17. a date?

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JADE SAIU ME ARRASTANDO até a biblioteca de manhã cedo. Ela tinha esquecido de fazer o trabalho e precisava de ajuda, mas me arrependi de ter me oferecido.

— Anda, só preciso pegar as anotações em um livro.

— Sua nota vai ficar uma merda se você pegar anotações de um livro.

— Não importa, o que vale é entregar.

Havia uma semana que as aulas tinham voltado, e já estávamos atolados de deveres e trabalhos. No começo de junho teriam as provas, e eu não queria nem pensar nisso agora para não ter um pire-paque.

Nos sentamos a mesa assim que achamos o livro, Jade movimentava a pena tão rápido que eu conseguia ver sua mão ficar com calos.

— Olá — um garoto surgiu do meu lado, o brasão da grifinória estava em seu uniforme — Sou Kyle.

Ele era alto, mas não tão alto como Remus. Ele tinha o cabelo castanhos claro e olhos escuros. Era bonito.

— Oi, sou Eveline, e essa é Jade.

— Eu te cumprimentaria direito se não estivesse tão ocupada — ela olhava para o livro.

— Tudo bem — ele riu — Bem, eu queria te convidar para sair comigo no sábado, se não estiver ocupada.

— Ah... — minha boca fechou ou abriu tantas vezes que Jade começou a rir.

— Desculpa, foi estúpido vir aqui...

— Não! não. — baixei o tom de voz para não assustá-lo — É que você me pegou de surpresa. Mas claro, sim, eu aceito. Seria ótimo.

— Legal. Te encontro ás quatro no salão principal, pode ser?

— Sim, perfeito.

— Ok, até lá.

— Até. — acenei, e ainda em choque, me virei para a frente.

— É que você me pegou de surpresa — Jade falou afinando a voz numa tentativa péssima de me imitar.

Peguei o livro e bati nela com toda a força que tinha.

— Idiota — ela começou a rir, e eu estava me segurando para não rir também.

Depois da aula e de Jade entregar o trabalho nos quarenta e cinco do segundo tempo, fomos almoçar, mas antes Sirius apareceu com Remus em seu encalço.

— E aí, quais as novidades? — dei a ele um olhar mortal quando colocou o braço em volta de Jade de novo.

— Eveline tem um encontro no sábado — Jade falou com um sorriso maquiavélico.

— O que? — Remus disse me olhando — Com quem?

— Kyle. Um garoto da grifinória.

— Ah, o Kyle! — Sirius disse — ele está no time de quadribol.

— Aliás, quando é o primeiro jogo? — Jade perguntou e ela é Sirius entraram numa conversa longa e entediante sobre quadribol.

— Então, como conheceu o Kyle? — Remus me perguntou e caminhamos para dentro do salão principal.

— Conheci só hoje, nunca tinha reparado nele antes. Mas ele é bonito.

Remo assentiu algumas vezes.

— Espero que se divirta no sábado.

— Valeu.

Ele ficou quieto de repente, e eu não entendi bem o por que. Normalmente ele ficava assim quando uma transformação estava perto de acontecer, mas eu chequei o calendário, a próxima lua cheia seria em três semanas.

— Soube do seu encontro, já decidiu o que vai vestir? — Lauren surgiu do meu lado.

— Nem pensei nisso, mas é só sábado. Ainda está cedo para pensar nisso.

— Então, quem é? Me mostre.

— Eu vou indo, tenho que enviar uma carta. Volto mais tarde. — Remo saiu mais rápido que uma sombra.

As meninas se entreolharam.

— Dá pra parar com isso? — pedi.

— Sério que você ainda não percebeu? — Beth ergueu as sobrancelhas.

— Eu e Remo somos amigos.

— Até parece, ele faltou se morder quando soube do seu encontro — Jade se sentou do meu lado.

— Se ele gostasse de mim ele me diria, não posso forçar ele a dizer essas coisas.

— Então você acha que ele gosta de você? — Lauren perguntou.

— Não sei.

— E gosta dele? — Beth perguntou dessa vez.

— Eu não sei!

— Arrá! — elas falaram juntas — Então você gosta. — completou Jade.

— Eu disse que não sei.

Elas balançaram a cabeça desistindo do assunto vendo que eu não falaria mais nada.

Sejamos sinceros, era óbvio que tínhamos uma queda pelo outro. Mas e daí? Éramos amigos antes de qualquer coisa.

Uma coisa é a atração física, outra são sentimentos românticos um sobre o outro.

Levei meus pensamentos para o meu primeiro encontro no sábado.

REMUS LUPIN

Me sentei no banco da arquibancada de quadribol, não fazia ideia do porquê eu estava tão irritado de repente. Ouvi barulhos e quando olhei para o lado percebi que era Sirius.

— Já bateu em alguma coisa? Ou melhor, em alguém? — ele se sentou.

— Não vou bater em ninguém.

— Sim, claro, porque você odeia violência. Mas sei que está quase se mordendo de ciúme.

— Não estou com ciúme.

— Se quiser continuar mentindo para si mesmo, o problema é seu, mas nós sabemos da verdade.

— Que verdade?

— Você devia falar para ela. — ele arrumou o cabelo longo que batia nos ombros — Que gosta dela.

— Eu não gosto dela nesse sentido.

— Imagine se gostasse. Você nem tenta disfarçar que é caidinho por ela.

— Ela é bonita, e daí? Somos amigos antes de qualquer coisa.

— Ela deve estar falando as mesmas coisas para as amigas dela. — ele suspirou se levantando — Se quiser ficar escondendo tudo que sente por medo do que vai acontecer o problema é seu, mas tenha plena consciência de que o Kyle quer muito mais que um encontro com ela, talvez eles acabem namorado e eu sei bem que você não vai gostar disso.

Ele saiu caminhando tão devagar que parecia não querer sair de lá.

Eu sabia que Kyle queria algo sério com ela, quem não iria querer? Ela é tipo, perfeita. Mas não podia sair colocando os pés pelas mãos e estragar o que provavelmente foi uma das melhores coisas que me aconteceram.

A amizade com ela era tão importante para mim quanto minha amizade com os meninos.

E também, eu sempre soube que não poderia ter isso com alguém. Um relacionamento sério ou amoroso. Desde pequeno sabia que não podia me casar ou até mesmo ter filhos.

Não dá pra colocar as pessoas que se ama em risco. Não desse jeito.

Coloquei a cabeça nas mãos e tentei pensar em qualquer outra coisa, mas não conseguia. Tudo voltava para ela.

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BLEEDING SUN | REMUS LUPINOnde histórias criam vida. Descubra agora