Não vou mentir dizendo que tudo ficou perfeito depois disso. Íamos embora no dia seguinte e a casa ficou um pouco tensa nesse período. Era óbvio que mamãe forçava o sorriso, uma mulher tão religiosa como aquela não iria engolir tão fácil que seu filho fosse gay. Eu não sou, mas acho que tentar explicar isso para ela não vai mudar muita coisa.
Ela tentou ignorar os olhos de Jungkook pelas horas seguintes. Sempre ficava na cozinha ou no quarto e já que Jungkook estava adorando cuidar de Jihyun, ela o deixou com a gente. Tenho certeza de que ficou incomodada por deixar seu filho menor entre dois gays, mas não esboçou nenhuma reação. Sei que parece que eu estou descrevendo minha mãe como monstro, mas estou apenas imaginando o que ela está pensando. E eu não a culpo. Sei de pessoas que até morreram nas mãos dos próprios pais por não serem héteros e o fato dela estar se esforçando significa muito para mim. Não é uma aceitação de imediato, mas ela não me odeia. Ainda sorri para mim, ainda fala comigo e olha para meu rosto, e é o suficiente para mim por enquanto. Sei que um dia ela vai me aceitar e vai amar Jungkook.
Se Jungkook notou que minha mãe estava estranha, não comentou nada. Gosto disso, e isso me faz gostar ainda mais dele. Sei que isso é meio básico, mas gosto da ideia de ele se preocupar muito com os meus sentimentos, de cuidar de mim sem me abraçar, apenas ficando em silêncio em alguma situação. Isso prova que ele me conhece.
Quando o dia estava virando noite, eu, Jungkook, vovó e Jihyun estávamos terminando um filme de animação enquanto mamãe estava no quarto. Chamei ela para assistir, mas ela recusou gentilmente. Quando o filme acabou, vovó se levantou e foi para o banheiro. Jihyun dormia profundamente há tempos no colo de Jungkook, e ele olhava admirado para meu irmão.
— Não sabia que gostava de crianças. — Digo, não conseguindo evitar de ficar admirado pelos seus olhos brilhando. Lindos olhos.
— Nem eu. — Ele diz, sorrindo igual a um tolo.
— Coloca ele no quarto.
— Não, eu quero ficar com ele. — Jungkook protesta, fazendo biquinho.
— Não prefere ficar comigo?
— Seu irmão é mais legal.
Abro a boca em choque e coloco minha mão no peito, fingindo estar profundamente ofendido.
— Vamos lá, quero sair com você. Busan é muito grande para não ser aproveitada.
Ele olha para mim com um sorriso sugestivo.
— Está bem.
Jungkook se levanta devagar para não acordar Jihyun e percebo que, apesar de ele ter adorado meu irmão, o fato de nunca ter cuidado de uma criança antes ainda é evidente, já que ele segura Jihyun de um jeito complicado.
Dou uma leve risada e vou para a porta da minha mãe, onde bato de leve e abro delicadamente logo em seguida. Fiquei com medo de acordá-la, mas ela ainda não havia dormido. O quarto estava completamente escuro exceto por um pequeno abajur em sua cabeceira. Ela lia um livro com seus óculos de leitura. Lembro-me que adorava eles quando criança. A armação é um rosa claro com flores brancas bem pequenas, e ele tem uma cordinha para segurar no pescoço. Acho que quebrei esse óculos umas duas vezes na infância, mas mamãe gostava tanto deles que sempre consertava.
Ela abaixa o livro para me olhar e espera que eu fale algo.
— Só vim avisar, mãe, que eu e Jungkook vamos sair.
Os segundos que ela demora para responder são estranhamente desconfortáveis.
— Tudo bem. Tome cuidado, por favor.
Eu sei o que ela quer dizer, então olho sério para o fundo dos seus olhos — mesmo que eu não consiga vê-los pela distância e ausência de luz — e confirmo com a cabeça.
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Dance with me • pjm + jjk
FanfictionPark Jimin acaba de fazer 18 anos e resolve abandonar sua cidade natal, Busan, para seguir seu maior sonho: ser um grande dançarino. Ele se muda para Seul e se vê perdido na cidade, já que nunca sequer visitou o lugar. Jimin acaba dividindo um peque...