Capítulo 25

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V estava agora se acostumando com as muletas. Era mais fácil para uma série de coisas. Segui firme na limpeza da perna. Impressionante como gerava secreção. Eu andava o dia inteiro com uma bolsa carregada com os produtos que precisava, sem contar que V ainda ficou tomando remédios por uns dias, então eu o interrompia o dia inteiro. Era engraçado como a gente já fazia tudo em sincronia, como nos acostumamos a nossa rotina. Ele já antecipava que eu ia dar os remédios estendendo a mão pra pegar, ou que lado virar a perna pra eu limpar. Com as muletas a fisioterapia dele mudou bastante e assim ele tinha atividade física 4 vezes na semana.

Um dia na Universidade tomei coragem e procurei um dos alunos que tinha me dado aula particular e pedi que ouvisse a gravação. Ele ficou muito sem graça, mas insisti muito e ele traduziu. Meu instinto não estava errado. O pai de V achava que eu era basicamente uma puta colocada ali pra distrair o V. Não bastasse isso na conversa fica claro que ele achava que eu estava dando em cima do médico e dos outros meninos também. Foi difícil escutar aquilo, mas agradeci ao estudante já com lágrimas nos olhos. Me segurei durante a aula mas no ônibus de volta pra casa deixei jorrar toda a minha frustração com aquela situação. Sabia que daria pra ver na minha cara então coloquei os óculos que normalmente só usava pra ler e ver TV e entrei de cabeça baixa em casa. Fiquei no quarto direto, tomei um banho, não saí nem pra comer. Certa hora V me chamou pra estudarmos inglês. Ao me ver ele ficou sério. Perguntei pra ele se só por hoje poderíamos só estudar uma música e sugeri My Immortal do Evanescence. Bem adequada ao meu estado de espírito e acabei chorando muito mais ali enquanto estudava a letra com o V. 

Não sei como acabei dormindo ali mesmo. Acordei no meio da noite ainda segurando a mão do V. Agradeci mentalmente por ele não ter perguntado nada e só me deixado chorar. Bem devagar saí do quarto sem acordá-lo passei na cozinha peguei água e fui pro meu quarto. Não preguei o olho. Só ficava pensando no que eu deveria fazer. Não podia contar pro V, afinal era o pai dele. Pensei em ir embora, mas prometi ao V que ficaria do lado dele enquanto ele precisasse. Seriam pelo menos mais cinco meses. Passei a me perguntar qual era a do RM? Ele acreditava naquilo? Um cara viajado sabedor que no Brasil temos uma cultura muito menos formal. Era difícil de acreditar. E ainda por cima eu não tinha feito absolutamente nada de errado. Como não conseguia dormir acabei indo pro quintal. Precisava de ar. Vi o nascer do sol.

No domingo eu acordei cedo porque não queria interagir com ninguém, eu não tinha ânimo. Sentei sozinha a mesa pra comer e pra meu azar todos acordaram e se juntaram a mim na mesa, até RM que eu era obrigada a evitar com todas as forças. Eles conversavam animadamente como sempre e Jimim acabou falando:

JM: — Noona, você está muito calada esses dias. Devia aceitar o convite do médico e ir jantar com ele pra se animar um pouco. O V falou que acha que ele está gamadão.

Dava pra sentir o RM me fuzilando. V repreendeu Jimim e me olhou como que pedindo perdão. Eu acabei de mastigar devagar e respondi:

Eu: — Isso eu não sei, mas de qualquer forma a recíproca não é verdadeira então não tenho porque aceitar. Eu já terminei. V vem logo pra eu limpar sua perna. — e deixei a mesa.

V: — Noona, eu disse pro Jimim não falar nada.

Eu: — Não tem problema. Como você disse não é vergonha nenhuma.

Quando terminei falei pro V que iria dar uma volta. Coloquei tênis e roupas confortáveis e fui caminhar. Caminhei sem rumo por duas horas até que percebi que tinha que voltar. Caminhei rápido, porque já tinha que limpar a perna do V de novo, mas ainda assim cheguei atrasada.

Do lado de fora estava RM e eu podia jurar que estava a minha espera.

RM: — Foi encontrar com seu namorado médico?

O Tempo da LeoaOnde histórias criam vida. Descubra agora