23. a letter

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MANDEI UMA CARTA PARA minha mãe, estava fazendo isso com mais frequência desde que tudo aconteceu. Ela parecia estar melhor, assim como meus irmãos. Apesar de me sentir melhor ocupando minha mente na escola, também gostaria de poder estar com eles e cuidar deles.

Tentei não pensar tanto em Remus, mas era difícil quando absolutamente tudo me lembrava ele, principalmente estudar.

— Alguém viu Sirius? — Jade perguntou quando deixamos o salão principal.

— Não vi. — respondi e prendi meu cabelo, deixando uma mecha cair sobre o meu rosto.

— Está tudo bem? — ela me perguntou e eu assenti.

Estava cansada de todo mundo me perguntar se eu estava bem o tempo inteiro.

— Eveline! Eveline! — olhei para trás e vi James e Pedro correndo em minha direção — Precisamos de você.

— O que houve? — eles estavam ofegantes.

— Uma catástrofe, vem, rápido! — James agarrou a minha mão e saiu me puxando pelo castelo afora.

— É bom que alguém esteja morrendo ou eu mato você! — gritei enquanto ele continuava me arrastando.

Não conhecia o caminho para o qual ele estava me levando, então logo descartei a sala precisa, que era do lado oposto do castelo ao que estávamos indo. Quando ele finalmente parou, fez um gesto para que eu abrisse a porta diante de mim.

Tinha algo errado.

— O que vocês estão aprontando?

— Abre logo, vai! — Pedro estava vermelho.

Revirei os olhos e abri a porta de uma vez. Antes que eu pudesse notar qualquer coisa dentro daquela sala minúscula, fui empurrada para dentro e a porta fechou atrás de mim.

— Eveline? — reconheci a voz de Remus atrás de mim, nem precisei olhar.

— Eu vou matar vocês! — gritei para a porta.

— Vocês só vão sair daí quando se resolverem — ouvi a voz de Sirius, claro que ele estava metido nessa. Na verdade, ele deve ter criado o plano — Iremos dar privacidade a vocês, nem tentem abrir a porta porque sem que percebessem eu recolhi a varinha de ambos e a porta está trancada com um feitiço.

O desgraçado usou o cérebro pela primeira vez na vida.

— Tchauzinho! — eles disseram em uníssono.

Tomei uma longa lufada de ar antes de encarar Remus.

Ele estava do mesmo jeito que sempre.

Lindo.

Eu notei que ele usava uma camiseta diferente hoje, era mais folgada, mas conseguia ver perfeitamente os músculos pouco definidos do seu braço e as veias que saltavam em seu punho.

— Sabia de algo sobre isso? — ele balançou a cabeça negando, foi tudo que eu disse antes de me sentar em uma caixa perto da janela.

A sala era ridiculamente pequena, parecia mais um depósito de velharias. Havia caixas com diversos objetos, mas eu não estava com cabeça para olhar para nenhuma delas.

— Consegue pelo menos olhar para mim? — Remus pediu devagar.

Olhei para ele.

— Eu não sei o que te dizer.

— Você nunca sabe. — minha voz soou baixa. Eu estava sem energias para discutir com ele de novo.

— Eveline, o que você enxerga, é real.

Voltei meus olhos para ele de novo.

— E o que eu enxergo? — eu queria que ele dissesse.

Ele apertou os lábios, sem saber como me dizer qualquer coisa.

— Vamos por partes — respirei fundo, tentando ajudar ele a chegar ao final de uma frase — Porque agiu daquele jeito com Kyle?

— Não gosto dele.

— É só por isso? — apoiei o cotovelo nos joelhos, tentando ver alguma coisa no rosto de Remo que me ajudasse a decifrar o que ele queria dizer — Remo, se eu sonhar que está evitando me dizer as coisas só pra me proteger...

— Você não entende como é. — ele virou seu rosto em minha direção — Não sabe o peso que eu carrego sabendo que todos que se aproximam de mim correm um risco por minha causa.

— Então me explica.

— Eu demorei meses para contar aos meninos o que eu era. Demorei quase um ano inteiro. Quando eles descobriram e não se afastaram por medo ou repulsa, eu não entendi. Não estava acostumado a ser aceito em lugar nenhum.

Sua mente visitava lugares dolorosos, e isso transparecia no seu rosto.

— Mas eu tenho noção de que se for preciso, irei me afastar. Não posso arriscar machucar aqueles que eu amo, nunca.

— Então vai se isolar de tudo que pode viver?

— Eveline...

— O problema Remo, é que você só olha para si mesmo como um monstro. Um monstro que você não é.

Ele se levantou e colocou as mãos em volta das têmporas, eu me levantei e fiz questão de olhar bem nos olhos dele quando eu disse:

— Eu queria que você conseguisse olhar para si mesmo do jeito que eu olho para você. E então você veria que é a pessoa mais pura que eu já conheci. Que você vai muito além daquilo o que se torna nas noites de lua cheia. Que você merece todas as coisas boas que as outras pessoas tem.

Tomei fôlego antes de continuar.

— Eu não quero que você se prive de mais nada na sua vida. Eu quero que você consiga enxergar um futuro onde é feliz, e não solitário vivendo de pura angústia e amargura. As pessoas que querem ficar do seu lado estão aqui. Estão com você. E não pode impedi-las de tomarem suas próprias escolhas.

Quando acabei de dizer todas aquelas coisas, eu esperava que um silêncio mortal caísse sobre nós até alguém abrir a maldita porta, mas nada disso aconteceu.

Em um momento ele estava do outro lado da sala, olhando para mim com irritação e atenção ao mesmo tempo.

No instante seguinte, ele tinha ultrapassado a distância entre nós e segurado meu rosto com as duas mãos antes de me beijar.

Suas mãos tinham começado segurando o meu rosto quando seus lábios se encostaram nos meus, mas em seguida foram até o meu pescoço, e então a minha cintura. Agarrei os seus cabelos em um movimento involuntário, mas eu sentia que aquilo não acabaria tão rápido. Sua cabeça se inclinava sobre a minha querendo mais e mais daquele beijo, e eu não iria de jeito algum tentar pará-lo agora.

Eu não conseguia raciocinar direito, era uma mistura estranha de sensações. Eu só conseguiria pensar naquilo tudo depois.

Nos separamos em um pulo quando a porta foi aberta.

Não eram os meninos.

Era Alvo Dumbledore.

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BLEEDING SUN | REMUS LUPINOnde histórias criam vida. Descubra agora