40 | єριℓοgυє

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ʟɪ́ᴠʏᴀ ᴍᴀɴᴅᴏɴ ᴘʟᴏᴛɴɪᴋᴏᴠᴀ

19 ʏᴇᴀʀs ᴀғᴛᴇʀ.

Desde pequena, meus pais contavam histórias sobre sua infância e adolescência, de como se apaixonaram e de como o amor que ambos sentiam um pelo outro, superou diversos obstáculos.

Entre eles, uma traição, o término do breve relacionamento relâmpago que tiveram antes da faculdade, o Vinte e Seis de Setembro, a morte dos meus avós maternos, o período em que ficaram afastados um do outro, após meu pai quebrar uma regra da amizade deles, e por último, o aborto espontâneo da minha mãe.

Eu os admiro muito, admiro o relacionamento deles, a inteligência emocional de ter um ao outro como apoio em circunstâncias difíceis e o amor que, mesmo depois de vinte anos de casamento, ainda é presente e intenso.

Raramente os vejo brigar, e isso se deve pelo fato de que conhecem o melhor, o pior e o meio termo do outro e se amam mesmo assim.

— Os olhos. — Meu pai diz, enquanto observamos minha mãe ler algum livro, e rir de uma possível parte engraçada. O fito, aguardando resposta. — Os olhos sempre a entregam, não importa o que ela diga.

— E eles fazem parte do que você mais ama nela. — Adivinho, e ele assente.

— Aquelas bolotinhas verdes entregaram o real sentimento dela por mim, logo, devem fazer parte da minha lista. — Pisca para mim — E graças á Deus, você puxou os mesmos olhos verdes e olhar sincero.

— Você deve ter orado tanto pra isso acontecer, que Deus resolveu atender seu pedido. — Brinco, o empurrando de leve com o ombro. — Pai, sabe de uma coisa?

— O que, Livs? — pergunta.

— Eu gosto de ser filha de vocês.

Ele sorri, se inclina e beija minha testa.

— E nós amamos te ter como filha, mesmo que seja um pé no saco. — Fala, com o sorriso brincalhão de sempre.

— Claramente, puxei isso de você. — Rebato, dando de ombros.

— A parte ruim dos filhos é sempre culpa dos pais, impressionante — comenta.

— Contra fatos, não há argumentos, cariño. — Minha mãe larga o livro no braço do sofá e sorri. — Mas a Liv puxou seu drama e sua chatice.

— Festival de difamação contra a minha pessoa — digo.

— O drama foi puxado do seu lado, pequena — meu pai se apressa em dizer, beijando a bochecha da minha mãe.

— Mãe, quando você terminar de ler o livro da tia Sina, você pode me emprestar? — pergunto.

— Claro, já estou quase terminando — diz. — Até o momento, a adaptação está fiel ao original, ela só alterou algumas coisas do Vinte e Seis de Setembro.

— Convenhamos, aquele dia não é uma lembrança que podemos sair contando para várias pessoas — Meu pai se pronunciou, segurando o riso. — Ainda mais que esse livro virou um Best Seller.

— Eu quero ler logo, pra ver se ela me colocou no livro. Em qual parte você está? — indago.

— A parte onde eu terminei o meu terceiro namoro daquele ano. — Respondeu.

— O dia que eu simplesmente fui agredido por sentar no sofá do apê antigo da sua mãe — completou, me fazendo rir.

— Você estava com a roupa molhada de chuva — Argumentou.

— Gente, isso faz tipo, uns vinte e tantos anos, como vocês ainda lembram?

— Temos uma boa memória, e parece que a sua tia queria reviver tudo nos mínimos detalhes, logo, despertou algumas lembranças. — Minha mãe abraçou meu pai. — Quero ver como ela detalhou o dia da nossa avaliação da UCLA.

— O livro inteiro é sobre a gente, isso é doido. — Meu pai comentou.

— Eu é que sei! Tenho evitado entrar no Twitter pra não receber spoilers além da conta — falei. — Mesmo assim, é hilário ver o pessoal comentando sobre cada parte do livro.

— A Any mandou alguns prints dos tweets que fizeram, e eu me mato de rir com a maioria — minha mãe disse, se desvencilhando do meu pai. — Como “Best Friend” ganhou tanta visibilidade, com meses de lançamento?

— Mãe, a tia Sina é esposa de famoso, e o tio Noah, do jeito que é cachorrinho dela, vai fazer marketing com o livro. Ainda que, as músicas mais famosas dele são baseadas nos seus términos. — Expliquei. — O povo só juntou as peças.

— Na minha época as coisas já eram rápidas, agora, parece que ficaram mais rápidas ainda!

— Pai, para de falar como se você fosse um velho caquético! Você só tem quarenta e dois anos — aleguei, e ele me mostrou a língua. — Mas a mentalidade é de seis.

— Ás vezes, vocês conseguem ser idênticos — minha mãe sorriu. — Graças á Deus que você tem algum traço do meu rosto, porque eu não aceitaria te carregar por nove meses, pra você ser cem por cento a cara do seu pai — justificou.

— A minha única exigência, era que ela tivesse os seus olhos — ele virou-se para ela — Sabe, porque eles estão na lista de coisas que eu mais amo em você!

Ela lhe deixou um selinho nos lábios.

— Eu te amo. — Falou ela, sorrindo boba com as pupilas dilatadas.

E ali, naquele momento, eu havia compreendido o porquê do meu pai querer que eu tivesse os mesmos olhos que os dela. Era para que ele pudesse enxergar genuinamente que, eu era a forma física do amor que eles sentiam um pelo outro.

Se conhecem desde crianças, cresceram e amadureceram juntos, e por fim, casaram um com o outro.

— Vou fingir que não estou vendo essa melação toda — brinquei, disfarçando o sorriso que brotou em meus lábios, apenas por vê-los em uma clara demonstração de afeto.

— Quando você casar, vai ser assim também — comentou minha mãe.

— Ah, mãe, eu não tenho nem vinte anos, e você já está pensando em quando eu casar? — franzi o cenho.

— Eu casei com vinte e dois, e se alguém me dissesse na sua idade que eu casaria com o meu melhor amigo, eu provavelmente chamaria a pessoa de louca. — Comentou. — A vida é imprevisível, Liv. Três anos são suficientes pra bagunçar totalmente os planos de alguém.

— É, eu sei. — Bufei. — Tenho vocês dois como exemplo, que além de marido e mulher, são melhores amigos.

— Tudo começa na amizade — disse meu pai. — Tanto que sou casado com a minha melhor amiga, e não conseguiria imaginar minha vida ao lado de alguém que não fosse a sua mãe.

Ás vezes, não os enxergava minha mãe como esposa do meu pai, mas sim, como melhor amiga dele. E meu pai, não como marido da minha mãe, mas como seu melhor amigo.

[...]

𝐁𝐄𝐒𝐓 𝐅𝐑𝐈𝐄𝐍𝐃 • ꜱᴏꜰʟᴇxOnde histórias criam vida. Descubra agora