Capítulo 3

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Muita coincidência eu estar prestando atenção na hora. O que eu vi acontecer foi ele tentar saltar uma das mesas enquanto o skate deslizava sob a mesma. Na queda ele bateu a cabeça quebrando a mesa, o skate que ele só alcançou a beirada voou alto igual uma catapulta e caiu sobre outra mesa e na queda também a quebrou, mas o pior foi a perna dele. Como estava de bermuda dava pra ver fácil que tinha quebrado e com todo aquele sangue por conta do vidro eu não sabia se era fratura exposta ou não. A roupa dele toda branca, de quem ia jogar golfe fazia a cena parecer de filme de terror.


A prancheta da contagem do material virou apoio pros meus joelhos ao lado dele do contrário eu me cortaria. Eu tentei confortá-lo parecendo positiva, mas o treinamento do resort no atendimento ao público se fez presente e eu disse (em inglês):


— Mr. Kim? Meu nome é Nina Silva e eu vou tomar conta dessa situação, OK?


Tirei meu lenço dos ombros enquanto olhava em volta para ter uma noção da situação. Localizei Ana que me olhava e falei pra chamar uma ambulância. Pedi a Fabrício que chamasse com urgência o Fernando da segurança e que ele trouxesse pelo menos 4 homens de sua equipe. Voltei minha atenção para aquele garoto lindo e indefeso, mas sem nenhum juízo ali na minha frente e sequei as lágrimas dele com meu lenço. Segurei a mão direita dele e ele me olhou de um jeito que não tenho como explicar. Eu só repetia que tudo ia ficar bem e que ele não devia se mexer, ele me olhava, mas não respondia e eu fui ficando preocupada. Será que a pancada na cabeça está afetando o raciocínio dele?


Olhei pra cima e tinha seis pares de olhos vidrados na cena e um deles (outro Mr. Kim) se abaixou pegou a outra mão dele e me encarou como quem diz "o que eu faço?" e eu na hora comecei:


— Oi, eu sou Nina, ele não me responde, fale com ele, por favor, na sua língua materna. Pergunte coisas fáceis como onde estão agora, nome completo, nome dos pais, sei lá qualquer informação básica que ele não possa errar. Melhor não perguntar em inglês pra não termos dúvida se ele está coerente ou não. Já mandei chamar a ambulância.


Tentei dar um pequeno sorriso porque dava pra ver que ele estava super nervoso. Ele respirou fundo e começou a falar em coreano com o acidentado e para minha felicidade ele estava respondendo.


Uma coisa me preocupava: a multidão lá fora. O barulho tinha aumentado, provavelmente alguém saindo contou ao pessoal lá fora o que estava acontecendo.


Minha outra preocupação era o tanto de sangue que se acumulava próximo à cabeça dele. A pancada que vi foi feia. Sei que a cabeça é uma área muito vascularizada e por isso sangra bastante mesmo com um corte pequeno, mas como não dava pra saber eu estava realmente preocupada. Olhei de novo para o rapaz a minha frente e ele já se adiantou: ele respondeu tudo certo, e eu respondi "Que bom. Agora preciso que você pergunte dados médicos a ele e você precisa memorizar as respostas caso ele fique desacordado OK?" Outro rapaz do grupo disse "Namjoon você pergunta e eu anoto aqui no celular". Eu continuei: "Pergunte o tipo sanguíneo, se tem alergia a algum medicamento, cirurgias prévias, e se tem alguma doença crônica como diabetes, anemia etc. e se toma alguma medicação." Ele me olhou sério e concordou com a cabeça. 

Enquanto falavam e o outro anotava um homem apareceu filmando a gente ali. Eu fiquei possessa e falei para ele se afastar e dar privacidade ao rapaz, e assim começou uma discussão. Enquanto aquele idiota falava eu disse a Ana e Fabrício que pegassem as faixas de isolamento da sessão de fotos e criassem uma barreira pra gente. O tal cara era um repórter do tipo bem baixaria eu tive que me levantar, pegá-lo pelo braço e retirá-lo dali para ficar atrás do isolamento ele não se conformou e veio partindo pra cima de mim com o velho discurso da liberdade de imprensa. Não teve jeito e tive que usar uma das manobras que aprendi ao fazer defesa pessoal quando me vi sozinha no mundo. Minha vontade mesmo era bater nele, mas só torci o braço dele de forma que ele não conseguia se soltar e o levei até atrás do cordão.

Voltei pra perto dos rapazes que estavam me encarando incrédulos e de olhos arregalados.


— Desculpem-me por isso — disse muito sem graça. Afastei o pensamento de que aquela não era a postura de uma funcionária do resort. Voltei a me ajoelhar e choroso o Mr. Kim disse "Thank you Nuna". Quase chorei junto, mas disse "não tem de que" e o corrigi: "não é Nuna é Nina", e sorri.


De vez em quando sem querer ele mexia a perna e voltava a gritar de dor. Eu segurei a mão dele e disse: "faça o seu melhor pra não se mexer, dá pra ver que quebrou, mas você é jovem e fraturas saram". Eu sabia que o nervosismo tava tomando conta de mim. Apesar de ele reclamar da perna o que me preocupava mais era a cabeça, ainda bem que ele não podia ver todo o sangue se acumulando.

O Tempo da LeoaOnde histórias criam vida. Descubra agora