Capítulo 64

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Sábado era nosso último dia, eu estava um pouco chateada por não ter encontrado nada com significado para presenteá-lo até aquele momento e era nosso último dia. Em Milão quase gastei uma nota comprando uma jaqueta de couro que ele estava olhando, quando cheguei perto perguntei se ele tinha gostado daquela e ele respondeu que tinha uma quase igual. É muito difícil presenteá-lo. O mais próximo de algo significativo que vi foi uma camiseta preta com uma estampa de um pacote de batata frita escrito "Oui". Comprei mas queria algo melhor. Pesquisei na internet dicas de presentes e achei algo interessante: uma marca tradicional de quebra-cabeças cortados a mão, em madeira de álamo, super leves e de alta qualidade. Não ia ter jeito de ir até a loja sozinha então eu só disse que queria ir ver uns quebra-cabeças. Ficamos eu e ele encantados, eu acabei escolhendo um para mim e três para presenteá-lo porque simplesmente não conseguia decidir qual dar a ele. Na verdade foi difícil escolher esses quatro. Eram caros pro meu bolso mas eram uma obra de arte. E também eu estava levando uma vida bem espartana, só gastava com o básico. A maioria dos quebra-cabeças eram cópias de quadros famosos. 

Comprei duas paisagens francesas, uma de Monet e outra de Delacroix, uma anônima de Buda e uma do Jardim do Eden. RM comprou um para a irmã dele. Fomos tomar café em uma cafeteria próxima ao Hotel Deville, depois fomos para uma loja enorme toda voltada a música, ainda vendiam CDs, equipamentos e instrumentos de todos os tipos. RM parecia que tinha encontrado uma loja de brinquedos e rodamos lá dentro por mais de uma hora. Ele saiu com duas sacolas e uma caixa com algo que não sei bem o que é. Tomamos um táxi e levamos tudo para o Hotel. 

Combinamos de jantar cedo, pois nosso vôo era de madrugada praticamente. RM me avisou pra eu me arrumar pois jantaríamos no Les Jules Verne, o restaurante na Torre Eifell. Ele tinha feito reservas e a mesa que pegamos tinha o visual mais incrível da cidade. Fechamos essa nossa noite e nossa viagem dessa forma com comida e vinho totalmente franceses, em um lugar super romântico. Eu estava transbordando de felicidade com ele ali do meu lado. Todo amor que eu sempre sonhei encontrar eu encontrei com ele e isso me fazia esquecer qualquer dificuldade ou dissabor que a vida já tivesse me apresentado.

Embarcamos no mesmo voo, mas como a companhia aérea era coreana a chance de ele ser recohecido aumentava então nos afastamos no momento em que chegamos ao aeroporto, fingindo que não nos conhecíamos. Essa era a parte triste. A gente só mandava mensagem um para o outro. Quando desembarcamos em Seul, ele me disse que sairia primeiro já que tinha combinado com o motorista da empresa e o segurança para que não me vissem. Fiquei enrolando um pouco pra pegar a bagagem e fui de taxi pra casa. A semana de trabalho ia começar e eu estava ali indo me deitar já cheia de saudade do meu amor, e naquele momento ele me ligou.

RM: — Só liguei pra desejar boa noite, e dizer que já estou com saudade. Na verdade já estava com saudade no vôo.

Eu: — Eu também estou. Te amo Nam, durma bem.

RM: — Te amo.

Voltamos a nossa realidade em Seul. A semana que passamos foi mágica. Eu me sentia tão amada, segura, feliz, realizada, em paz. Eu sonhava acordada com cada momento que tínhamos vivido lá. Como era gostoso, a simplicidade de se passear livremente de mãos dadas, nós dois de bermuda, boné e tênis, sorrindo na rua. Só fiquei triste porque naquela paixão toda eu esqueci de comprar algo pra dar ao Jimim. RM disse pra eu não me preocupar, disse que se eu fizesse brigadeiros ele ficaria feliz, e então eu fiz. Mas depois eu saí pra procurar algo e mais uma vez comprei brincos de presente.

Eu sempre gostei de observar RM. Quando acordava um pouco antes dele e o observava dormindo, logo antes de se espreguiçar e me dar bom dia. Quando estava trabalhando concentrado fosse sozinho ou com outra pessoa. Quando falava de algo com conhecimento do assunto e como se posicionava a respeito de algo polêmico. Quando estava tentando fazer algo desafiador para ele mesmo como cortar legumes, ou quando sem prestar atenção mexia em algo sem cuidado e acabava quebrando, as caras e bocas que fazia fosse de susto, frustração, surpresa, ou tristeza mesmo. Perdi as contas de quantas vezes ele me trouxe algo que quebrou esperando que eu conseguisse consertar. Ele dizia: "só você pra me ajudar", ou "ahhh vou precisar do seu jeitinho mágico pra tentar consertar isso". E lá ia eu olhar o estrago e pegar cola, tesoura, tinta, lixa e o que mais fosse necessário.

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