Capítulo 13

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As vans sumiram de vista, eu entrei, fechei o portão e não sei porque caí no choro. Chorei muito ali encostada. Chorei olhando pra onde estavam sentados, as latas de cerveja e copos na mesa. Chorei mais ainda olhando as flores. Se eu não aceitasse seria a última vez que os veria. Que veria V e RM. Diante de mim uma grande decisão a ser tomada e eu como libriana típica já estava sofrendo com isso.

Peguei o envelope, uma caneta, um pequeno bloco e fui pra praia com um guarda sol e uma canga. Sentada ali no sol da tarde que já se ia eu comecei a ler o contrato e fazer anotações.

1. Salário: peguei o celular e dei uma pesquisada, o salário não era bom, mas eu tinha que ler o resto pra saber se tinha benefícios.2. Passagens de ida e volta: por conta deles, ok. Isso me lembrou de que nem passaporte válido eu tenho. O meu último acho que renovei em 2010.3.Contrato de um ano de validade com 1 mês de aviso por uma das partes. Fazia sentido para o tempo da recuperação da perna do V.4. OPA! Eu vou morar na casa em que eles moram juntos??? Como assim?5. Viagens: acompanhar o V em primeiro lugar e talvez os outros do grupo.6. Atribuições: no resumo eu tinha que garantir que o V iria a todos os compromissos médicos, tomaria seus remédios conforme prescrito, iria a todos os compromissos do BTS e/ou solo. Eu seria uma guardiã da agenda deles de maneira geral. Incluíram também um tempo de estudo pro V e citaram inglês entre outros.7. Report semanal ao PD8.Confidencialidade: claro, eu já imaginava que isso iria constar. Essa parte sozinha tomava três páginas inteiras explicitando que não podia vazar fotos, coreografias, musicas etc.9. Coisas básicas sobre uma folga semanal, ajustada a agenda deles.10. Interagir com a área de segurança deles garantindo que os procedimentos fossem cumpridos11. Reportar qualquer comportamento relevante dos membros do BTS... Tive que rir... eu seria a fofoqueira oficial

Na primeira lida foi isso que peguei de mais relevante. Iria reler, mas os pontos que não abordaram já começaram a pipocar na minha cabeça. Peguei o cartão do advogado e comecei a redigir um e-mail no meu celular com minhas primeiras dúvidas:

1. Plano de saúde2. Garantir a ida do V aos compromissos incluía dirigir pra ele? Deixei claro que não me sentia confortável principalmente porque não sei nada de coreano, como ficaria a leitura das placas que não fossem de sinalização internacional? (Eu não queria dizer o motivo real...).3. Gostaria de incluir no pacote aulas de coreano.4. Burocracia relativa à permissão para trabalhar, eu teria registro?5. Morar com eles... Eu teria pelo menos um quarto só pra mim, ou seja, alguma privacidade?

Como se eu precisasse de uma desculpa para falar com o RM eu copiei o texto do e-mail e mandei pra ele avisando que tinha enviado ao advogado.

* Feliz que você está estudando a proposta. Já falo com você* veio de volta.Peguei então meu bloco e comecei a listar razões para ir e para não ir:- estou desempregada... Óbvio!- ganharia experiência internacional o que sempre é bom no currículo- conheceria um país de cultura oriental o que sempre quis fazer.- mais um idioma no CV- conheceria o mundo do show business- viajaria muito/talvez porque não sei mesmo como é a vida deles- estaria próxima ao mundo da música e da dança / ganharia alguma experiência em outra área de negócios- moraria com sete homens adultos (?): eu não sei o quanto das palhaçadas deles é encenado, mas eles parecem crianças, adoráveis, mas ainda assim crianças.

Eu não moro com ninguém desde os 17 anos. Fico bem só. Gosto de estar só, eu me acostumei a estar só. Sou introvertida. Será que me acostumaria a uma rotina com tanta gente? E não são pessoas comuns, ídolos com rotinas e vidas meio loucas.

E uma mensagem chegou, era o RM.* Falei com o advogado e ele já vai te responder** Tudo que você está com dúvida tem solução** Você pode ficar no meu quarto ;-)*Essa mensagem de duplo sentido me fez sorrir. Ele iniciou uma chamada de vídeo. Tomei um susto e atendi sem pensar:

RM: — Ah você está na praia... — e ficou mudo até eu me tocar que na câmera ele via meus seios naquele biquíni branco cortininha. Aproximei do rosto e muito sem graça respondi:

Eu: — Sim, estou.

RM: — Não se preocupe com a sua privacidade na casa. Você terá seu quarto sim, e banheiro, aliás. A casa é enorme. Se tá preocupada em morar com sete caras...

Eu: — Não é isso. Não acho que vocês fariam algo errado ou indecente, ou nem mesmo estaríamos falando agora. É só o meu jeito mesmo. Moro sozinha desde sempre. Não sei como conviver com outras pessoas em casa.

RM: — Eu ia perguntar mesmo se você morava sozinha... Aí é bem grande. Você é solteira? Não tem família?

Eu: — eu só tenho parentes, mas meio distantes — achei que essa resposta por hora era suficiente porque não queria falar disso, ele pareceu entender o objetivo da minha resposta vaga e mudou de assunto.

RM: — O curso de coreano tá resolvido. Na Universidade de Seul tem aula de coreano para estrangeiros com certificado e tudo. Você terá acesso e o tempo disponível para fazer as aulas que são 3 vezes na semana. Quanto ao plano de saúde e a permissão para trabalhar o advogado vai verificar. Com relação a dirigir, ninguém tinha pensado nisso, mas temos motoristas então não acho que será problema.

Eu: — Que bom, aguardarei as outras respostas do advogado.

RM: — Eu vou dormir um pouco agora e devo acordar lá pelas 10 da noite, posso te chamar? É que eu já tenho que me acostumar com o horário de casa.

Eu: — Pode sim, sem problemas.

RM: — Mas se tiver mais dúvidas pode ir mandando... Aproveite a praia, dê um mergulho por mim. — e com o sorriso mais fofo acenou pra mim deixando aquela covinha linda aparecer.

Fui direto pra água, gelada mesmo, precisava daquilo pra me acalmar. RM me tirava dos eixos e pra tomar essa decisão eu precisava estar centrada.

Depois de um tempo lendo e relendo o contrato e anotando os prós e contras, resolvi pedir opinião dos meus dois melhores amigos: Gilberto e Marina.

Primeiro falei com Gilberto, me zoou muito por ir morar com sete caras. Mas no final levou em conta toda a questão profissional e disse que eu devia ir.

Depois liguei pra Marina, amiga de uma vida inteira e libriana como eu, que me disse:

— Amiga você sabe que eu te amo e nunca ia querer ficar longe de você. Mas eu tenho que te dizer pra ir. Passei a vida inteira vendo você só trabalhar e se frustrar no trabalho e na vida pessoal. Você sempre contida achando que nunca merece nada de bom, depois de tanta porrada que a vida te deu. Vá e uma vez na vida se jogue nessa experiência. Faça tudo pra ser feliz. Você merece, já ajudou tanta gente. Quem sabe você não acha sua cara metade na Coréia? E se as coisas derem errado, pegue seu passaporte e sua passagem e volte. Lugar pra ficar você tem.Eu: — Obrigada Marina.

Agradeci muito mesmo a Marina, mas me sentindo culpada por não ter mencionado nada sobre RM. Eu queria um motivo sólido pra ir ou não, e não uma paixonite por um cara hiper famoso e gato.

Passei a pensar nas consequências de ir e deixar tudo aqui. Como resolveria a administração dessa casa e dos alugueis em São Paulo. Tirando isso nada me prendia. Nem mesmo um cachorro, a última morreu tem uns quatro meses. Eu amo cães, mas ainda não tinha superado a perda da minha bebê. Foram cinco ao longo da vida, com certeza iria adotar outro cão em algum momento. Para a casa aqui eu podia contratar alguém pra vir dar uma olhada semanalmente se fosse o caso. Só fiquei triste pelas plantas e flores que não seriam regadas com frequência.

Não sei quanto tempo depois de ficar pensando na praia ouvi o bipe do celular. O Advogado me respondeu. Sobre o plano de saúde existe um prazo de carência de três meses e nesse período a Big Hit se responsabilizaria pelas emergências. A permissão para trabalhar já estava sendo tratada por eles com o devido órgão do Governo lá coordenado com o Consulado aqui, a única coisa que faltava para tudo isso acontecer era o meu OK que deveria ser indo ao Consulado e assinando o contrato.

De repente me deu um estalo e resolvi mandar uma dúvida/exigência de última hora: o sigilo com relação a mim. Eu não queria de nenhuma forma que fosse veiculado que eu morava com eles, meus dados pessoais de qualquer natureza. Eu seria apenas alguém da Big Hit que eventualmente estaria com eles na casa. O retorno veio quase imediatamente: Isso é fácil, para a BH é assim que deve ser mesmo.

O sol estava se pondo, assisti ao espetáculo da natureza, peguei minhas coisas e fui embora pra casa.

O Tempo da LeoaOnde histórias criam vida. Descubra agora