Capítulo 9

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Falei com o médico e a enfermeira que aquela bagunça era inadmissível. Que quanto mais demorasse a iniciar a cirurgia pior ficaria, que restringissem a entrada naquela sala já.

Quando olhei pro lado estavam o mesmo cara do cartão do SUS e um engravatado que se apresentou como diretor administrativo do hospital. De rabo de olho percebi RM saindo da sala onde V estava com o celular na mão e recebendo algumas pessoas.

O diretor do hospital começou a dizer que os procedimentos são padrão e que fora das normas o V não seria operado e que estavam fazendo o que podiam e desfiou mais uns 3 minutos de ladainha no meu ouvido.Eu virei pra ele e comecei:

— A única coisa que está fora do padrão aqui é o fato de 8 membros de sua equipe terem entrado no quarto de um paciente simplesmente pra tietar já que ele é famoso. Se fossem fãs comuns eu teria me assustado menos, mas por se tratarem de profissionais de saúde que tiravam fotos ao lado de um paciente que gritava, tenho certeza de que medidas legais podem facilmente ser tomadas. Cederei as gravações do meu celular com prazer. 

Ele olhou pro meu celular como se quisesse pegá-lo e eu o adverti ferozmente: VÁ SONHANDO!. Em segundo lugar usar a falta do passaporte dele é ridículo ou é procedimento padrão negar atendimento? Se ele estivesse sozinho e desacordado vocês nem mesmo saberiam que ele não é brasileiro. E o documento só foi pedido 6 horas depois, haja incompetência. Nessa hora RM coloca o passaporte do V em minhas mãos e eu digo pra ele "filme o que vou dizer pra esse cara".

— Veja só, em menos de meia hora depois de solicitado está aqui e entrego diretamente em suas mãos Sr. Diretor. Veja que estou filmando conforme a lei estadual que permite que funcionários públicos sejam filmados em suas atribuições. Deixo sob sua responsabilidade e que o mesmo não seja fotografado ou tenha seus dados copiados para ser veiculado por aí. Isso também vale para toda a ficha médica do paciente que segundo a lei é sigilosa. E por último, quero saber por que ele ainda não foi pra cirurgia.

Diretor: — Mas não temos obrigação de operá-lo porque ele é estrangeiro...

Eu: — Basta usar o google e ver que o SUS prevê o atendimento inclusive a estrangeiros. Consulte o ministério da saúde, o prefeito,... Sei lá, mas me dê uma resposta formal em no máximo 30 minutos ou você vai descobrir rapidinho o que a mesma rede social que encheu o banco de sangue da cidade vai fazer com você e sua reputação, com esse hospital, com o prefeito... que até onde sei quer se candidatar a governador. Um lembrete: seu paciente tem mais de 30 milhões de seguidores no instagram. Ele se afastou apressado com os demais e quando sumiu de vista eu me curvei apoiando as mãos no joelho.

 Vi que RM e os outros se aproximaram.

PD: — Então essa é ELA.

RM: — Sim presidente essa é a Sra. Nina Silva.

Estiquei a mão para cumprimentá-lo e notei as outras pessoas que me olhavam. O tal PD se curvou e os outros também para me cumprimentar. 

RM: — O que aconteceu ali? Só entendi o final porque o intérprete traduziu.

Expliquei tudo e resumi assim:— Usei todas as fichas da fama de vocês para pressioná-lo, não sei se fiz certo. 

O interprete estava explicando tudo para o advogado e o PD. O advogado se aproximou e disse que não fiz nada errado então olhei pra ele e perguntei: "Mesmo que eu não tenha filmado nada?" eu menti. Ele só respondeu que cuidaria de tudo.

Em 15 minutos o médico apareceu e disse que iria começar a preparar o V pra cirurgia, pedi a ele que deixasse aquele grupo de pessoas falar com ele primeiro e ele não viu problema. Fiquei de longe olhando e dava pra ver a sensação de alivio dele ao ver o PD. Eu sabia que ele precisava de rostos familiares pra se acalmar. Ele me viu e sorriu. Logo depois o diretor apareceu e me devolveu o passaporte sem dar um pio, eu o repassei ao RM.

Em meia hora o V passou por nós na maca a caminho do centro cirúrgico. Sentei pra respirar, RM surgiu do meu lado com café e eu nunca fiquei tão grata por que já caía a noite e como não tomei café da manhã, eu estava faminta. Aquele pouquinho de açúcar foi a salvação. A bateria do meu celular acabou e eu nem podia ligar pro hotel pra saber como estavam as coisas. Aliás, eu vim sem bolsa, só de crachá que nessa confusão não sei como não perdi.

O Tempo da LeoaOnde histórias criam vida. Descubra agora