Capítulo 19

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AZRIEL

  Tentava não pensar em nada enquanto seguia a sacerdotisa pelo corredor cinzento em direção a seus aposentos. Apenas me concentrava em qualquer detalhe que tirasse minha mente daquela cela minúscula e escura.
 
Gwyneth a minha frente parecia mais alheia em seus pensamentos do que eu próprio estava nos meus.
 
Ainda conseguia sentir o ar faltar em meus pulmões ao entrar naquele pequeno cômodo fechado onde Rhys avia me mandado pegar alguns livros, o ar sendo sugado enquanto lembranças infestavam minha mente. Aquele aperto sufocante no peito, como se alguém o apertasse ainda estava aqui.
 
O desespero sufocante havia me levando momentos antes, de volta aquela minúscula cela no calabouço das montanhas. Onde conseguia escutar as risadas de meus irmãos enquanto sentia a carne derreter de meus osso.

  Estava tão enterrado em minhas lembras que parecia tão real quanto foi da primeira vez, e só aquela linha de luz incandescente que me puxou para fora com uma voz suave que era da feérica a minha frete.

  De algum jeito que não entendo Gwyn conseguiu me trazer de volta, de volta a Velaris e a casa do vento, de volta aos seus braços ao meu redor. Enquanto chorava eu seus braços.

  Quinhentos anos já tinham se passado. Eu era um dos Illyrianos mais fortes que já existiu, mestre espião da maior das sete cortes. E ainda assim, com apenas uma única lembrança, eu desmoronava como um filhotinho illyriano que foi abandonados pelo pai. Eu ainda era o bastardo rejeitado que ficava preso naquela cela com a única companhia sendo as sombras.

  —Acho que sei o que o símbolo de ouroboros significa... —A feerica parou por um instante quando seus olhos me encontraram. —Az, você está bem? —Sua voz se suavizou ao perguntar, com uma pontada de preocupação se expondo na voz. Então percebo seu olhar tenso em minhas asas e avaliando cada parte do meu corpo.

  Percebi então como minhas asas estavam abertas e provavelmente minha tensão no corpo dizia que estava prestes a atacar algo ou alguém. Retraio as asas e saio da postura que não avia percebido que me encontrava.

Percebo ainda o traço de preocupação em seu rosto enquanto me observa.

—Está tudo bem, só estava preso em alguns pensamentos.

Desvio meus olhos da feérica, para impedir que visse o abismo que aqueles pensamentos formavam em minha mente. Porque de alguma forma, aquela fêmea conseguir ler tudo que em quinhentos anos aprendi esconder tão bem.

Vejo seus olhos insistirem em procurar os meus, como se quisesse ler cada segredo que eu escondia, e deuses como queria que ela lesse e descobrisse cada coisa obscura atrás da máscara fria de séculos aperfeiçoando. Mas e se ela visse as partes escuras de mais e fugisse, se visse as coisas que fiz e os feéricos que torturei durante os séculos. Talvez aqueles olhos turquesas não me olhassem mais com o carinho que me olha agora, com a preocupação genuína. Se soubesse quão corrompida está minha alma, se é que ainda possuo uma.

—Az...—As mãos delicadas com alguns calos que só uma guerreira que empunha uma espada teria, tocou meu pulso, e mesmo com a pele coberta com o pano da camisa, eu senti a palma da feérica queimar contra minhas horrendas queimaduras. —Eu estou aqui, ok? —Seu olhar me penetra tão profundamente que diria que penetrou minha alma. Fazendo o ar sumir de meus pulmões por alguns instantes.

Gwyneth é a primeira a quebrar o contato visual, deslizando seus olhos de volta a porta a alguns metros no corredor, para onde a sacerdotisa caminhou.

Corte das sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora