Capítulo 73

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Aproveitava aquele tempo sozinha no ônibus pra pensar. Como vão ser as coisas agora? O que eu faço. Não quero deixar nada que vá dar trabalho a outras pessoas. Aviso minha família no Brasil? Conto pra Marina e Gilberto? Minha mente estava atordoada de perguntas. Perguntas que eu não sabia responder e para as quais eu não tinha tempo. Quem poderia me aconselhar num momento tão horrível como esse?

A distração do trabalho foi bem vinda se bem que de vez em quando se eu deixasse minha mente divagar eu acabava quase chorando só com meus pensamentos. A ansiedade era muita. Eu não sabia como ia me portar com RM. Além disso eu sou uma péssima mentirosa. Como eu ia manter algo assim em segredo? Como fingir que tudo está bem?

Quando saí para almoçar peguei um papel e tentei listar as coisas práticas que devia fazer antes de partir. Vender aquele meu último imóvel. Deixar uma grana pra Marina. Minha amiga merece. Gilberto já tinha muita grana e não precisava apesar de merecer. Doar meu patrimônio para três causas distintas: animais, crianças e idosos. Mandei um e-mail para a imobiliária abaixando um pouco o preço do meu último imóvel a ser vendido. Sobre deixar uma grana para Marina, como fazer isso sem falar com ela? Não era o tipo de coisa que se fazia por telefone. Lembrei-me de uma saída financeira para aquilo. Uma previdência do tipo VGBL a gente pode indicar para quem ficam os valores e assim fiz deixando a quantia que queria. Escolhi também as instituições para onde iriam as doações e fiz tudo pela internet. Pensei que eu deveria escrever cartas para cada pessoa importante me despedindo caso não conseguisse falar com eles antes. No máximo seis meses. Cada vez que pensava nisso meu coração disparava. No estado em que eu estava conseguiria fazer o Nam feliz até o último segundo do tempo que me restava? Conseguiria achar algo que pudesse fazer com que ele não ficasse tão triste com a minha partida? Eu estava sendo egoista não contando? Aquelas perguntas voltaram a me assombrar e achei que talvez o tal grupo de apoio pudesse ser de alguma serventia. Conversar com um profissional ou pessoas na mesma situação talvez me ajudasse de alguma forma. Resolvi que iria lá, no dia seguinte na hora do almoço.

A única coisa sobre a qual eu não tinha dúvidas era sobre desperdiçar o tempo que me restava com RM. Meu Nam. Faria de tudo para estar com ele tanto quanto pudesse. Eu precisava achar substitutos para mim na Engenharia e na Segurança. Ia focar primeiro na engenharia, alguém que colocasse a qualidade acima de tudo.

Naquele dia mesmo fui assistir o ensaio deles. Eu vi que RM notava que eu estava ali e sorria. A gente não podia demonstrar nada ali mas depois de sairmos da empresa conseguíamos nos ver. Eu sabia que teria que encará-lo de perto ainda hoje, e que teria que ser forte. Por mensagem combinamos de nos ver na minha casa. Quando eu estava saindo do banho ele chegou e me abraçou bem apertado por um bom tempo.

RM: — Ei, me perdoa por ontem? Eu tinha que estar do seu lado.

Eu: — Que isso amor, não tem nada a ser perdoado. Eu que te peço desculpas. Sei que pirei quando saí do médico, bebi, o que foi uma tremenda besteira, não entrei em contato com você quando prometi que faria isso e ainda dei trabalho ao V e ao Suga.

RM: — Eu não pensei que você fosse ficar tão abalada. Falha minha.

Eu: — Você não falhou em nada. Agora vamos parar com isso e vamos comer porque para tomar os remédios eu preciso comer antes.

RM: — Precisa mesmo, você tá tão magrinha, Batatinha — como eu amo quando ele me chama de Batatinha. Estando uma pilha de nervos, cada vez que ele fala ou faz algo fofo eu fico com vontade de chorar. Sei que meu nariz fica vermelho então falei logo.

Eu: — Eu amo quando você me chama de Batatinha e o beijei.

RM: — Nina, me escuta. Se você quiser parar agora de tomar pílula e tentar engravidar vamos fazer isso. — olhei bem pra ele com os olhos cheios d'água e fiz um esforço tremendo pra não desabar ali na frente dele.

Eu: — Eu te amo Kim NamJoon. Obrigada por isso. Mas eu sei que isso por enquanto complicaria muito as coisas. Em breve as coisas serão diferentes. — eu o abraçava apertado enquanto falava.

RM: — Não falo só por você Nina e nem quero botar pressão. Sei que as chances eram pequenas por conta da pílula. Mas me vi sonhando com uma criança. Então a hora que você achar que devemos eu tô pronto. — não consegui segurar e chorei nos braços dele.

Enquanto comíamos RM me contou que contratou um advogado para cuidar do meu pedido de cidadania. Amanhã te coloco em contato com ele, você vai ter que assinar uns papéis e ele vai cuidar de tudo.

Eu: — OK! Tenho novidades também. Eu decidi que vou deixar a engenharia. Estou enlouquecendo cuidando das duas áreas. Acho que por isso a gastrite. Vou selecionar por minha conta pelo menos uns 4 candidatos para apresentar de opção ao PD e assim pedir minha saída da área. E você sabe, ficando só na segurança vou ter mais tempo pra você, pra nós. Você acha que é arriscado eu pedir isso agora? Acha que ele me mandaria embora? Devo esperar um novo visto ou cidadania?

RM: — Você não sabe como eu fico feliz de ver você fazendo algo por si mesma. Primeiro foque na escolha dos candidatos como você falou. Nesse meio tempo você conversa com o advogado pra gente saber quanto tempo leva pra sair a cidadania ou um novo visto. Tem mais um detalhe também. Entramos em março, faremos os novos contratos até o final do mês.

Eu: — Ah é, verdade. — lembrei que com isso havia a possibilidade de podermos vir a público com nosso relacionamento e agora com tudo que aconteceu já não sei se isso seria bom.

RM: — O que foi?

Eu: — Nada! — e sorri pra ele. — acho que não devo comer demais, fico com medo de passar mal.

RM: — Verdade. Acho que o que você comeu já está bom. Quer que eu faça um chá pra você?

Eu: — Não, agora não, obrigada. Talvez mais tarde. — e tomei os remédios que me foram receitados.

Recostada no sofá com a cabeça dele no meu colo eu pensei que até que me saí bem. Enquanto fazia um cafuné nele eu o observava rir do que passava na TV e formar aquela covinha linda. 

Sem prestar atenção ele acariciava minha coxa onde estava deitado. É por momentos assim que vivi até aqui. Nada mais importava. Só ele.

O Tempo da LeoaOnde histórias criam vida. Descubra agora