Capítulo 17

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Eu devia tê-la obedecido. Minha mãe sempre soube o que era melhor para mim e nunca errou em nada que fez, então eu devia tê-la escutado quando disse para me sentar, era para o meu próprio bem. Mas, não, a minha teimosia recém adquirida não me deixou obedecê-la. Eu pensei que seria capaz de aguentar qualquer coisa, mas não aguentei. Caí. Meu joelho bateu no chão com força, fazendo um barulho alto ressoar pela madeira. O telefone ainda estava na minha mão, ligado, e eu pude ouvir baixinho os suplícios da minha mãe chamando meu nome.

— Estou aqui, mãe. — Respondi, a voz tremendo. Queria não ter respondido, ter sentido a dor do luto e do joelho sozinho e em silêncio, mas não podia deixar minha mãe sozinha. Ela tinha que ouvir que eu estava ali, que eu não a deixaria, não naquele momento. — Eu... eh... quando vai ser o... — As palavras doeram em meio peito. — enterro?

— Amanhã.

— Vou fazer minha mala e estarei aí até de noite. — Aviso, forçando minha voz para não vacilar.

— Querido...

Sei o que ela vai dizer — ou que tenta —: que não precisa se incomodar. Mas isso não é sobre ajudar com as dezenas de sacolas de compras, e sim sobre a morte do meu pai. Por isso, ela não completa a frase.

— Eu não quero deixar vocês sozinhos. E eu também não quero estar.

— Vou preparar tudo para você aqui. — Ela diz, talvez tentando esboçar um sorriso que eu não consigo ver pela ligação. Minha mãe sempre tentou se manter forte em tudo, mas sei quando está sofrendo.

— Eu te amo, mãe.

É a última coisa que eu digo antes de desligar. Ela devolve a frase para mim, falando com um pesar que parte meu coração, e eu levo alguns segundos para desligar de fato a ligação, apreciando o silêncio daquelas palavras de amor num momento lutuoso. É sempre nos piores momentos que os sentimentos se afloram.

Corro para minha cama e pego uma mala qualquer embaixo da mesma. Com a mesma pressa, abro todas as gavetas e saio tirando roupas aleatórias, jogando-as dentro da mala sem me importar em dobrá-las. Não sei quanto coloco, mas é o suficiente para ela estar abarrotada. Vou em direção ao banheiro e pego rapidamente minha pequena caixa de plástico com todos os produtos de higiene. Escova de dentes, pasta, fio dental, tudo que eu poderia escontrar na minha antiga casa, a casa que meu pai nunca mais irá pisar.

A imagem momentânea tortura minha mente e eu a afasto sem demora. Não preciso disso agora. Quero ir logo para casa e abraçar minha família, a família que me resta. Podia ter perguntado os detalhes sobre a morte dele à minha mãe, mas não queria ouvir isso pelo telefone, e ela também não parecia querer falar, porque nem comentou nada sobre. Não, prefiro ouvir isso pessoalmente, sentir a dor da sua voz ao vivo falando sobre como ele morreu para que eu sofra devidamente. Mereço sofrer pelo meu pai, por tudo que ele fez por mim. Ele merece que eu sofra, que eu chore sua morte, que muitos sorriam ao se lembrar do grande homem que era. Ele merece uma despedida digna.

Quando saio do quarto arrastando minha mala sem cuidado pelo chão, faço um barulho que faz Taehyung acordar num sobressalto. Ele demora alguns segundos para se acostumar com a claridade e olha para mim com uma feição confusa.

— O que está fazendo com essas malas? Aonde você vai?

— Vou voltar para Busan.

— O quê?! — Ele levantou do sofá. — Como assim? Você vai viajar assim do nada?

— Meu pai morreu. — Aquelas palavras serviram para fazer Taehyung calar e abaixar os ombros. Vi um pesar dominar seus olhos e sua boca se curvar para baixo.

Dance with me • pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora