Capítulo 59

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Em um sábado RM tinha uma destas sessões de foto e ele disse que o Jin estaria na casa fazendo Kimchi e que tinha perguntado se eu não queria ir aprender, e ajudar, claro. Eu topei na hora. Fui pra lá cedo e tomei café com RM e ele. J-Hope e Yoongi estavam dormindo, os outros não estavam. Eram quase 10 da manhã quando RM saiu e eu e Jin começamos o nosso trabalho. A quantidade de coisas era enorme. Parecia que ele ia fazer kimchi pra empresa inteira por um ano. Ele ia me mostrando cada ingrediente, como eu devia picá-los, os temperos, e contava pra mim de como gostava de comer aquilo. Minhas costas já doíam e meus dedos estavam engelhados, Já era uma hora da tarde e não tínhamos acabado. Paramos pra comer com Yoongi e J-Hope que tinham ficado responsáveis pelo almoço. Voltamos a trabalhar no kimchi e quando eu estava quase acabando de picar os últimos vegetais meu celular começou a apitar com mensagem. Toquei na tela e sorri ao ver que era mensagem de Gilberto, meu amigo do Brasil.

Eu: — Ah! Mensagem de uma grande amigo do Brasil.

Jin: — Pode ler, eu termino de picar esse pouquinho que falta.

Lavei as mãos e desbloqueei a tela abrindo as mensagens ainda ali na cozinha. E ele começava "Oi amiga, quanto tempo hein? Infelizmente as notícias não são boas, a mãe da Marina faleceu ontem repentinamente. Morreu dormindo e em paz. Marina não tinha condições de te ligar e pediu que eu te avisasse. O enterro foi esta manhã.".

Jin: — Noona, o que houve? Suga, J-Hope, venham aqui — ele chamou alto.

Parecia que eu tinha levado um soco no estômago. Todo carinho de mãe que eu conhecia nesse mundo vinha dela e ela não estava mais lá. Eu não conseguia respirar, estendi a mão pro Jin que estava assustado e tentei me segurar nele, mas não consegui, ficou tudo preto. Voltei a mim com um cheiro forte de vinagre no meu nariz, Jin me olhando de perto e J-Hope esfregando meus punhos. Ali no chão da cozinha. O motivo daquilo voltou a minha mente e o choro engasgado tomou conta de mim. Eles me perguntavam o que tinha acontecido e eu não conseguia responder por mais que eu quisesse. Eles me ajudaram a ir até o sofá e eu os escutava falando. Jin contando que recebi mensagens e depois aconteceu aquilo. J-Hope pegou meu telefone, usou minha digital pra desbloquear e começou a tentar ler. Só muito depois fiquei sabendo que usando o google eles conseguiram entender que alguém tinha morrido. Yoongi decidiu avisar RM. Ele ainda demoraria mais uma hora lá na sessão de fotos e duas pra chegar em casa.

Yoongi: — Nina, olha pra mim. Você precisa que a gente compre uma passagem pra você ir pro Brasil? — eles tentavam me consolar.

Eu não queria preocupá-los, mas não conseguia dizer que eu estava bem, eu estava sofrendo e não havia nada que eles ou eu mesma pudéssemos fazer. Fiquei ali no sofá encolhida com os braços apertando o estomago e deixando as lágrimas escorrerem. Bem mais tarde RM chegou com cara de apressado. Só me abraçou e deixou que eu chorasse. Ele só dizia, sinto muito amor.

Eu: — Minha mãezinha do coração se foi. — foi tudo que consegui dizer e ele também chorou, só que por mim, quando descobriu quem tinha morrido.

Já era noite quando consegui levantar do sofá. RM estava ali comigo.

RM: — Precisa de alguma coisa, amor?

Eu: — Não, só vou ao banheiro, já volto.

Fui ao banheio lavar o rosto e fui procurar um por um pra me desculpar. Achei J-Hope e Suga no estudio.

Eu: — Meninos, obrigada e desculpa ter assustado você.

J-Hope: — Noona, por favor, não diga isso. Sinto muito Noona. RM falou como era uma pessoa importante pra você.

Eu: — Era sim.

Yoongi: — Sinto muito. Você está melhor? Precisa de alguma coisa?

Eu: — Estou, obrigada. Não.

Voltei pra sala e Jin estava lá.

Eu: — Jin, desculpa ter te preocupado.

Jin: — Ohhh Noona, sinto muito sua perda. Não se desculpe por nada. — e me deu um abraço.

Eu me sentei do lado de RM de novo e ele me abraçou.

Eu: — Acho que é melhor eu ir pra casa.

RM: — Fica aqui com a gente hoje. Você não está em condições de ficar sozinha.

Eu: — Se eu ficar aqui vou deixar todo mundo em um clima ruim.

RM: — Nina, nessas horas não tem dessas coisas. Todo mundo aqui, inclusive eu, ligou pra própria mãe hoje. A notícia que você recebeu foi muito triste e não tem ninguém aqui que não entenda como você está sentindo. Fica por favor, se você for eu vou querer ir com você e eu preciso trabalhar com o Jin amanhã.

Eu: — Eu entendo. Eu preciso ligar pra Marina. Me ajuda? O que eu digo pra minha amiga? — voltei a chorar — hein? O que eu digo?

RM: — Ah Nina, fale a verdade, o que sente. Diga que você amava a mãe dela como se fosse sua. Que sente muito, que está muito triste, que gostaria de estar lá com ela nesse momento. Pode ligar eu vou ficar aqui do seu lado.

Pessoa alguma quer fazer uma ligação dessas, mas é necessário. Foi difícil fazer alguma palavra sair da minha boca, mas consegui. Marina estava, claro, arrasada. Sua mãe sempre foi amorosa e apoiadora. Faria muita falta a ela. Por conta da emoção nossa conversa foi breve, fiquei de ligar outro dia.

Namjoon me levou pro quarto dele e me deixou tomar banho. Disse que ia pegar algo pra eu comer. Enquanto esquentava algo pegou o telefone.

RM: — V, onde você está?

V: — Oi, na casa dos meus pais, por que?

RM: — Preciso da sua ajuda, pode voltar pra cá? É a Nina.

Quando levantei bem cedo todos ainda dormiam. Como o tempo estava bom fui lá pra fora ainda de pijama e me sentei desanimada. Um tempo depois vejo uma bolinha de pelos correndo na minha direção: Yeontan! Peguei-o no colo e ganhei muitas lambidas e em seguida vejo Tete se aproximando.

V: — Noona, sinto muito. — me apertou num abraço e depois passou a mão no rosto igualzinho eu faço com ele. — Vai ficar tudo bem.

E foi ali no meio dos meninos que eu consegui começar a me recuperar do primeiro grande luto da minha vida. O trabalho ficando mais intenso, devido aos shows que se aproximavam, ajudou um pouco a manter a tristeza longe da minha mente. Demorei alguns dias para poder me resignar. Aos poucos fui me recompondo, como acho que acontece com a maioria. E apesar de tudo ser como é na minha família pensei em meus pais, na idade que estão e na possibilidade de eles virem a falecer.

RM ia trabalhar no sábado à tarde, mas fomos na sexta à noite para a casa dele. Ele queria me distrair, eu sabia, escolheu uma animação pra gente assistir. Antes de começar ele perguntou:

RM: — O que foi? Parece que tem algo pra falar — ele falava enquanto massageava as minhas pernas que estavam no colo dele.

Eu: — Eu pensei nos meus pais esses dias. Com o que aconteceu fiquei pensando que eles estão velhos e o mesmo pode acontecer a eles.

RM: — Verdade, pode acontecer com qualquer um.

Eu: — Eu sempre achei que em algum momento a gente ia sentar, conversar e esclarecer o porque eles nunca me quiseram. Mas fiquei adulta e nunca aconteceu e agora comigo aqui, duvido que aconteça.

RM: — Quem sabe? Há rumores de shows no Brasil ano que vem, quem sabe você não consegue ir vê-los e deixar esse assunto resolvido?

Eu: — É, pode ser.

O Tempo da LeoaOnde histórias criam vida. Descubra agora