37 | ℓιττℓє αиgєℓ

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sᴏғʏᴀ ᴘʟᴏᴛɴɪᴋᴏᴠᴀ

ᴛᴡᴇʟᴠᴇ ᴅᴀʏs ᴀғᴛᴇʀ, ᴛᴜᴇsᴅᴀʏ, 02:21ᴘᴍ.

— Podem se espalhar pela sala e treinarem mais uma vez — falei para minhas alunas, que logo o fizeram.

Aproveitei e sentei na cadeira que acompanhava a mesa quase que grudada no espelho, colocando a mão na minha barriga, sentindo uma forte dor no abdômen.

Eu nem fiz esforço hoje, pensei.

Vez ou outra, sentia uma forte pontada, mas nada que não pudesse suportar. Porém, meu rosto não deixava passar em branco, e fiz uma careta de dor involuntariamente.

Careta na qual não passou despercebida por Olivia, uma das minhas alunas mais esforçadas.

— Sofya, está tudo bem? — perguntou a garota, transmitindo certa preocupação nos olhos azuis.

Eu pedia para que chamassem-me pelo nome ou apelido, já que não gostava de formalidades e acreditava que o relacionamento entre professora e alunas, não deveria ser algo tão formal.

— Sim, só estou com uma dorzinha chata, nada demais — respondi, tentando tranquilizá-la. Mesmo contrariada, voltou a sua posição.

Tentei ignorar a dor e auxiliar as meninas com os passos, mas as fincadas em meu abdômen tiraram meu foco.

Esperei a aula acabar para ir até a sala dos professores, comemorando mentalmente ao notá-la vazia.

Disquei o número de Joalin e liguei para ela.

— Oi, Sofy. O que aconteceu? — perguntou ela. No fundo, uns ruídos, pois ela estava de plantão ainda.

— Eu estou sentindo muita dor no abdômen e na lombar, isso é normal? — questionei. Escutei-a arfar do outro lado da linha, logo ficando em estado de alerta.

— Houve algum outro sintoma que você estranhou, além desses dois? — Indagou.

— Sim, um sangramento, até achei que fosse normal — falei.

— Sofya, alguém aí consegue levar você para casa imediatamente? — sua voz estava nervosa.

— Sim, a aula do Alex acabou agora. — Contei.

— Ótimo, então peça para ele levar você para casa e fique de repouso, só saia da cama para ir ao banheiro! — solicitou.

— Joalin, você está me assustando! O que eu tenho? O bebê está bem? — interroguei de uma vez só, e ela suspirou, causando-me mais nervosismo.

— Eu não sei como contar isso pra você, ainda mais por telefone, mas Sofy... Você teve um aborto espontâneo.

Levei instantes para digerir aquela frase e aquele tom de lamentação, logo, quando associei tudo que Joalin contou, lágrimas brotaram nos meus olhos.

Meu bebê, um pedacinho meu, agora era um anjinho.

— O que eu faço agora, Joalin? — questionei. Referia-me tanto ao emocional, quanto a situação atual. Não poderia ficar no estúdio, enquanto o feto dentro do meu útero morria.

— Eu vou levar você para casa. — Alegou, do outro lado da linha — Explico tudo para o Alex depois, não se preocupe com essa parte. Mantenha a calma e fique onde está, já estou saindo do hospital! — Ordenou de forma calma, e pude ouvir o barulho dos seus saltos batendo contra o chão, além do som do vento na rua.

Vi meu marido passando e senti a garganta fechar. Não fazia a mínima ideia de como contaria á ele o que havia acabado de saber.

Ele entrou na sala, e ao me ver com lágrimas nos olhos, ajoelhou-se na minha frente, preocupado.

— O que houve, pequena? — questionou, segurando minhas mãos.

— Alex, eu... — busquei palavras — Perdi nosso bebê.

Toda o ambiente pareceu sumir ao redor, e só conseguia vê-lo com sua expressão assustada.

Ele abriu a boca e fechou algumas vezes, sem saber ao certo o que dizer para mim. Estava tão pasmo quanto eu, que sequer havia digerido a notícia.

A sua primeira reação fora abraçar-me, acariciando minhas costas calmamente. Não me privei de chorar, o fazendo com o rosto encostado no ombro de Alex.

Não entendia ao certo o que estava doendo — fisicamente e emocionalmente falando —, e só sentia vontade de colocar para fora tudo que sentia naquele momento.

— E-Eu estava...

— Shhh... — Sussurrou no meu ouvido — Não precisa explicar nada agora, pequena, 'tá tudo bem.

Alex desvencilhou-se de mim, e beijou minha testa de forma demorada, sentando na cadeira ao meu lado em seguida.

Ele puxou meu corpo para perto do seu, de maneira que eu fiquei encostada em seu peito, enquanto ele mexia no meu cabelo.

Estávamos quietos, e permanecemos daquela maneira até escutarmos os passos apressados de Joalin com seus saltos, e ela aparecer no nosso campo de visão, com uma expressão que transmitia empatia.

— Eu sinto muito. — Disse. — Esse é o tipo de explicação que eu odeio ter que dar, mas é necessário, para que entendam e que não aconteça novamente.

E então, a loira explicou tudo com a maior cautela. Não quis prestar atenção, e nem consegui, não queria ter que escutar tudo novamente.

Minha cabeça já estava bagunçada o suficiente.

— Bom, é isso. — Suspirou. — Daqui a três meses, podem tentar de novo. Qualquer dúvida, falem comigo. — Sorriu compreensiva, e assentimos.

— Jo — a chamei e ela encarou-me — Se puder não comentar com a Sabina e nem com a Sina, vai ser melhor. Enzo e Elisa nascerão em breve, não queremos preocupá-las á essa altura.

— Claro, pode deixar. — Garantiu. — Tenho que voltar. Fiquem bem!

Joalin saiu do cômodo com um pouco de pressa, equilibrando-se nos saltos brancos que utilizava.

— Vamos para casa. Ela disse que você precisa de repouso, por enquanto — Alex disse, me ajudando a levantar.

Caminhamos até a saída do estúdio, onde meu marido avisou a diretora que teríamos que ficar afastados por questões de saúde, mas sem explicar o ocorrido. Apenas o fato de eu estar abatida, já era motivo suficiente para não prosseguir com as aulas daquele dia.

Nem havia notado quando cheguei em casa.

Tomei um banho rápido, amarrei o cabelo em um coque frouxo e vesti uma das camisetas de Alex, indo me deitar.

Por mais que o período da tarde tivesse iniciado há pouco, para mim, o dia poderia acabar por aquele horário.

Tentei dormir um pouco, por conta do cansaço.

Pela força do hábito e impulso, minhas mãos foram em direção á minha barriga, e as recolhi de lá, assim que tomei consciência de que não havia nenhuma vida ali.

[...]

não tenho muito a comentar.
demorei três semanas para concluir esse capítulo, pq quis fazer algo profundo, pois para quem acompanha minhas histórias, sabe que a combinação de temas/situações difíceis e superficialidade não são minha praia.
o próximo é bem mais de boa, bem soft ;)
besos, besos

— Isa <3

𝐁𝐄𝐒𝐓 𝐅𝐑𝐈𝐄𝐍𝐃 • ꜱᴏꜰʟᴇxOnde histórias criam vida. Descubra agora