CAMINHEI PARA AS ESCADAS que davam uma boa visão do Salgueiro Lutador quando vi Madelyn sentada com um livro em mãos.
— Oi. — sorri e me sentei do lado dela.
— Oi.
— Vou ser sincera com você, porque eu acredito que Sirius já tenha te contado...
— Não somos namorados — ela foi rápida ao negar — Somos... amigos? Não sei o que somos.
— É que até o dia da estação eu nem sabia que vocês se falavam, daí fiquei um pouco chocada.
— Eu entendo. Nós só nos falamos no dia do baile e depois... umas coisas aconteceram. Ele estava lá e me ajudou. Mas foi só isso.
O cabelo loiro de Madelyn caía sobre sua cabeça em ondas, e seus olhos escuros estavam esperando que eu falasse qualquer coisa. Quando eu olhei para ela naquele instante, percebi que ela era a minha Madelyn. Aquela com quem fiz amizade na fila para o teste das casas, aquela que se sentou comigo quando os outros não queriam por eu ser trouxa, aquela que segurou minha mão na primeira noite quando chorei de saudades de casa.
— Sabe... não seria ruim se vocês namorassem.
— Eve...
— É sério. Acho que até daria certo. Você parece sã mas é bem doidinha quando chega perto, que nem ele — consegui fazê-la rir — Sem falar que ambos tem cabelos incríveis.
— Nós não somos namorados.
— Você já disse isso. Só estou dizendo... que sei que tem receio porque eu e ele somos amigos, mas eu não ligo. Você é minha amiga também.
— Eu sou? — sua expressão genuína me fez sorrir.
— Claro que é. Fez tudo aquilo por mim no ano passado, e eu sou muito grata.
— Não agradeça por aquilo, era o mínimo que eu podia fazer depois de tudo.
Nunca falamos sobre o que levou ela até aquele ponto. Ela tinha me dito que queria ser popular, importante. Mas seria só isso mesmo? Madelyn nunca havia ligado para essas coisas antes.
— Por que você quis virar amiga de Kate Bryce?
Madelyn fechou o livro e o pós no meio de nós, apoiando os dedos no degrau.
— Meus pais queriam que eu fosse amiga dela.
— Ah, é claro... — revirei os olhos — Como eu nunca tinha pensado nisso antes? Óbvio que eles queriam aquilo.
Os pais de Madelyn eram pessoas horríveis. Sempre tentaram impor regras na vida dela, e odiavam especialmente o fato de que ela era minha amiga — amiga de uma sangue-ruim. Apesar de nunca ter se afastado de mim durante os cinco anos que passamos juntas em Hogwarts, ela sempre buscou incessantemente pela aprovação dos pais. Nunca obteve ela.
— Não quis te contar na época porque você tentaria me ajudar e eu ia acabar sendo expulsa de casa se desacatasse eles.
— Mas desacatou no ano passado — seus olhos se voltaram da grama para mim — Quando me ajudou e deu um pé na bunda de Kate.
— É... eu acho que essa foi minha fase rebelde.
— Não acredito em como fui estúpida de nunca ter notado o ponto dos seus pais.
— Não é sua culpa, Eve. Eu fui muito convicente na época. Não sei como não fui parar na sonserina tendo esse baita talento para mentir.
— Os seus pais são malucos — não consegui controlar a língua — Com todo respeito Mads, mas eu odeio eles. Odeio muito.
— É... também acho que odeio.
— Não vai me dizer que o Sirius também te vendeu o curso "seja deserdado pela própria família"?
— Ah, ele vendeu — rimos juntas.
— Isso é bom, sabe. Sempre esperei que você percebesse que seus pais não eram boa gente. Nem consigo acreditar que foi logo Sirius que colocou juízo na sua cabeça.
— Pois é. — Madelyn colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha — Busquei a aprovação deles por tanto tempo... perdi muitas coisas. Perdi você. Tudo por ordens e crenças que eu nunca compartilhei. Essa baboseira de sangue... tudo uma porcaria. Acho que nos últimos tempos eu só me cansei de fazer tanto por eles e não receber nada. Não que eu busque pela mesada, ou ingressos para os jogos mais caros que eles conseguirem... mas eu só queria o mínimo que um filho merece. Amor, atenção, afeto. Qualquer coisa. Eles nunca fizeram nada por mim além de me dar ordens e me criarem como um soldado para uma batalha da qual eu nem quero fazer parte.
— Eu sinto muito. — murmurei, segurando sua mão sobre o cimento frio em que estávamos sentadas.
— Você é uma pessoa muito boa. Se eu fosse você estaria rindo da minha cara e garantindo que eu fosse humilhada na frente da escola toda depois do que eu te fiz.
— Então ainda bem que você não é eu.
Nossos olhares vagaram até a grande árvore que movia os galhos a alguns metros de nós. Olhei de relance para Madelyn, e decidi compartilhar algo que eu tinha ouvido do meu pai há alguns anos atrás.
— Sabe... é fácil para pessoas como eu escolherem o lado do bem, o lado das pessoas boas. Porque eu sempre fui amada e apoiada pelas pessoas que me cercavam. Eu nunca fui pressionada a fazer nada do que eu não queria — o vento gélido bateu contra nosso rosto — Mas para pessoas como você isso é diferente. Vocês precisam de muito mais força para deixar aquele destino que foi traçado para vocês. Se virar contra aqueles que são sua família, sangue do seu sangue... é um ato de coragem. O maior de todos, na minha opinião. Depositar sua fé naquilo que acredita, sem se importar com o que os outros vão pensar. Até mesmo aqueles que você ama.
Eu conseguia até escutar a voz do meu pai no meu ouvido.
— E no final do dia, a gente sempre imagina como teria sido. Em um mundo ideal, os nossos pais nos amariam do jeito que somos, com as qualidades e defeitos, e respeitariam nossos pensamentos. E que sempre nos protegeriam. Mas não estamos num mundo ideal, muito pelo contrário — encarei a minha amiga — Então se você teve coragem para erguer sua cabeça e ir contra seus pais, eu acho que pode fazer muito mais. Pode ir além de tudo isso, Mad.
— Além quanto? — questionou.
— Nós duas sabemos muito bem que dentro das paredes desse castelo, nesse exato momento, pessoas escolhem seus lados. Elas esbanjam as marcas em seus braços, as palavras sujas, as crenças que matam pessoas todos os dias. Acho que você vai lutar conosco, Mad. Eu estou errada?
Pensei em todos os colegas que podiam ter se juntado com aqueles que querem a morte de pessoas como eu. Pessoas que acreditam na supremacia dos sangue-puro.
— Não. Não está.
Sorri para ela, e ficamos juntas ali por alguns bons minutos até um garoto de cabelos compridos atrapalhar a gente querendo mostrar o novo truque de mágica que tinha aprendido. Sirius acabou indo para enfermaria depois de se engasgar com uma caneta.
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BLEEDING SUN | REMUS LUPIN
Fanfiction[CONCLUÍDA] 𝐄𝐕𝐄𝐋𝐈𝐍𝐄 𝐂𝐎𝐋𝐋𝐈𝐍𝐒 se viu em um grande problema quando precisou ajudar 𝐑𝐄𝐌𝐔𝐒 𝐋𝐔𝐏𝐈𝐍 depois de uma de suas transformações. Agora, com a superproteção dos 𝐌𝐀𝐑𝐎𝐓𝐎𝐒 para impedir que a garota conte o que sabe, ela c...