Dor - Parte II

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Encarava meu reflexo no espelho do banheiro sentindo pena de mim mesma por estar nesse estado tão deplorável. Meus fios de cabelo estavam emaranhados e secos. Olhos ainda vermelhos de tanto chorar nas últimas três semanas e ao redor deles olheiras fundas e levemente escurecidas. Meu rosto estava mais fino, meu corpo mais magro, nem sei ao certo quanto peso perdi. Minhas mãos tocaram a bancada fria da pia e senti um arrepio no meu corpo ao encostar naquele mármore gélido. Respirei fundo.

Dei um solavanco ao ouvir batidas na porta.

PA: "Jade, tá tudo bem? Precisa de ajuda?" – Questionou.

A porta do banheiro estava trancada pra poder me arrumar. Precisa recuperar o mínimo de dignidade e fazer aquilo completamente sozinha.

J: "Tá tudo bem sim, espera só mais um pouco." – Pedi e então ele disse que se precisasse era só chamá-lo.

Olhei novamente para o espelho.

Deus! Estou horrível!

Como permiti que ele me visse assim?

Num impulso, entrei rapidamente no Box e tomei um banho demorado. Pela primeira vez em dias eu estava amando aquela sensação de sentir a água escorrer por meu corpo. Lavei meus cabelos. Nem que o penteasse por horas resolveria aquele caos, então era melhor molhá-lo. Ensaboei meu corpo e senti o quanto meus músculos foram afetados com esse tempo todo parados sem minha prática de exercícios. Preciso urgentemente falar com o meu personal, correr atrás do tempo perdido e também ter algo pra ocupar minha mente. Escovei os dentes e então sai daquele cubículo que já estava me sufocando.

PA estava encostado na entrada do closet me aguardando.

PA: "Estou orgulhoso." – Ele sorriu.

Não queria trocar de roupa com ele ali, estava sentindo vergonha do meu corpo.

J: "Vai entrar no banheiro?" – Ele negou.

PA: "Tomei banho enquanto você estava enrolando na cama." – Ele ajeitou sua postura.

Engoli seco.

J: "Pode voltar pro quarto, por favor?!" – Pedi e ele franziu a testa. – "Eu ainda não estou bem comigo mesma..."

Ele me encarava tentando entender o que eu queria dizer.

PA: "Você está com vergonha?" – Fiquei calada cabisbaixa. – "Nada a ver isso, Jade. Você continua linda!"

J: "Por favor." – Insisti.

Ele se aproximou deu um beijo em minha testa e então saiu do closet.

Respirei aliviada.

Há muitos anos não sentia isso. Teve um tempo em que não gostava do meu corpo, não gostava nem de usar maiô ou biquíni. Isso entre os meus nove e catorze anos. Nunca pensei que fosse ter essa sensação novamente. Mexi nos cabides procurando uma peça que me agradasse naquele momento. Coloquei uma calça jeans clara, cropped preto e tênis branco. Queria de alguma forma me sentir bonita. Penteei meu cabelo e então fui até o quarto. PA me encarou e fiquei sem jeito. Ele se aproximou de mim, colocou sua mão em meu queixo elevando-o e me beijou. Seus lábios encostavam suavemente nos meus.

PA: "Tá linda! E mais ainda por estar com o cabelo molhado." – Sorri. – "Então... Decidiu pra onde vai?"

J: "Pro meu escritório. Quero saber como estão às coisas por lá." – Prometi a ele que iria reagir e começaria isso saindo de casa.

Predestinados (JADRÉ)Onde histórias criam vida. Descubra agora