bebê agora, mas aconteceu e mesmo que a gente tenha sido pegos de surpresa, saiba que eu já amo esse neném." - Ela deu um sorriso de lado e mais algumas lágrimas escorreram por seu rosto. - "Eu sempre quis ter mais de um filho, vou amar ver o Pazinho ganhando um irmãozinho e sei que deve tá preocupada com os nossos trabalhos, mas vamos dar um jeito."

J: "Eu tô com medo, PA... São tantas incertezas, tantas mudanças que vão acontecer daqui pra frente." - A puxei para um abraço.

PA: "Eu sei, mas eu vou está aqui do seu lado. Cuidando, dando amor, carinho, sendo teu apoio pro que precisar." - Dei um beijo em sua testa.

Me ajoelhei na sua frente e levantei sua blusa depositando vários beijos na sua barriga. Ela colocou suas mãos no meu cabelo, fazendo um carinho gostoso.

PA: "Oi, Meu amor!" - Falei olhando pra sua barriga. - "Você chegou de surpresa na vida do papai e da mamãe, mas quero que saiba que já é muito bem vindo e que nós te amamos." - Olhei pra ela que deu um sorriso e então voltei meu olhar novamente pra sua barriga e continuei. - "A mamãe ainda tá um pouco assustada com a novidade, mas ela te ama mais que qualquer coisa na vida, mesmo que ela ainda não saiba. Então cuida bem dela aí dentro que nós vamos cuidar bem de você aqui fora." - Beijei novamente sua barriga e então me levantei.

Jade me abraçou forte e depositou vários beijos em meu ombro.

PA: "Fica tranquila que vai dar tudo certo." - Disse com ela ainda em meus braços.

J: "Como vamos fazer com as nossas carreiras? Já é difícil pra você com o Pazinho, agora vamos ter mais um bebê."

PA: " Vamos precisar fazer alguns sacrifícios, mas isso não importa. Esse amor que temos por um filho é forte demais,  todas as outras coisas acabam se tornando pequenas diante dele."

J: "O problema é esse, PA." - Ela disse e eu a encarei tentando entender. - "Eu estou péssima porque ainda não consigo sentir esse amor, só sinto medo e muita culpa pelo que estou sentindo."

PA: "Você acabou de ter essa notícia, não estava em nossos planos. É normal sentir isso e garanto a você que logo vai passar."

A puxei para um abraço novamente e fiquei fazendo carinho nela.

Vou dar todo apoio que ela precisar. Não importa o que vou precisar ceder na minha carreira, estou disposto a tudo pra vê-la feliz e bem. Não só ela, mas esse serzinho que agora cresce em seu corpo. Essa é uma das maiores dádivas da vida e não tem como eu não ficar feliz e sei que assim que ela conseguir absorver a novidade também vai sentir a maior felicidade do mundo.

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O que acharam da reação dele e de como a Jade está lidando com tudo? Deixem nos comentários!

Gente, provavelmente só vou conseguir postar o próximo no domingo a noite. Tenho uma prova importante esse fim de semana e acredito que não vou conseguir terminar o próximo capítulo esse sábado, mas no domingo posto nem que seja de madrugada.


Predestinados (JADRÉ)Onde histórias criam vida. Descubra agora