Capítulo 2

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Meu pai mal falou direito comigo nos dias que se seguiram. Nos primeiro dias ele não falou nada, e eu também não fiz questão de puxar algum assunto. Depois, ele começou a falar vez ou outra comigo, mas nunca mais do que três palavras. Eu sinceramente não me importei, se ele queria me dar um gelo porque estava bravo, eu iria fazer o mesmo.

Eu evitei a mesa de café da manhã e jantar por algum tempo, mas depois meu pai me obrigou a me sentar junto com eles. O almoço era o único momento que eu podia fugir, porque eu almoçava na escola. Era uma tortura o silêncio que pairava sobre o ar enquanto comiamos. Tecnicamente, conversar na mesa não é uma coisa legal mesmo, mas aquele silêncio era pesado e desconfortável. Vovó, como sempre, ignorava aquele climão e brincava alegremente com Jihyun na mesa enquanto dava papinha para ele. Já minha mãe, alternava o olhar de meu pai para mim vez ou outra. Nós estávamos jantando quando ela me perguntou:

— Como foi a aula hoje, Chim?

A olhei no momento que estava colocando o macarrão na boca. Por mais que minha mãe fosse muito atenciosa comigo, ela não me perguntava como tinha sido meu dia na escola há anos, afinal, não tem muita coisa para dizer. Ela tinha uma expressão um pouco tensa no rosto, e foi aí que eu percebi que ela estava tentando tirar o elefante pesado da mesa.

— Hã... — Pensei um pouco. — Foi normal. Os professores estão finalizando as matérias do ano e logo teremos as últimas provas.

— Depois disso vai se formar. — Ela disse, animada. — Você vai na formatura?

Coloquei uma grande quantidade de comida na boca para ter mais tempo para pensar naquela pergunta. Eu sinceramente não queria ir, já que não era obrigado. Eu iria receber meu diploma de qualquer forma e nem fazia tanta questão assim da festa. Mas eu olhei para os olhos animadinhos da minha mãe e senti meu coração apertar. Ela nunca teve formatura, porque teve que abandonar a escola para cuidar dos vários irmãos. Acho que seria um sonho para ela ver o filho fazendo algo que ela não pôde fazer.

— Vou sim, mãe. — Respondi.

Ela bateu as mãos em frente ao rosto e sorriu alegremente.

— Maravilha! — Exclamou animada. — Quando vai ser? Precisa comprar sua beca e um terno.

— Não temos dinheiro para ficar comprando terno novo, Hyemi. — Meu pai disse, olhando para o próprio prato. — Ele pode usar meu terno.

— Aquela coisa velha e toda remendada? Claro que não! É um grande momento para ele, Taeho, precisa ser marcante.

— Vai ser bem marcante para nós quando faltar dinheiro no orçamento.

— Deixa o terno pra lá, mãe. — Eu disse, forçando um sorriso para ela. — Tenho uma roupa social que ainda está boa, só se preocupe com a beca.

— Nada disso, Chim. Filho meu vai ir bem vestido para a formatura, igual aos outros meninos. Amanhã mesmo vou procurar um terno para você. Tenho um dinheirinho a mais guardado, então não se preocupe.

Eu queria dizer à ela que não precisava e que eu poderia ir com qualquer roupa ou que nem fazia questão de ir tão arrumado, mas aquele sorriso alegre em seu rosto, destacando suas bochechas gordinhas e apertando os dois olhos até formar dois riscos não tinha preço. Minha mãe era uma pessoa alegre, mas cheia de preocupações. Eu percebi o quanto que ela envelheceu nos últimos anos, se preocupando com a confeitaria, as contas, os filhos, a casa e outras coisas. Minha mãe nem era tão velha assim, mas as tenções da vida a deixaram cheia de rugas.

Meu pai agiu como têm agido com qualquer coisa em relação à mim nos últimos dias: apenas bufou e voltou a ficar em silêncio. Me perguntei por um segundo se ele iria na minha formatura.

Dance with me • pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora