Estávamos animados por finalmente poder pegar a chave da casa que alugamos. Foram duas semanas de espera até o proprietário poder liberar o imóvel. Apesar da praticidade do hotel em ser próximo ao hospital que a nossa filha está internada, ficar naquele ambiente pequeno por quase quinze dias acabou nos deixando ainda mais ansiosos com o processo da guarda. O Paulo André decidiu alugar uma casa em Koh Samed, que é a ilha mais próxima de Bangkok, fica apenas dez minutos da costa acessando de barco e são mais vinte e cinco minutos de carro até o hospital central. É um lugar incrível com diversas praias, centrinho, restaurantes e lojas. Muitos locais vivem nessa região para fugir do caos da cidade movimentada, principalmente porque o custo de vida na ilha é praticamente o mesmo de quem mora na capital. Achamos ser o local ideal para ficarmos durante esse período difícil de espera.
Quando chegamos, Aran, o locador do imóvel, estava à nossa espera no píer. Ele estava claramente empolgado por nos receber ali. Não é atoa que a Tailândia é conhecida como a terra dos sorrisos, todos são muito receptivos. Ele pediu desculpas pela demora para liberar a casa, explicando que precisou realizar uma breve reforma, coisas simples como pintar e fazer pequenos reparos.
Aran falava animadamente, e nós o seguíamos de mãos dadas. A propriedade é linda. A cozinha e sala são muito aconchegantes, com acesso a uma varanda imensa e sofás e poltronas brancas espalhadas pelo piso de bambu. O quarto principal era igualmente impressionante, com uma cama espaçosa coberta por um mosquiteiro e um deck de madeira que dava para uma piscina privativa que parecia se juntar à imensidão do mar logo à frente.
Porém, o cômodo que fiquei mais encantada foi o quartinho da Maya. Eu e o PA pedimos para o proprietário colocar um bercinho. Meus olhos marejaram quando entrei e vi que além de atender o nosso pedido, ele ainda havia colocado um trocador em cima de uma cômoda de madeira. Foi impossível não imaginá-la aqui.
Ouvi o barulho da porta de entrada sendo fechada ao fundo, o Aran já havia nos apresentado todos os cômodos e deve ter saído após se despedir do Paulo André.
PA: "Gostou da casa?" – Disse escorando seu corpo no ao lado da imensa janela de vidro.
J: "Eu amei, é maravilhosa." – Eu me virei para olhá-lo melhor. – "Esse lugar é perfeito, é como se fosse nosso paraíso particular." – Ele se aproximou mais. – "Amor, eu tô apaixonada por esse quartinho." – Uma lágrima escorreu por meu rosto. – "Quando retornarmos para cidade quero comprar lençol, manta, roupinhas e o que mais for preciso para nossa princesinha."
PA: "Mal chegamos e já quer gastar?" – Ele me puxou mais para perto.
J: "Ela precisa do enxoval, quero deixar tudo pronto pra quando ela vir."
PA: "É tão lindo ver o quanto você tem se dedicado a ela, tudo que tem feito é pensando na nossa menininha." – Ele colocou uma mexa de cabelo atrás da minha orelha e acariciou o meu rosto com a ponta dos dedos.
J: "Fiquei tão feliz no dia que você a conheceu, ver que teve o mesmo sentimento que eu quando a vi pela primeira vez foi tão emocionante." – Coloquei meus braços ao redor do seu pescoço.
PA: "O que acha de desfazermos as malas, retornar para capital e comprar tudo o que você quiser pra ela?" – Assenti sorrindo e o beijei de leve nos lábios.
Nós dois estamos sendo o porto seguro um do outro.
Tem sido muito difícil, essas foram as duas semanas mais longas das nossas vidas. Maya é uma guerreira, tão pequenina e já passou por tantas coisas. Ela tem respondido bem ao tratamento, os antibióticos estão combatendo a meningite bacteriana sem complicações. Conseguiram extuba-la há nove dias, ela ainda precisou de outros suportes ventilatórios até conseguir deixá-la apenas em ar ambiente, mas não foi necessário entubar outra vez. Permaneceu com vários episódios de vômitos e a médica precisou prescrever uma medicação antiemético para controlar isso. E claro, ainda tem a preocupação do que a Maya pode desenvolver em médio e longo prazo, como prejudicar seu desenvolvimento neuropsicomotor, convulsões e perda parcial da audição e visão. Tenho pedido a Deus todos os dias para que ela não tenha nenhuma dessas complicações. E mesmo visitando a nossa filha diariamente no hospital, o fato de ainda não terem marcado a audiência da guarda provisória, nos deixava cada vez mais angustiados. Nos últimos dias passamos pela entrevista com a psicóloga e segundo o nosso advogado ela nos atestou como aptos para adoção, ou seja, dependemos somente dessa audiência.
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Predestinados (JADRÉ)
FanfictionApós o fim da experiência mais louca de suas vidas Jade e PA se reencontram em um pós turbulento, desafiador, intenso e repleto de desejos. A história que começou no lugar mais inesperado se tornaria a maior de suas vidas.