Capítulo 20

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Resolvi ir na aula naquele domingo. Desmontei o porta-retrato que Dahyun havia me dado e guardei a carta atrás da foto, colocando a moldura logo em seguida. Tudo de mais importante e significativo para mim agora estava na minha mesinha: o porta-retrato com a foto minha, de Dahyun e Namjoon juntos e atrás a carta do meu falecido pai. Ao lado, o Shoda, símbolo da minha amizade com Namjoon. Tudo o que me lembrava de quem eu era e de quem eu nunca deveria deixar de ser, o Jimin de Busan.

Quando saí do quarto, Taehyung ficou muito animado por me ver indo à aula, o que me deixou desconfortável. Ele pensava que eu me tornaria um depressivo que não conseguiria ao menos sair da cama? Talvez estivesse certo. Se não fosse pela carta e por todo o apoio que eu tive, eu estaria no buraco agora. No momento, me sinto sortudo por ter pessoas que me amam ao meu lado, mesmo que meu pai não esteja mais aqui.

Quando pisei o pé no prédio, avistei Minhee que sorria radiante enquanto conversava com uma mulher. Ainda bem que não desisti, senão teria perdido isso. Teria perdido os amigos que fiz aqui, os sorrisos, os momentos, e... o meu sonho. Já perdi meu pai, não quero perder a minha vida também. Adentrei totalmente a recepção e Minhee sorriu mais ao me ver.

— Jimin! É tão bom te ver. Você fez falta essa semana.

— Mesmo?

— Mesmo. Eu soube o que aconteceu. — Seu sorriso se desfez. — Meus pêsames.

— Obrigado.

— Como está se sentindo?

— Foi muito difícil no começo, — Respondo. — com turbilhões de emoções me assombrando. Mas agora me sinto melhor. Na verdade, melhor não. Ainda estou bem mal, mas talvez com a mente mais coerente. Consigo entender que preciso procurar um meio de superar a dor.

— Eu fico muito feliz sabendo disso. Eu realmente senti sua falta. É bom ter um rosto amigável por aqui de vez em quando.

Dou uma risada suave e acabo encarando Minhee por tempo demais. Ela também me encara e quando sinto minha bochechas queimarem desvio o olhar.

— Melhor eu me apressar para a aula. — Digo, limpando a garganta. — Tenho que pegar o que perdi nos dias que faltei.

— Claro, sim, vai lá. Tenha uma boa aula, Jimin.

Me despeço com um sorriso e subo as escadas sentindo que meus passos estão um pouco desajeitados. Eu sei o que está acontecendo, não sou mais nenhuma criança, mas simplesmente não há espaço na minha vida para nada amoroso, principalmente agora. Eu preciso organizar minha mente antes de tudo, aprender a viver no mundo sem o meu pai. Sou muito agradecido por nunca mais ter ouvido falar de Yoongi. Não que eu não queira vê-lo, só não estou no momento para isso, para lidar com isso. Uma coisa de cada vez.

Minha nova sala era no terceiro andar também, mas algumas portas mais distantes. Adentrei pela porta aberta e quase todos os olhares se voltaram para mim. Tinha me esquecido por um momento que era uma turma nova, não conhecia ninguém ali. Na verdade, conhecia. Jeon Jungkook estava se alongando na parede e parou quando me viu. Seu olhar carregava muitas emoções ao mesmo tempo, suavidade, raiva, incredulidade e, é claro, cinismo. Ele cruzou os braços e abriu um de seus famosos sorrisos, mas eu ignorei. Ignorei verdadeiramente, sem sentir aquilo me afetar em nada. Minha expressão de apatia o deixou surpreso, mas ele não se deixou abalar por isso. Acontece que tenho problemas maiores que Jeon Jungkook. Ele não é nada comparado ao que aconteceu.

Fui para um canto oposto da sala e comecei a me alongar também, sem olhar para ninguém. Por estar numa turma de nível mais avançado, deduzi — pela expressão que fizeram quando cheguei — que todos eram mais ou menos como Jungkook: metidos. Eu não precisava de mais um dele na minha vida, então melhor que eu fique quieto no meu canto.

Dance with me • pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora