Capítulo 40

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Nessa última semana RM passava muito tempo ao telefone, ele estava estressado e eu já percebia como isso o afetava. Ele nos ensaios estava irritado, errava as coreografias e mal falava com ninguém, até comigo. No último fim de semana que passamos juntos, ele ficou calado a maior parte do tempo e só me abraçava sem dizer nada. E nessa última noite tínhamos marcado de jantar todos juntos, ele chegou mais tarde, quando me olhou baixou a cabeça e foi direto pro quarto. E essa foi a última vez que vi RM antes de partir.

Na manhã seguinte acordei bem cedo, pedi um taxi, me arrumei sem fazer barulho e fui pro aeroporto sem me despedir. Disse a mim mesma que assim seria mai s fácil pra todo mundo. Na verdade era mais fácil pra mim e talvez mais fácil para Namjoon dado o jeito dele nos últimos dias. Na minha última noite Namjoon sequer me procurou. Eu sabia que era assim que ele era, estava sofrendo como eu, mas lidava com aquilo de forma diferente. Ele com certeza tentou de tudo também para que eu ficasse, mas não conseguindo também, ficou revoltado.

Eu já havia até passado pelo raio-X do aeroporto quando comecei a receber as ligações deles.

V e Jimim: — Noona, você foi embora?

Eu: — Desculpem-me, seria muito difícil eu me despedir. Achei melhor assim.

V: — Ah Noona, eu queria ter te dado um último abraço.

Eu: — Desculpa querido — o choro começou a rolar novamente enquanto eu olhava todos eles pela pequena tela do celular.

Y: — O RM te levou?

Eu: — Não, vim de taxi. Saí muito cedo. Embarco em no máximo 20 minutos.

Y: — Eu não acredito nisso.

Eu: — É melhor a gente desligar, estou passando vergonha aqui, amo vocês, se cuidem. — e desliguei.

Estavam todos tomando café da manhã quando RM finalmente saiu do quarto e se juntou a eles.

Y: — Eu não acredito que você fez isso Kim Namjoon. — os outros olhavam sem entender. Como RM não dissesse nada Yoongi continuou. — Você deixou a Nina ir para o aeroporto sozinha? Aposto que você nem se despediu dela, não é? — RM continuava mudo. — Sabe o que é pior? Uma vez conversando com ela perguntei como podia ela ficar sozinha sempre. E ela disse que no geral não se importava, ficava muito bem só, principalmente em casa. E de repente ela acrescentou, que só se sentia sozinha quando viajava. Nunca ninguém estava ali com ela pra se despedir ou para recebê-la deixando bem evidente que não havia ninguém querido para quem voltar ou se despedir. Eu sei que você está sofrendo, dá pra ver, mas você não podia ter feito isso.

Cheguei ao Brasil me sentindo um lixo depois de uma viagem longa demais, cansativa demais e muito triste. Fui até interrompida por uma comissária pra saber se eu estava bem. Eu tinha mandado mensagem para minha amiga Marina avisando do meu retorno e ela disse que iria me buscar. Quando avistei Marina na saída me senti aliviada por não estar só e quando vi Dona Márcia ao lado dela, mãe de Marina, a abracei e chorei um choro desesperado. Ela representava todo o amor de mãe que eu conhecia. Era de colo de mãe que eu precisava.

Passei três dias na casa da Dona Márcia, igual fazia quando éramos crianças. Nos dois primeiros eu só dormi. Elas cuidaram de mim sem fazer perguntas e finamente no terceiro dia eu me abri com Marina. Contei tudo, todas as coisas boas e ruins. E ela entendeu o porquê de eu estar tão arrasada. Elas me convidaram pra ficar o tempo que fosse preciso, Dona Márcia garantindo que ela adoraria a companhia já que Marina iria voltar para sua própria casa e ver seu marido. Fiquei só mais um dia aproveitando o afeto dessa minha mãe postiça, aluguei um carro e prometi que viria visitá-la em breve. Fui para minha casa, quer dizer, a casa que era dos meus pais. O jardim estava descuidado claro, mas pelo menos o mato não estava alto. Quando entrei teias de aranha e poeira pra todo lado, comecei a espirrar. Verificava a casa pretendendo limpar pelo menos o básico para um primeiro dia e comecei a perceber tudo que faltava. A TV, fogão e geladeira não estavam ali. Uma fruteira e alguns eletrodomésticos idem. Notei que o sofá e as camas que eu tinha coberto com lençóis antes de partir estavam descobertos. Não foi difícil entender o que tinha acontecido. Minha chamada família esteve ali e acabaram levando o que acharam melhor. 


Algumas coisas realmente não mudavam e eu já nem me espantava mais. Passei o dia limpando a cozinha, um banheiro e meu quarto. Fui ao supermercado e comprei apenas coisas que não estragariam fora da geladeira. No bar próximo comprei cerveja gelada. Juntando aos amendoins e as batatas chips aquilo foi tudo que eu comi. Repetia isso até que a casa estivesse habitável. 

Chamei o jardineiro, e tive minhas suspeitas confirmadas quando ele falou que eles vieram buscar umas coisas. Comprei uma air fryer para poder pelo menos fritar um frango ou assar pão de queijo. Segui ali nessa rotina, comprava várias besteiras, cerveja e ficava ali à toa quando a limpeza acabou. Comecei a ir a praia quando me dava na telha e sem cuidado algum voltei já no primeiro dia completamente vermelha. A noite sozinha segurando mais uma lata de cerveja eu olhava para o computador. Ainda não tinha me permitido ver sequer um e-mail. O telefone estava sem chip, pois na minha chegada emocionada ao Brasil nem me lembrei de comprar um. Abri o e-mail e vi as mensagens ali. Yoongi tinha mandado quatro. No assunto em letras grandes do mais recente: POR FAVOR? VOCÊ ESTÁ BEM? Tinha mensagem do V também e uma da imobiliária que administrava meus alugueis em São Paulo. Comecei pela da Imobiliária e havia uma boa proposta de compra para minha casa em São Paulo por parte dos inquilinos. As outras mensagens só lixo eletrônico. Namjoon não tinha mandado nada. Tomei coragem e abri apenas a última mensagem de Yoongi:

"Nina, por favor, só me diga se você está bem. Não sabemos como você chegou e estamos preocupados. Dê pelo menos um alô.Seu amigo, Yoongi"

Respondi:

"Desculpe te preocupar, Yoongi. Eu preciso de um tempo pra recolher os cacos.Nina"

O Tempo da LeoaOnde histórias criam vida. Descubra agora